D. António Francisco dos Santos tinha 69 anos e sofreu ataque cardíaco na manhã desta segunda-feira. Corpo estará em câmara ardente a partir das 17h00 na Catedral do Porto e o funeral será às 15h00 de quarta-feira.
O bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, morreu nesta segunda-feira aos 69 anos, avançou a agência Ecclesia. Fonte oficial da diocese do Porto adiantou à Lusa que o bispo morreu às 9h30, após sofrer um ataque cardíaco. O corpo estará em câmara ardente a partir das 17h00 e a Câmara do Porto já decretou três dias de luto para assinalar a morte de um homem "a quem ninguém ficava indiferente", como resumem os que lhe eram próximos.
O padre Américo Aguiar, que lidera a Irmandade dos Clérigos, confirmou ao PÚBLICO que D. António estava no Paço Episcopal quando, na manhã desta segunda-feira, morreu de problemas cardíacos. O INEM ainda esteve no local, mas já não foi possível salvar o bispo do Porto. “O Porto vive este assalto pela segunda vez. Em 2007, foi com D. Armindo [Lopes Coelho, que sofreu uma hemorragia cerebral enquanto era bispo da cidade] e em 2017 com D. António”, disse o padre Américo Aguiar, que, numa curta declaração sobre o que foram os três anos de bispado de D. António Francisco, afirma: “Concluo que em relação ao Porto, a bondade faz mal à saúde. A bondade era a palavra que o definia e só posso dizer que a bondade faz mal à saúde”.
Para o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, o seu sucessor no cargo de bispo do Porto "foi uma belíssima imagem do que é Cristo Bom Pastor que continua presente na Igreja e na sociedade em geral". Citado pela agência Ecclesia, o cardeal-partriarca recorda o falecido bispo como "alguém que viveu sempre com muita sabedoria, sempre com muita proximidade de toda a gente, um enorme coração".
O padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), ainda está a recuperar da surpresa da notícia da morte de D. António, com quem estivera, no sábado, em Fátima, onde o bispo do Porto presidira à peregrinação diocesana. “Ele estava muito feliz, com muitos milhares de pessoas, foi um grande momento. Estava bem, sereno, feliz. Nada faria prever isto”, disse o padre.
Lino Maia recorda que, há cerca de dois anos, o bispo passou por um momento mais difícil, numa altura em que andava “bastante preocupado e muito triste” com situações relacionadas com a vida da diocese, nomeadamente, por causa do mediático caso de substituição do padre de Canelas, em Vila Nova de Gaia. Mas, nos últimos tempos, afirma, o bispo “andava muito bem”. “Era um homem muito próximo, muito atento, muito preocupado com todas as situações da diocese e andava muito feliz”, refere o padre.
O presidente da CNIS deixa o que foram para ele as principais marcas do prelado no Porto: “A proximidade, a solicitude e um grande espírito eclesial. Era sempre o primeiro a aparecer em qualquer situação e encontrava sempre soluções. A Igreja para ele era uma comunidade de todos e não apenas de alguns. Vai ser difícil substituí-lo”.
Proximidade é também a característica mais destacada pelo padre Agostinho Jardim Moreira, pároco do centro histórico do Porto e presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, para se referir a D. António. "Ele falava com as pessoas, ouvia-as, era muito próximo. E isto era muito notado e assumido como uma característica de proximidade, fraternidade e simplicidade, contraposta a um poder mais distante. Era de facto uma marca dele", diz.
O padre Jardim Moreira também esteve em Fátima no sábado, onde se recorda de ter visto o bispo do Porto "radiante, cheio de entusiasmo e com planos de futuro". Agora, diz, a diocese fica "numa situação bastante preocupante", pois está "em suspenso", perante esta morte inesperada. "Ninguém estava a ponderar uma substituição e agora estamos em suspenso, até que o espírito santo nos envie um outro bispo para agradar ao povo e conduzi-lo". O clérigo deixa, por isso, "um apelo de unidade a toda a Igreja do Porto com sofre neste momento". "Resta-nos agradecer o bispo que tivemos", conclui.
Alguém que "unia pontas"
Nascido a 29 de Agosto de 1948, na freguesia de Tendais, concelho de Cinfães, licenciou-se em Filosofia, em 1977. Os anos seguintes, passou-os em Paris, onde se diplomou em Sociologia Religiosa. Antes disso, em 1972, tinha sido ordenado sacerdote. Voltou a Paris onde foi responsável pastoral por uma comunidade de emigrantes, na paróquia de S. João Baptista de Neuilly-Sur-Reine.
