sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Associação Denuncia “Esquema” de “Financiamento dos Bombeiros” Com Verbas “Desviadas da Alimentação”

Rui Silva, presidente da Associação Nacional dos Bombeiros Voluntários (ANBV), diz que existe “um esquema de financiamento dos bombeiros [feito] à custa do desvio de verbas da alimentação para os operacionais”, que “é do conhecimento de todos”. Muitas vezes, explica, “os bombeiros são alimentados com a comida dada por voluntários” e, “depois, são apresentadas facturas à Autoridade Nacional de Protecção Civil [ANPC] como sendo de refeições pagas”.

Este bombeiro há mais de 30 anos diz já ter dado conhecimento “desta tramóia” ao anterior Governo, à actual ministra da Administração Interna, ao secretário de Estado da Administração Interna e aos comandos da ANPC, afirmando que “ninguém faz nada porque o sistema é muito poderoso”. E o “sistema” é, segundo ele, “todos os que beneficiam com isto e nada dizem”.
Para o presidente da ANBV, a “grande responsável por tudo isto é a Autoridade Nacional de Protecção Civil a nível regional e nacional porque paga tudo o que lhe chega sem nada fiscalizar”. “A ANPC fomenta o oportunismo. Paga, muitas vezes, a entidades não credenciadas para fazer refeições, mas, como há uma total ausência de fiscalização, não quer saber o que paga e a quem paga.”
Rui Silva, actualmente ao serviço da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde, diz que o dinheiro “desviado das refeições não vai para o bolso das chefias” dos bombeiros, sendo utilizado antes para “outros fins, como a compra do equipamento que as associações precisam ou em outras necessidades nos quartéis”.
Professor numa escola profissional na Maia, Rui Silva recusa falar em esquema fraudulento, ou em facturas falsas. “A situação existe e é do conhecimento de todos há muitos anos, portanto não posso falar em fraude e as facturas, se existem e são pagas, devem ser verdadeiras. São facturas da treta, contas de merceeiro”, afirma

Rui Silva diz também que “não são só os gastos com a alimentação que não são fiscalizados” pela ANPC. “Ninguém fiscaliza se o número de bombeiros voluntários, declarados pelos comandos à autoridade nacional, que andam a combater as chamas no terreno pagos a 1,87 euros à hora, são os reais, se os equipamentos que são dados como perdidos são reais. Ninguém fiscaliza nada.”

“O que eu digo é o seguinte: os bombeiros não podem ser financiados por estas aldrabices que, repito, são do conhecimento de todos. Se não há dinheiro para equipar os bombeiros, arranje-se. Acabe-se de vez com estas falcatruas”, salienta.
Sobre as denúncias de má alimentação distribuída a alguns bombeiros, que está a ser alvo de inquérito ordenado pelo Ministério da Administração Interna (MAI) à ANPC, o presidente da APBV diz que “essas situações são reais”.

“Bombeiros mal alimentados já existem há vários anos, só que dantes era uma excepção. Agora a excepção está a repetir-se muitas vezes. Não posso aceitar que os bombeiros sejam financiados à custa do dinheiro da sua alimentação.”


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