quarta-feira, 19 de abril de 2017

DOM RONALDO, O DO CHUTO NA BOLA E DO AEROPORTO. O RESTO É MAIS PROSA


Um Expresso Curto sem considerações da nossa parte. O que após decidido deste modo e antidemocraticamente já é uma consideração. Bom dia (e aqui está outra consideração). Adiante e vá ler Luísa Meireles, jornalista do burgo Balsemão. Pois.

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Luísa Meireles | Expresso

Hay que sufrir!

Disse Ronaldo aos microfones de uma rádio espanhola a que prestei atenção logo de manhã. Se calhar é uma lição de vida (e para a vida), mas a verdade é que o grande jogador português provou mais uma vez que é o maior do mundo (acho eu), que assumo que - sim - estou a falar de futebol logo no início deste Curto (quem me conhece sabe que este desporto não é a minha praia - será que estarei a perder qualidades?).

Acontece que sou fã de Ronaldo. Até consegui prestar alguma atenção ao intenso jogo (palavras do mais pequeno lá de casa) de ontem Bayern –Real Madrid e gostei mesmo de saber que “Cristiano Ronaldo se tornou o primeiro jogador a chegar aos 100 golos na Champions depois de ter feito um hat-trick (que eu não sei o que é) no polémico triunfo do Real Madrid por 4-2 após prolongamento”. Ganhou, é o maior e chega-me. Soberbo, fantástico, o rei, Mr. Champion, whatever, chamem-lhe o que quiserem. Que viva Ronaldo! (em registo mais poético, é isto).

Mas não perdi o tento de todo. Há hoje um país a que devemos prestar atenção: Venezuela, que está à beira do abismo da convulsão. Hoje é o aniversário da Revolução de 19 de abril de 1810, que marcou o início da luta venezuelana pela independência de Espanha, e os venezuelanos vão sair à rua, como de costume neste dia. Dada a situação que se vive, espera-se novo embate: a oposição já prometeu para Caracas “a mãe de todas as manifestações”, enquanto o Governo apela à “defesa da soberania”. Caracas é uma cidade militarizada, depois de o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ter ordenado às Forças Armadas Bolivarianas (FAB) que se dispersem por todo o país, antecipando os protestos convocado pela oposição, que deverá ocorrer na quarta-feira nos 24 estados. É um alarme geral, mas este artigo do Público que acabo de lhe recomendar explica tudo tim-tim-por-tim-tim.

Já há alertas para a possível repressãoA UE também se manifestou. A representante da comunidade portuguesa diz que "a tropa não é para prevenir mas sim para reprimir". Casa onde não há pão - o FMI prevê que este ano o PIB do país retroceda mais 7,4% - todos ralham, mas alguém tem razão! Não se esqueça que os portugueses que vivem na Venezuela (400 mil, 1,3 milhões de luso-descendentes) são mais do que os que vivem na Madeira (267 mil), de onde por sinal são a maioria dos provenientes. Por isso, ouç, veja, leia as notícias.

E ainda há um outro acontecimento para o que quero chamar desde logo a atenção: Brexit. Há mudanças que se avizinham a galope. Não porque haja movimentos telúricos que se prevejam para hoje (enfim, nunca se sabe, longe vá o agouro), mas porque cada dia que passa nos aproxima mais de um tempo irremediável de mudança em que, quer queiramos quer não, seremos envolvidos.

Explico: a novidade foi avançada ontem pela primeira-ministra britânica Theresa May: o Reino Unido vai às urnas a 8 de junho, antecipando assim eleições que devem garantir à primeira-ministra mais margem de manobra para jogar o Brexit à vontade, num momento em que o Labour patina nas sondagens. É o chamado dois em um: “Precisamos de eleições gerais e precisamos delas agora”, she said. Mas hoje é que se concretiza: a Câmara dos Comuns vota a proposta das eleições esta quarta-feira (a primeira-ministra precisa do apoio do parlamento para realizar uma votação antes de 2020).

Como já sabe da notícia, deixo-lhe aqui várias degustações: a do Ricardo Costa (Theresa May 2021), a do ex-ministro e embaixador Martins da Cruz (Theresa May quer ganhar legitimidade democrática) e, lá fora, de Patrick Winter, editor diplomático do The Guardian (A verdadeira razão para May convocar eleições? Para mostrar à UE que Brexit significa mesmo Brexit).

Também pode escolher uma coisa mais esmiuçada, no Politico.eu (prevê que os conservadores possam obter mais 100 deputados que os trabalhistas, ficando com o dobro destes). Meste mesmo jornal on-line, Tom McTague e Charlie Cooper explicam em sete pontos o que significa a convocatória destas eleições e como Theresa May corre o risco de ser considerada uma oportunista: veja este vídeo para perceber a razão. Tornou-se viral no Reino Unido (“Oh, for God’s sake!”). Quem também não gostou foi a primeira-ministra da Escócia. Adivinhe porquê.