De regresso a Portugal, foi professor no seminário de Lamego e, entre 1992 e 1998, chegou a ser chefe de redacção do jornal diocesano Voz de Lamego. Em Dezembro de 2004, foi nomeado bispo auxiliar de Braga pelo papa João Paulo II, de onde transitou para Aveiro, para se fazer bispo, pela mão de Bento XVI. Durante os oitos anos que permaneceu em Aveiro, D. António Francisco dos Santos deixou raízes fortes ou, como ele próprio descreveu, encontrou "barcos e remos à sua medida".
Aliás, na véspera da sua nomeação como bispo do Porto, quatro párocos de Aveiro estavam em Lisboa, junto do núncio Rino Passigato, a tentar evitar a sua saída. "Ele fez um grande trabalho em Aveiro", recorda agora ao PÚBLICO um desses padres, João Gonçalves: "Conseguiu unir as pontas todas. Preocupou-se desde o princípio com o sentido renovador da diocese, mantendo-a de portas abertas e realmente atenta aos mais frágeis".
Enquanto bispo de Aveiro, juntava-se aos sem-abrigo nas vésperas de Natal e aos universitários no dia seguinte. Foi dele a ideia de importar do Brasil a Cristoteca, iniciativa com que assinalou os 75 anos da diocese e que aproveitou como pretexto para se misturar com os jovens, entre DJ's, música, máquinas de fumo e bebidas alcoólicas. "Quando estava com alguém, fosse quem fosse, parava-lhe o relógio, dava às pessoas todo o tempo de que elas precisavam", recua ainda o padre João Gonçalves.
Em Aveiro como no Porto, D. António Francisco dos Santos passeava-se na rua, entrava nos cafés, cumprimentava todos. "Era inexcedível na relação com os outros, na simpatia, no sorriso. Ninguém lhe era indiferente e ele não era indiferente a ninguém", continua, para resumir: "Era um homem bom. De um coração extraordinário".
Assumiu a liderança da diocese do Porto no dia 5 de Abril de 2014, alertando que "os pobres não podem esperar". Na Conferência Episcopal Portuguesa ocupava o cargo de presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana e era vogal da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé.
As exéquias fúnebres foram marcadas para quarta-feira, dia 13, às 15h00 na catedral do Porto. Até lá, e já a partir das 17h00 desta segunda-feira, o corpo de D. António Francisco dos Santos estará em câmara ardente. E, num comunicado enviado às redacções, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, anunciou que decretava três dias de luto. Para o autarca, a morte de D. António é “uma enorme tristeza e uma perda terrível para toda a cidade e toda a enorme diocese”. Rui Moreira descreve o bispo como "um homem de tolerância” e que mantinha com as pessoas “uma relação de enorme afectividade”. “Estava a desenvolver um trabalho extraordinário junto dos mais necessitados”, refere na declaração escrita o presidente da Câmara do Porto, garantindo que D. António vai “fazer muita falta”. “A cidade merecia ter um bispo como Sr. D. António Francisco. Ele esteve cá muito pouco tempo, mas deixa uma obra notável”, conclui Rui Moreira.
De acordo com a Lusa, Rui Moreira cancelou todas as iniciativas de campanha até à tarde de quinta-feira, mantendo apenas a presença no debate de quarta-feira na RTP. Também Manuel Pizarro, candidato socialista à presidência da Câmara do Porto, nas eleições autárquicas de 1 de Outubro próximo, anunciou o cancelamento de todas as iniciativas de campanha para os próximos dois dias, classificando a notícia da morte de D. António como “brutal e inesperada”. “Aprendi a admirá-lo pela sua permanente e empenhada preocupação com os mais fracos. É uma perda enorme para a Igreja, para o Porto e para o país”, refere o socialista em comunicado. Pizarro descreve D. António Francisco dos Santos como “uma figura incontornável da luta contra as desigualdades, um homem que, também por isso, deixa marcas profundas na sociedade portuguesa”. com Lusa
Fonte: Público
Comentário: é preciso deixarmos de pertencer ao mundo dos vivos para descobrirem que afinal possuíamos mais qualidades. Que ingratidão|
J. Carlos
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