Em todo o mundo, 330 milhões de pessoas fazem anualmente 600 milhões de viagens movidas pela fé. Seja ela qual for. Para a Organização Mundial do Turismo, este é um dos segmentos mais promissores do setor.
Mesmo para quem está habituado a lidar com as enchentes de 13 de maio em Fátima, a celebração do Centenário das Aparições e a vinda do Papa Francisco acrescentam responsabilidade. Estima-se que os habituais seis milhões de turistas anuais na cidade possam chegar aos oito milhões este ano. E as contas não ficam fechadas sem frisar que só os seis milhões equivalem a aproximadamente 2% do total mundial do universo de turismo espiritual, a designação utilizadas pela Organização Mundial do Turismo (OMT). Assim, também Portugal vem confirmar a tendência mundial de crescimento neste segmento. No país, o turismo religioso é um nicho de mercado claramente liderado por Fátima. A cidade-santuário há muito que conquistou católicos e não só: portugueses e estrangeiros oriundos dos mais longínquos pontos do planeta são visitantes habituais.
Em 2016, em Portugal, o setor do turismo atingiu números recorde, e o turismo religioso acompanhou esta tendência. Segundo a secretaria de Estado do Turismo, a atividade turística alargou-se em meses menos tradicionais (dois terços do crescimento registou-se na “época baixa”). O emprego aumentou 14,2%, todas as regiões cresceram, evidenciando-se os Açores (+21%), Porto e Norte (+13%) e o Alentejo (+11%), e tudo isto num mercado interno que progrediu 5%, levando a que setor tenha representado 16,7% do total das exportações nacionais de bens e serviços. Em paralelo, Portugal também viu aumentar significativamente o número de prémios internacionais (491, que comparam com 157 alcançados em 2015) e conseguiu diversificar os mercados emissores, destacando-se os mercados americano, polaco e brasileiro. Três mercados que, curiosamente ou não, ocupam lugares de destaque quando analisamos as diferentes nacionalidades de quem pernoita em Fátima.
Segundo dados compilados pelo Santuário de Fátima sobre as peregrinações estrangeiras, referentes a 2016, e ainda que seja evidente uma maior diversificação geográfica, a liderança continua a pertencer a Espanha. Espanhóis, italianos e polacos são os estrangeiros que, ano após ano, mais peregrinam a Fátima.
Turismo religioso: produto estratégico
Quanto a surpresas nesta lista, o fluxo de peregrinos vindos da Coreia do Sul está a concentrar todas atenções: só em 2016, terão visitado Fátima cerca de quatro mil peregrinos sul-coreanos. Contudo, também são de assinalar as presenças de um grupo muito expressivo de peregrinos indianos (2754) e ucranianos (6719). O Top 10 dos países emissores completa-se com França, Polónia, Brasil, EUA, Alemanha, Irlanda e Reino Unido.
Para Domingos Neves, presidente da ACISO – Associação Empresarial de Ourém-Fátima, este é precisamente o momento de “reforçar o conceito de turismo religioso não só como produto estratégico nacional, mas como ferramenta importante para enfrentar a sazonalidade nacional”.
Os números são positivos e indicadores de uma consolidação que se avizinha. Apesar de ainda não se encontrarem fechados, os dados da ACISO sobre a procura turística em Fátima apontam para uma melhoria em termos homólogos. No que diz respeito a dormidas, em 2015 foram 727 mil e, em 2016, as estimativas apontam para um aumento, devendo situar-se nas 800 mil. Este ano, Domingos Neves mostra-se convicto de que atingiram o marco histórico de um milhão de dormidas. As expectativas positivas para este ano estendem-se ainda à taxa média anual de crescimento nos preços, que deverá ser na ordem dos 15 %, assim como à taxa média anual de crescimento na ocupação, que deverá aumentar cerca de 20%.
“Saco-cama a 1000 euros”
Quando questionado sobre os preços exorbitantes que estarão a ser praticados pela hotelaria local, e a incontornável notícia de que uma casa de hóspedes propunha uma noite para dois adultos, em saco-cama, por 992 euros, Domingos Neves garante que há apenas uma “natural” subida de preços, mas que não passará os limites da razoabilidade. Em seu entender, este caso ou outros do género são apenas “fenómenos residuais e absurdos”, que não representam a hotelaria da cidade.
Fonte: Jornal Económico
Imagem: SIC
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