sexta-feira, 16 de junho de 2017

ARMADILHAS MORTAIS A QUE CHAMAM “TORRES”


Bom dia. Solidariedade com os que em Londres pereceram num incêndio que deflagrou devido à incompetência e desmazelo dos responsáveis que não ouviram nem leram durante cinco anos os que se lhes dirigiam a denunciar a falta de segurança naquele enorme prédio de 27 andares. São exatamente esses que devem ser incriminados, julgados e merecedores de prisão efetiva, para além das devidas indemnizações em “el contado” – o que nunca reparará a perda das vidas humanas. O que ali aconteceu foi um grande crime. A reparação possível dos prejuízos materiais e humanos deve ser exemplar, depenante das contas bancárias seja de quem for que teve a responsabilidade de laborar para aquela catástrofe por via da indiferença.

Não deixa de ser igualmente criminoso que sejam construídos prédios de imensos andares sem que exista modo de facultar aos bombeiros vários acessos, por baixo, por cima, pelo meio. Em vez disso, naquele prédio de 27 andares os bombeiros só chegavam com a água ao 13º andar. O restante era para arder e ceifar vidas de inocentes habitantes daqueles mamarrachos a que chamam torres. Se ali só com 27 andares aconteceu o que aconteceu o que não acontecerá se tiverem, pelo menos, o dobro dos andares? Porque não lhes chamam armadilhas mortais em vez de torres?

Como sempre quem se lixa é o mexilhão. Nem engenheiros, nem arquitetos, nem construtores, nem os que licenciam as construções daquele tipo sem tomarem em consideração as condições de segurança obvias e imprescindíveis vão ser beliscados, mas merecem prisão efetiva para que se acabe de vez com construções que são verdadeiras armadilhas mortais.

Entretanto a a velha carcaça da rainha e seu séquito anunciam que lamentam e depois seguem a vidinha, indiferentes. O mesmo para a atual PM e restantes políticos, ou mesmo o chamado “mayor” que é presidente do município de Londres. O tempo passará e as vítimas mortais vão aumentar. Os afetados física e psicologicamente pelo acontecido lá terão de seguir a sua penosa vida sem que a justiça seja feita convenientemente. O peso do dinheiro prevalecerá. A humanidade, os plebeus, os súbditos que se lixem!

Como já deve ter reparado este é o Expresso Curto que vem a seguir pela lavra de Miguel Cadete. Também ele abre com o fatídico tema do incêndio que podia não ter acontecido como aconteceu, devastador.

Hoje não é bom dia. Hoje é dia de perguntar aos que se consideram com estudos superiores (que são as elites) por onde anda a sua demonstração de raciocínios que preservem a humanidade em vez de concorrerem para a desprezar, empobrecer e assassinar, até com a construção de prédios que são armadilhas mortais e para as quais não existem equipamentos comprovadamente adequados de combate aos fogos.

O Curto tem muito que ver, se continuar a ler.

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

O prazo de validade do populismo terminou? Olhe que não

Miguel Cadete | Expresso

No Reino Unido há oposição a sério. Jeremy Corbyn, líder do partido trabalhista, sugeriu que os desalojados do incêndio desta semana em londres ocupassem as mansões de milionários que, em Kensington, estão desocupadas.

A primeiro-ministra Theresa May, que foi primeiramente vergastada pelo povo nas eleições, foi agora açoitada pelos deuses com um incêndio que levou a vida pelo menos a 17 pessoas. Ou seriam mais de 100 como já adiantaram algumas fontes?

Ou não seriam os Deuses os culpados de tal inclemência? Já há um inquérito aberto para saber das verdadeiras causas. E a oposição não para de gritar que as razões que levaram a tal catástrofe no centro de Londres são políticas e fruto dos cortes do governo de Theresa May.

As sondagens são claras ao mostrar uma total reviravolta na situação política britânica. A primeira sondagem após as eleições, da YouGov, mostra que a popularidade do Partido Trabalhista é positiva (6%) e superior à dos Conservadores (-21%). Theresa May, por seu lado, enfrenta tempos difíceis: a sua popularidade está pelas ruas da amargura (-34%), enquanto a de Corbyn se mantém à tona (0%). Tudo indica que estão criadas as condições para que haja novas eleições.