OUTRAS NOTÍCIAS, MAS POR CÁ

De alarme. O país já andava inquieto com a epidemia de sarampo, ficámos mais tristes agora e a torcer pela jovem que está em risco de vida. Se quer saber tudo sobre a doença e ainda não sabe, informe-se aqui e siga a polémica da vacinação, desta feita com uma entrevista a António Sarmento, professor da Universidade do Porto, que pensa que é pouco provável virmos a ter uma epidemia de grandes dimensões. A hepatite A também não está a dar descanso: subiram para 199 os casos registados.

Não é nada bonito o que se soube ontem à tardinha: que 13 funcionários do Fisco foram acusados de corrupção (entre outros crimes). Está aqui a notícia. São 45 arguidos ao todo. Quando a polícia rouba, chame o ladrão, já cantava Chico Buarque. E quando é o Fisco? Marcelo já promulgou a lei que obriga o Fisco a divulgar estatísticas de transferências. By the way, o Governo aperta vigilância a negócios de políticos.

Hoje é dia de plenário no Parlamento, no caso de PE e PNR, quer dizer Programa de Estabilidade e Plano Nacional de Reformas. Vai ser debatido na Assembleia e já estão garantidos dois projetos de resolução do CDS. Nem Governo nem parceiros querem votá-los, razão pelas quais as iniciativas do CDS estão votadas ao fracasso. Já se sabe que Passos e Cristas seguem estrégias diferentes.

O PR já garantiu que não haverá instabilidade e que os dois programas seguirão para Bruxelas. Coisa que a Helena Pereira aqui no Expresso desenvolve porque “os números foram desenhados para agradar a Bruxelas”. Se quer saber tudo por si veja os originais que o portal do Governo publica. Já se sabe que o mais difícil de um programa de estabilidade é cumpri-lo, razão por que lhe recomendo este artigo. E também este (só para assinantes, desculpe): "Negociações do OE 2018 têm buraco de 1,2 mil milhões à partida", é o que diz o Negócios, para quem "A esquerda deixa passar o Programa de Estabilidade de olho no orçamento de 2018".

Quem não se esperava que concordasse com os parceiros de esquerda era Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas: “Descongelamento das carreiras da função pública é absolutamente necessário”, afirmou sobre o Programa de Estabilidade. Considerou-o prudente e António Vitorino, ontem, na SIC, também. Quanto a João Paulo Correia, vice-presidente da bancada do PS, garante que "Portugal tem a derradeira oportunidade para provar que cumpre as metas orçamentais".

Boa notícia é a que nos chega do setor do calçado, onde um acordo acaba com a discriminação salarial em função do género. Ou não? Leia para perceber porque ficámos com dúvidas , apesar do primeiro-ministro considerar o acordo como “histórico”.

Não resisto a uma brincadeira: o que é que há de comum nestas notícias? Ou: qual destas notícias prefere? Abra a que goste mais e descubra qual é o seu jornal preferido. Os títulos são: “Para o FMI aceleração da economia portuguesa é apenas passageira”“FMI mais otimista, afinal economia portuguesa acelera este ano” ; “FMI: economia portuguesa vai abrandar em 2018” ; “FMI revê crescimento português em alta para 1,7% este ano”“FMI melhora estimativas para Portugal mas continua a prever défices até 2022”“FMI melhora projeção de crescimento par Portugal”“FMI prevê desaceleração da economia portuguesa para 2018”. Já percebeu não foi? A notícia é a mesma, os olhares propostos é que são distintos. Jornalismo também é isto.

Anote, se é católico e está atento às notícias do centenário das aparições (ou visões) de Fátima. Um capote alentejano típico, com aplicações de bordado em ponto de Arraiolos, vai ser entregue ao papa Francisco hoje mesmo por duas empresárias, na audiência geral aos fiéis que se realiza na Praça de São Pedro.

E LÁ FORA

Em Espanha, também hoje há promessa de mudança: termina o prazo para apresentação das pré-candidaturas à liderança do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), no processo de escolha de um novo secretário-geral. Há vários candidatos, entre eles o defenestrado líder Pedro Sánchez, que “abriu as hostilidades” contra a outra candidata Susana Díaz, “la poderosa” da Andaluzia, a quem acusa de “desnaturar o partido” (desdibujar, que palavra engraçada) para permitir que o PP governe. O PSOE não anda bem. A propósito, ou talvez não, o chefe de Governo Mariano Rajoy foi chamado a testemunhar num dos maiores casos de corrupção, o processo Gurtel, que envolve muitos membros do seu partido.

