segunda-feira, 12 de março de 2018

Eu, Psicóloga | O que torna você tão diferente de seus irmãos?



Uma colega me contou a seguinte história: enquanto estava passeando com suas filhas de 11 e 7 anos, uma briga no banco de trás começou a rolar. As tentativas da minha colega de amenizar a situação apenas levaram a mais gritaria sobre 'quem começou' a treta. Finalmente a menina de 11 anos falou para a irmã: você começou tudo no dia em que nasceu e levou o amor da mamãe.

Essas irmãs brigam frequentemente, e pela perspectiva da mãe, parte do motivo é que elas têm pouca coisa em comum. Mas a situação delas está bem longe de ser única.

Além do fato de que irmãos são, em média, 50% similares geneticamente, são frequentemente criados na mesma casa pelos mesmos pais, vão às mesmas escolas e possuem uma série de experiências compartilhadas, eles são tão parecidos uns com outros quanto crianças que crescem em outras casas, do lado da cidade.

Então o que torna duas crianças da mesma família tão diferentes?

Como pesquisadores de relações familiares, sabemos que pelo menos uma dessas respostas vem de dados e da teoria que, em pelo menos algumas das famílias, os irmãos TENTAM ser diferentes um dos outros e buscam estabelecer uma identidade e posição únicas dentro das famílias.

Da perspectiva de uma criança, se o irmão mais velho vai bem na escola, pode ser mais fácil conseguir a atenção dos pais se tornando um atleta excelente em vez de competir com o mano pelas melhores notas. Dessa forma, até pequenas diferenças entre irmãos podem se tornar grandes com o passar do tempo.

Mas os pais também têm um papel nisso. Por exemplo, quando os pais percebem diferenças entre as crianças, as crianças podem adotar as crenças e percepções dos pais sobre elas. Isso aumenta a diferença.

Queríamos testar essas ideias e verificar o que torna irmãos diferentes. Então usamos dados sobre os primeiros e segundos filhos adolescentes de 388 famílias para examinar a diferença na performance escolar. 

Pedimos que mães e pais nos disessem se eles achavam que os filhos tinham diferenças nas habilidades acadêmicas e, se sim, quais dos filhos era o mais capaz. Também coletamos dados dos boletins das crianças.

Preferência pelo primogênito

Essa análise trouxe resultados interessantes: pais tendem a acreditar que os filhos mais velhos vão melhor na escola. Isso permanecia mesmo quando as notas dos primogênitos não eram melhores. 

Isso pode ser resultado das maiores expectativas que os pais têm em relação ao primeiro filho ou que, a qualquer período, o mais velho já está cursando matérias mais avançadas no colégio. 

Mas, no entanto, houve uma exceção nesse padrão: em famílias com irmãos mais velhos e irmãs mais novas, os pais davam às filhas notas maiores. Na verdade, nessas famílias, as irmãs realmente recebiam notas melhores do que os irmãos.

Nossas descobertas mostraram que não eram as notas em si que podiam prever as crenças dos pais nas habilidades das crianças. Na verdade, as crenças dos pais sobre as diferenças nas habilidades dos filhos previa as diferenças das notas. 

Em outras palavras, quando os pais acreditavam que um dos filhos era melhor do que o outro na escola, as notas dessa criança melhoravam com o tempo, se comparadas com a do irmão. 

Mantendo crenças

Esperávamos que as notas das crianças e as crenças de seus pais sobre a performance escolar seriam mutualmente influentes, mas descobrimos que a crença dos pais não mudava com o passar dos anos. 

Em vez disso, a diferença entre as notas das crianças mudaram e eram previstas pela crença dos pais. Dessa forma, a forma com que os pais vêem os filhos e as diferenças entre eles pode encorajar as crianças a se desenvolverem de forma diferente. 

A história que contei lá em cima, sobre o caso da menina de 11 anos, mostrou que as crianças são sensíveis sobre o seu lugar e seu valor na família e o comparam com o dos irmãos. Pais podem se esforçar para mostrar o seu amor pelas crianças, mas eles também devem estar atentos às formas diferentes com que eles tratam crianças - tendo em vista que isso pode alterar o desenvolvimento e o relacionamento dos filhos um com o outro.

De fato, pesquisas sugerem que o conflito entre irmãos surge quando as crianças tentam ser tratadas de forma diferente.

Minha colega pode estar certa quando fala que as filhas brigam por não terem nada em comum. Mas seus conflitos podem ser motivados pela percepção da filha de que as diferenças começaram no dia em que a irmã nasceu 'e levou o amor da mãe embora'. 

Este artigo foi publicado primeiramente no The Conversation. Leia o original aqui.

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