Nos Estados Unidos, a popularidade de Donald Trump não está melhor. O “New York Times” lança mais um ataque ao Presidente, desta vez criticando a falta de regulamentação para o uso de armas. Em editorial, e a propósito dos últimos tiroteios, num dos quais ficou gravemente ferido um senador, o lobby das armas é severamente punido.

Mais grave, porém, é a notícia do “Washington Post” de que Trump está a ser investigado por obstrução à justiça. Essa investigação terá começado dias depois de James Comey, número 1 do FBI, ter sido demitido por Donald Trump. Ontem completaram-se 10% do mandato para que o Presidente dos EUA foi eleito. É cada vez menos crível que o possa terminar.

Está neste momento a decorrer mais uma reunião do Eurogrupo e é lá que se decide muito do futuro do país. Para já, Portugal saiu formalmente do Procedimento de Défice Excessivo. Mas estão na calha novos passos: o ministro da Finanças pediu autorização para pagar dez mil milhões de euros antecipadamente ao FMI. E Schauble gostou, tendo provocadoramente assinalado que esse era o resultado de que o programa da troika tinha funcionado.

Seguem-se as novas notações das agências de rating, que poderão pelo menos, alterar a perspectiva e, mais tarde, fazer-nos sair do “lixo”. Mas é também hoje que no Eurogrupo se discute a situação da Grécia.
A Grécia que viu aprovada mais uma tranche de 8 mil milhões de euros e que pretende em breve discutir a reestruturação da sua dívida. E aí, seria a nossa vez? Olhe que não.

OUTRAS NOTÍCIAS

Rússia pode ter matado o líder do Daesh. O ministro da Defesa russo diz que Al Baghdadi pode ter sido morto num ataque aéreo em Raqqa. A informação ainda não foi confirmada.

Jerónimo Martins passa a ser a maior empresa do PSI-20. A queda da cotação das ações da EDP registada nos últimos dias, desde que António Mexia foi constituído arguido, fez com que o grupo Jerónimo Martins se tornasse na empresa com maior capitalização bolsista. Segundo o fecho de ontem, a Jerónimo Martins valia 11,174 mil milhões de euros, mais 21 milhões do que a EDP, diz o “Jornal de Negócios”.

Santa Maria da Feira, Gondomar, Braga e Lisboa já receberam visitas técnicas tendo em vista o acolhimento do festival da Eurovisão, disse Gonçalo Reis, da RTP, em entrevista publicada hoje no “Jornal de Negócios”. Mas é Lisboa, ou a Meo Arena, quem vai na frente.

A revista “Time” faz capa com a Uber e não é pelas melhores razões. Os últimos acontecimentos – em que se atropelam a morte da mãe do CEO e fundador Travis Kalanick, processos internos por assédio sexual, a saída de vários altos quadros, a abertura de vaga para COO e a licença sabática por tempo indeterminado de Kalanick – são mais que suficientes para lançar um alertas. O atual caos da start up mais valiosa do mundo pode representar o primeiro sinal de que a bolha de Silicon Valley pode estar prestes a rebentar.

A manchete do “Jornal de Notícias”, quando ainda faltam quatro meses para as eleições autárquicas avisa que fazer “propaganda no Facebook dá processo a candidatos”. A Comissão Nacional de Eleições mantém-se vigilante, fazendo notar que os posts pagos estão interditos e que as multas podem ir até 75 mil euros. O cenário é exatamente oposto ao de um texto de Simon Kuper publicado no “Financial Times” onde se explica como Donald Trump pode ter ganho a eleição presidencial nos EUA precisamente através das campanhas naquela rede social. A discriminação dos eleitores pode ser um sério atentado à liberdade. Mas esse é o negócio do Facebook e, já agora, da Google.

No “Público”, a manchete é dedicada a uma proposta do Governo que pretende “rever o estatuto dos procuradores” de maneira a punir os que atrasem processos sem razão. A proposta prevê multas, transferências compulsivas e até a expulsão do Ministério Público. Mais pressão para que seja fechada e tornada pública a acusação da Operação Marquês.

Em Espanha, o “El País” nota que PSOE, Ciudadanos e Podemos continuam sem se entender. “Rivera e Iglesias rejeitam nova proposta de pacto do PSOE”. A tentativa do líder socialista, Pedro Sanchez, para, através de uma moção de censura, deitar abaixo o governo de Rajoy, não vai ser bem sucedida. Segundo o diário de Madrid, tanto o Podemos e Ciudadanos já descartaram esta possibilidade.

