sexta-feira, 12 de maio de 2017

A PUREZA MORAL

TRÊS ARGUMENTOS MORAIS

As provas morais são assim chamadas, não por se contentarem com uma certeza aproximada, mas porque se deduzem da natureza moral do homem.
Reduzem-se a três: a prova social e histórica, que se funda na universalidade da crença em Deus; a prova psicológica, que se baseia nas aspirações da razão humana; e a prova propriamente moral deduzira da existência do dever.

I - Prova do consenso universal
É um facto: a humanidade no seu conjunto admite unanimemente a existência da divindade ; ora esta unanimidade supõe a verdade supõe a verdade do seu objecto: logo Deus existe.
1 - A primeira prova-se pela História das religiões. Com efeito, esta ciência tem feito tantos progressos que pode assentar com a verdade estas conclusões: em toda a parte encontramos a ideia de Deus sem podermos verificar como ela se formou; esta fé num Ser Supremo é o fundamento da religião dos povos primitivos.
A Escola evolucionista inglesa com Andrew Lary, a Escola etnológica católica com o P. Schmidt afirmam esta verdade. Todas as civilizações, todos os «ciclos culturais» dão testemunho deste facto. Mais recentemente, os habitantes da Terra do Fogo descobriram o seu segredo e confirmavam o que se conhecia de todos os povos africanos: Bantos, Hotentotes, Pigmeus e Australianos. Este mesmo deísmo se encontra em todas as civilizações históricas. China antiga, Assíria e Babilónia, raças Smíticas, Fenícias, Egipcíacas e Indo-Europeias. Os congressos de Etnologia e de História das religiões recolhem cada ano factos novos e comprovativos. Se das massas passarmos ao escol intelectual, veremos, como afirma Elias de Cyon que todos os inventores das ciências positivistas adoravam Deus. Um estudo feito sobre o século XIX época em que mais dominou a incredulidade entre as pessoas ilustradas, conclui: «para nos referirmos só aos grandes iniciadores da ciência, 4% eram ateus e 96% crentes (A. Eymieu, La part des croyants dans les progrès de la science).
2 - Quanto à menor do argumento, devemos confessar que a constância e a perpetuidade de um testemunho de si não provam directamente a verdade da coisa atestada, mas somente a permanência na natureza humana de uma razão de crer nessa coisa. Procuremos, pois, essa razão a fim de lhe conhecermos o valor. Ora nós sustentamos que nenhuma das teorias modernas dá razão cabal do facto. Passemos em silêncio, por serem pouco científicas, as que recorrem ao engano e ao equívoco. As teorias evolucionistas julgam ver no facto religioso uma actividade ascensional e progressiva, que procede de formas vagas e primitivas. Mas as hipóteses que se fazem opõem-se às próprias teorias. Supõem que o culto religioso é evolução da magia: ora, a magia supõe já um culto religioso; - o totemismo, o respeito dos tabos, supondo que eram primitivos e universais, exigem previamente o sentimento de dependência essencial, que serve de ponto de partida a todas as provas morais; finalmente, o animismo e o pré-animismo só fazem sentido enquanto revelam o sentimento profundo que o homem sempre teve da sua impotência, e o seu instinto de procurar a razão última das coisas.
Este é o verdadeiro valor do argumento tirado do consentimento universal; mostra-nos a alma humana eternamente e braços com os mesmos enigmas, o coração humano que procura compreender este dever que lhe é imposto e ao qual se não pode subtrair, o espírito humano que deseja apreender o que se encobre com as aparências, isto é, a última razão das coisas; deste modo chegamos às provas baseadas na contingência, na finalidade e na moralidade.
II - Argumento das aspirações da alma humana
Como já observamos ao demonstrar a imortalidade da alma, é facto constante a tendência do homem para o infinito com todas as forças da sua alma.
Ora, esta aspiração irresistível para um bem sem limites, exige uma razão suficiente que explique a sua existência. Este desejo profundo da nossa natureza, este amor de si, que é amor do Ser, e que nos é tão íntimo como nós mesmos, não é coisa vã. Como todos os outros dados reais, está submetido aos princípios de razão suficiente e de finalidade e por eles deve ser explicado.
A presença destas aspirações infinitas em nós, unida aos princípios de razão suficiente e de finalidade, vem reduzir-se, como a prova precedente, nos argumentos fundados na contingência e na finalidade. Notemos além disso, que esta é a raiz pela qual se fixam mais facilmente na alma humana os argumentos tradicionais; é o que dá a esta prova o cunho de originalidade e o valor que possui.
III - Prova tirada da lei moral
1 - A obrigação moral é um facto. Resume-se em que eu não sou moralmente livre para cumprir ou não certo acto; e que, cumprindo-o, vou contra a minha natureza de ser racional, à qual não posso renunciar sem ao mesmo tempo renegar aquilo a que a minha natureza tende necessariamente como a seu fim. Assim o bem moral, a ordem moral impõe-se-nos primeiramente dum modo necessário; só depois se apresenta a razão a comprovar o facto e a sancioná-lo.
2 - Com efeito, no acto fundamental pelo qual o «eu» toma consciência de si próprio, apreende-se a si mesmo como orientado, necessariamente e por sua natureza, para o seu aperfeiçoamento moral.
3 - Apreendemo-nos, pois, a nós mesmos como submetidos a uma lei moral, que nos é imposta pela nossa vontade profunda e que nós não podemos abolir ou mudar. É um novo aspecto da nossa contingência; mas como se vê facilmente, esta contingência é de ordem moral; é dependência, heteronomia radical que não se pode explicar senão pela existência e influência duma vontade pessoal absoluta, legisladora moral, e simultâneamente causa primeira. O princípio de razão suficiente, que na ordem ontológica nos permite ascender do ser contingente ao ser necessário, obriga-nos aqui a remontar-nos da vontade essencialmente dependente à vontade absolutamente autónoma.
4 - Este argumento, fundado no dever, é, com o argumento das causas finais, o que mais vivamente impressionou Kant, como ele mesmo declarou, apesar de não lhe ter dado o seu verdadeiro valor.
O céu estrelado por cima de nossas cabeças, alei moral centro de nós, mesmos são dois objectivos que enchem a alma de admiração e respeito sempre renascentes.

(artigo em construção)

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