Bom, o pensamento de que existe uma força chamada ciência por trás do nosso livre-arbítrio pode parecer um pouco contraditório, talvez até um pouco paradoxal, mas se você acompanhar esse raciocínio comigo, verá que tem algo de verdade aí.
Conforme a ciência vai avançando, ela mergulha cada vez mais fundo em questões que geralmente eram abordadas pela filosofia e/ou religião. O livre-arbítrio é uma dessas questões.
Nós, como seres humanos, gostamos muito da existência dessa força, dessa “ideia de liberdade”. Mas será que nós somos completamente autônomos, como pensamos ser?
Livre-arbítrio é uma escolha ou uma ilusão?
Infelizmente, ainda não podemos responder esse questionamento, porque ainda não há uma resposta absoluta. O que podemos fazer é pensar a respeito. Por exemplo: a natureza da consciência humana, o funcionamento interno do cérebro e as influências externas imensuráveis que todo ser humano recebe, todos estes fatores contribuem para a certeza de que o livre-arbítrio existe, sim. Afinal, eu, você e todo mundo escolhemos, por exemplo, ligar o computador todos os dias. Escolhemos entre chocolate branco ou ao leite. Escolhemos tomar café ou não.
Mas ao mudar ligeiramente a pergunta – podemos estar sempre 100% confiantes de nosso livre arbítrio, ou escolha? -, a resposta vira “quase com certeza não”.
A ciência e a filosofia concordam que o universo é previsível e segue um conjunto determinado de regras. Cada coisa no universo que temos observado até agora segue essas diretrizes específicas, e nada está isento da influência de forças externas. Então, por que nós – os produtos do universo – estaríamos isentos de influências do ambiente?
O livre-arbítrio sugere que nós, como uma entidade, somos capazes de tomar decisões absolutamente livres de qualquer influência externa. Mas certamente forças externas desempenham algum papel na nossa tomada de decisões.
Então, no final, a escolha depende de nós ou não?
Talvez não
Acho que você pode estar virando os olhos agora, achando que isso é uma piada.
A razão pela qual a intuição nos diz que temos um livre-arbítrio é, provavelmente, porque a sua mente não consegue identificar todos os fatores que afetam sua escolha e, então, o procedimento padrão é concluir que ela veio de você.
Por exemplo: você está em uma confeitaria e lá têm duas opções de doces: bolo de chocolate e bolo de cenoura. Você tem que escolher entre um dos dois, de forma que (vamos supor) não exista a possibilidade de escolher nenhum, nem os dois. A escolha é simples: é um ou o outro. Ainda assim, devemos considerar as influências externas que estão em jogo aqui. Talvez você odeie chocolate, e nunca em sua vida tenha gostado do sabor do chocolate. Este fator é bem fora do seu controle – você não acorda um dia e decide “odeio chocolate”.
O mesmo vale para o bolo de cenoura. E se você escolher o de chocolate em vez de cenoura? Talvez seja porque ele tem uma cobertura mais apetitosa. Ou talvez tenha chovido naquele dia e o cheiro de chuva provoca – por uma razão qualquer – uma memória de chocolate. Talvez você esteja enjoado de bolo de cenoura, porque comeu bolo de cenoura de sobremesa todos os dias daquela semana até sair pelos ouvidos. Ou talvez você escolha o oposto do que você normalmente escolhe apenas para me irritar e contrariar esse artigo. Mas se você não tivesse lido isso, também não sentiria essa necessidade.
Consegue ver onde eu quero chegar?
Muitos, mas muitos fatores mesmo, entram em cena quando temos que tomar uma decisão. Até a mais simples das escolhas conta com fatores que não podemos sequer pensar em questionar, mas são muito reais.
Você diria que uma célula individual tem o livre-arbítrio? E um micróbio, teria? Ou uma árvore? E uma formiga, um cão, ou um chimpanzé – será que eles têm livre-arbítrio? Em que ponto a “complexidade” dessa ideia de liberdade para escolher surge em nós?
Para o biólogo Anthony Cashmor, acreditar que o livre-arbítrio existe é como acreditar em magia. Polêmico, não?
Evidências científicas
Em um estudo de 2008, voluntários foram convidados a escolher entre dois botões, e sua atividade cerebral poderia prever qual seria a escolha até 10 segundos antes dos participantes de fato apertá-los. Muitos veem esse estudo como uma evidência contra o livre-arbítrio, mas o filósofo Alfred Mele vê exatamente o oposto. Então eu pergunto: como podemos chegar a um consenso, se não conseguimos nem interpretar as evidências da mesma maneira?
Pois é, não podemos. Não até que algo mais sólido seja concluído a respeito desse tema.
Apresentação do Mapa de Sessões de Colheitas de Sangue a realizar no ano de 2018 no Posto Fixo da ADASCA em Aveiro
Todas
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