As máscaras e os trajes dos caretos, bem como os "testamentos" que serão lidos em praça pública, estão há várias semanas a ser preparados em Lazarim com grande secretismo, só sendo dados a conhecer no dia do Entrudo.
“Isto é um bocado incógnito, porque eles não se mostram muito. Querem mostrar a novidade no dia do Carnaval”, disse à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Lazarim, Adérito Vaz, quando questionado sobre quantas máscaras de madeira de amieiro vão sair este ano à rua nesta vila do concelho de Lamego.
Em 2016, foram nove os artesãos criadores de máscaras que desfilaram na terça-feira de Carnaval, aos quais se somam as mulheres que fazem os trajes (de materiais como palha, fitas coloridas ou peles) que compõem o figurino dos caretos.
Segundo Adérito Vaz, a cerca de uma semana do Carnaval, há “muita gente a trabalhar” não só nas máscaras e nos trajes, mas também nos “testamentos” que serão lidos por grupos rivais: os rapazes solteiros e as raparigas solteiras.
“Ninguém dá a cara, ninguém sabe quem faz. Isso então é que é mesmo segredo completo”, frisou, contando que na noite de segunda para terça-feira os solteiros não dormem para ficarem “toda a noite a afinar” os testamentos e os seus versos picantes.
Se nos testamentos só podem participar os solteiros, todos os que queiram podem ser caretos. No ano passado, saíram à rua 48. “Antigamente, eram só homens que saíam mascarados. Hoje, no dia de Carnaval, mais de 60% são mulheres, de todas as idades”, estimou Adérito Vaz.
Ao início da tarde de terça-feira de Carnaval, o grupo de bombos dá uma volta ao povo e os caretos vão aparecendo.
Anselmo Castro já há mais de 20 anos que cumpre a tradição de colocar uma máscara de amieiro e de se vestir a rigor para brincar ao Carnaval. Este ano, mais uma vez, “vai ser imperdível”, garantiu o careto, acrescentado que todos os anos os artesãos apresentam novidades, alimentando “rivalidades saudáveis”.
“Hoje, as pessoas têm mais cuidados com a imagem. Gostam de mostrar um bom traje, o que dá muito trabalho. Se calhar, estão um ou dois meses a fazer uma farda própria que se identifique com a máscara”, referiu.
Só Adão Almeida vai fazer sete máscaras. Mas, somando as suas às dos seus aprendizes, serão “13 ou 14″ a sair de sua casa, prometendo surpreender quem com elas se depare na rua.
“Acabaram as vindimas e logo passados uns dias fui cortar o pau”, afirmou, contando que, a partir daí, “em vez de ir ao café” quando chega do trabalho, fica em casa entretido a fazer as máscaras.
Questionado sobre as novidades deste ano, aludiu genericamente a diabos e senhorinhas, as mais típicas de Lazarim. “Os meus colegas têm os seus trabalhos e eu não sei quais são, nem eles sabem quais são os meus. Só no dia de Carnaval é que vêm para a rua. Depois há o júri, há os prémios para os caretos e cada um tenta fazer a melhor máscara para ganhar”, afirmou.
Adão Almeida já perdeu a conta ao número de diabos que saíram das suas mãos, depois de trabalhados com a ajuda de navalhas, formões, grosas e goivas. “Já fiz muitos diabos, de vários formatos: diabos com bichos, diabos sem bichos, diabos com cornos tortos, diabos com cornos direitos”, contou, realçando que os maiores chifres tinham 68 centímetros.
Para quem olha, este parece ser um trabalho muito difícil, mas o artesão tem uma certeza: “a máscara está no pau, nós é que lhe temos que tirar a madeira que está a mais. Vamos tirando a madeira, tirando, tirando, até que a máscara lá vai aparecendo”.
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