sexta-feira, 12 de maio de 2017

O QUE LÊEM OS NOSSOS JOVENS

Por o adolescente já não ser criança e ainda não ser adulto, acha-se incompreendido.
A criança encanta-se com o maravilhoso. Coloca-se a si própria no centro do mundo que constrói, ampliando-o, pouco a pouco, com descobertas que faz, de olhos espantados.
O adolescente debruça-se sobre si próprio. O estado intermédio entre estas duas fases da vida - a infância e da idade adulta - a ideia de não ser compreendido, leva-o à contemplação do seu íntimo. Despediu-se de um mundo encantador e simples para tomar contacto com outro cheio de complicações.
Experimenta modificações físicas que o perturbam, que o tornam acautelado, desconfiado do seu próprio eu. É na adolescência que se registam suicídios, crimes e deformações morais em grande número.
Certamente, o adolescente que traz da sua infância uma boa formação, encontra muito menos dificuldade de adaptação nesta nova fase da sua vida. Por isso, nunca é de mais lembrar que a infância pode ser decisiva no desenvolvimento dum indivíduo. Impressões desagradáveis e fortes, gravadas na memória da criança, complicam as dúvidas do adolescente. A literatura infantil, como temos naturalmente verificado, tem um grande papel na orientação da criança, que se projecta para além da infância.
Uma das características mais pronunciadas do adolescente é o "andar à procura". Procurar coisas novas, revoltando-se contra as que existem. Procurar um ideal e um ídolo. O conhecimento destas características foi largamente aproveitado pelo regime nazista na Alemanha que introduziu nos espíritos dos jovens ideias falsas e místicas sobre o mundo e os ídolos.
O adolescente não se engana quando se considera um incompreendido. São raros os pais e os professores que se preocupam com o seu estado de espírito extremamente delicado. Quase sempre se arreliam com estes revoltados e insatisfeitos. Procuram dominá-los e castigá-los recalcando, deste modo, o que é natural. Assim, poucos ajudam o adolescente que nem na literatura encontra o que procura.
Qual a literatura de que necessitamos para os nossos adolescentes?
Evidentemente, aquela que vai ao encontro de todas as suas dúvidas e dos seus desejos. O facto de ele procurar um ideal e um ídolo não deve levar-nos à criação de mundos falsos e à mistificação de personagens. A consequência deste erro é a desilusão completa sobre os ídolos completa sobre os ídolos impostos que, mais cedo ou mais tarde, tem de surgir.
Para satisfazer o seu desejo de admirar temos muitos exemplos na história da Humanidade. Biografias de cientistas, artistas, técnicos, etc... que falam da suas lutas, da sua fé e persistência; descrição da vida dos anónimos que, silenciosamente, ajudam no progresso do mundo, sem que, por isso, o seu auxilio seja menos valioso, como enfermeiros, operários e tantos mais.
É necessário que, desde cedo, se saiba o que se passa em casa, fora de casa e longe de casa. As nossas crianças e os nossos adolescentes, ao erguerem o olhar, vêem o avião a passar e sabem que ele os pode levar em duas horas a Paris e em sete à América. Seria absurdo não fazermos tudo para que se abram as janelas que dão para o exterior.
As crianças, os adolescentes precisam não só de todo o nosso carinho e simpatia, mas também de toda a nossa inteligência e do nosso esforço paciente e sério para uma compreensão dos graus da sua evolução e dos seus problemas.
Se destruirmos o mundo infantil, a criança substituirá, sem o saber, o seu mundo por um outro, precoce, perigoso e torcido. Poderíamos chamar a este processo de substituição dos mundos íntimos da criança "o atrofiar da alma infantil".

Joaquim Carlos

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