Só não se esperam mais más novidades em França, cujo primeiro Dia D é já no domingo. Sem mais nenhum debate presidencial no horizonte, os candidatos em presença afinam e reafirmam posições, enquanto se soube que, ontem, foram detidos dois suspeitos de prepararem um atentado que o procurador de Paris considerou dever ser “violento” e “estar iminente”. No domingo, já tinha havido um atentado à sede do FMI, no caso. Marine Le Pen, François Fillon e Emmanuel Macron são os candidatos vistos como de alto risco. Se não é fluente em francês, prefere o inglês e quer saber as cinco questões-chave que estão em jogo nestes dias finais de campanha, leia aqui. As sondagen dão Macron e Le Pen virtualmente empatados, mas nunca fiando. Não seria de espantar que Marine surpreendesse com ums core inesperado.

Jean-Luc Mélenchon, o candidato da extrema-esquerda, que também é apoiado pelos comunistas, já disse que não é favorável a uma geringonça “à la française” e também diz que não quer sair da Europa nem do euro (coisa dos seus detratores). Ele é o candidato preferido dos jovens, dizem as sondagens. Mélenchon é eficaz: de cada vez que fala num comício, ele é projetado em holograma em outras cidades. Quanto a Marine Le Pen, o editorial do Le Monde acusa-a de passar uma “linha vermelha de ordem moral” ao explorar os atentados (“a fronteira da indecência”, escreve). De qualquer modo, as eleições francesas prometem ser mais renhidas do que muitos pensam, concordam os dois Jaimes, Gama e Nogueira Pinto, no Observador.

Quase me esquecia do cantinho de Trump. Há uma semana a notícia era: Porta-aviões dos EUA aumenta tensão com a Coreia do Norte. Ontem: Porta-aviões que a Casa Branca disse estar a caminho da Coreia ia na direção oposta. O USS Carl Vinson, afinal, estava num exercício com a marinha australiana, a mais de 5600 quilómetros do Mar do Japão. E esta, hein? O Presidente americano também destoou do coro europeu e congratulou o líder turco Erdogan pela vitória no referendo. (Putin fez o mesmo, assinale-se). A UE tinha dito isto.

FRASES

"A política é importante para saber quem está com quem", Assunção Cristas, líder do CDS-PP

"Diria que 2017 não nos cria problemas com a previsão que foi feita. A dificuldade está depois em manter", Teodora Cardoso

"Sou o aluno que veio conhecer os mestres", Marcelo Rebelo de Sousa, numa reunião com 14 intelectuais, entre eles Fernando Henrique Cardoso, ex-Presidente do Brasil, e o sociólogo francês de 91 anos, Alain Touraine

"Não queremos um divórcio litigioso", Kirsty Hayes, embaixadora do Reino Unido em Portugal

"Não é possível reescrever a História, mas África pode reiventar-se",Felwine Sarr, economista e artista senegalês, que escreveu sobre a "Afrotopia", no I, que também diz: "A crise não é apenas económica. A ordem neoliberal não deixou lugar para o ser humano".

O QUE LHE PROPONHO QUE OUÇA E LEIA

Vários artigos, nenhum deles especialmente longo. Para já, os podcast especiais que o Expresso está a publicar esta semana, até ao 25 de Abril: memórias de quem esteve na prisão. O primeiro foi o da hoje procuradora Maria José Morgado (“Encurralados: se uma pessoa está disposta a morrer, resiste a tudo”), o segundo de Manuel Alegre (“O postigo: um quadrado de onde se via o céu, o azul, o azul do lá fora, todo o azul, o azul da vida”). Hoje haverá mais.

Ainda no capítulo memórias do antigamente, a reedição do “Portugal Amordaçado”, de Mário Soares, e que o Expresso começa a distribuir esta semana. Porquê? Primeiro porque saber não ocupa lugar, se for o seu caso; segundo, porque é uma obra incontornável do “pai da democracia” (como diz o filho, João Soares, que conta como ele a escreveu); terceiro, porque foi a obra em que Soares viu o futuro, segundo o Martim Silva. Eu li-o há muito tempo. Mais convencido? A cerimónia de lançamento foi ontem.

Finalmente, sobre outro assunto e noutra língua, um tema que me parece importante: até que ponto publicar as fotos de crianças no facebook é perigoso? Tem umas ideias não feitas e conselhos úteis. É em francês – uma língua que em Portugal se está a requerer cada vez mais, sabia?

E chegámos ao fim – espera-o mais um dia desta abençoada primavera com cheio e calor de verão. De vez em quando, se puder e quiser, espreite as notícias em expresso.sapo.pt e, mais para o fim da tarde, leia os temas do dia no Expresso Diário. Espero que queira! Tenha um Bom Dia!

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