FRASES

“Nos movimentos de cidadãos temos uma liberdade que nos partidos não existe”. Adelaide Teixeira, presidente da Câmara Municipal de Portalegre, no jornal “i”

“Nem a Câmara do Porto, nem o seu Gabinete de Investimento foram contactados ou convidados a contribuir com qualquer informação técnica ou outra para esta comissão ou para qualquer outra avaliação”. Comunicado de Rui Moreira sobre a Agência do Medicamento Europeu

“Sinto-me num jardim zoológico. Eles acham piada até quando venho apanhar cuecas da corda”. Moradora de Alfama ao “i”

“Ronaldo é ídolo até para nós”. Bruno Alves, jogador da Seleção de Portugal, durante a concentração para a Taça das Confederações, no “Record”

“Vou pedir para não escreverem mais e-mails para ver se somos campeões seniores”. Bruno de Carvalho, ao comentar os títulos dos escalões de formação, em “A Bola”

O QUE ANDO A LER

“Editor Contra – Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite” (2015, Montag) é, como o título deixa perceber, uma biografia de Fernando Ribeiro de Mello. Em rigor, é uma biografia de Ribeiro de Mello enquanto editor de livros. Mas também não é exatamente como todas as biografias de editores pois inclui textos do seu autor e organizador, Pedro Piedade de Marques, bem como de outros editores contemporâneos como Vítor Silva Tavares e colaboradores como Aníbal Fernandes; e ainda correspondência de Luiz Pacheco, um texto de do artista plástico Eduarda Batarda e outro de Nuno Amorim, na qualidade de ilustradores ou designers gráficos da Afrodite, uma cronologia das suas edições e, claro, prosa do próprio Fernando Ribeiro de Mello.

O volume, desenhado fora do classicismo livreiro, impresso em formato pouco ortodoxo a fugir para o quadrado, procura, na forma, piscar o olho às edições da Afrodite, que também se distinguiam por essa via, apresentando-se com uma organização próxima daquela que é própria de uma revista literária, ainda que as mais de 350 páginas lhe ofereçam índice de mão, como agora se diz, não menosprezável.

No essencial, trata de fixar a carreira de editor de uma das personalidades mais patuscas da cena livreira portuguesa, antes e depois do 25 de Abril. Ribeiro de Mello esteve na berlinda por, juntamente com Natália Correia, ter publicado a “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica” em 1965, mas também um “Kama Sutra”, traduções aparentemente más de Sacher Masoch, a primeira edição para adultos de “Alice no País das Maravilhas” ou a conhecida “Antologia do Humor Português”, que deram brado até à queda do Estado Novo.

O grande público, como então se dizia, também o ficou a conhecer pelas suas performances, divulgadas pormenorizadamente na imprensa, como a da apresentação de quatro livros com a chancela da Afrodite em sua casa, na banheira, enquanto se lavava. Corria o ano de 1971, e para o efeito tinha sido convidada a imprensa e a sociedade intelectual da época. A conferência de imprensa, com direito a perguntas (e a respostas) teve reações díspares. “A Capital” escreveria “cada um é livre de ganhar o dinheiro que muito bem entender” enquanto o “Diário de Lisboa”, por Assis Pacheco, diria que Fernando Ribeiro de Mello “sabe-a toda, e sabe que a sabe toda”. Seria perseguido, proibido e condenado em tribunal.

Fora do meio, Ribeiro de Mello tornar-se ia conhecido quando aceitou participar do júri de um concurso televisivo, onde aparecia como excêntrico não só devido às bem retorcidas guias do bigode – que lhe valiam o apodo de Dali português – como, obviamente, pelas suas blagues. Uma espécie de enfant terrible que tinha espaço de manobra antes de 1974 mas que o viu severamente restringido após o 25 de Abril. Tanto que a editora iria à falência em poucos anos. Afinal, publicar o “Mein Kempf” (sem qualquer contextualização), as “Cara Lh Amas” de E. M. de Mello e Castro e inúmeras diatribes contra o marxismo e o poder então vigente já não obtinham o mesmo resultado, ainda que o seu editor mantivesse íntegro o seu estatuto de “estar contra”. Em 1990, o próprio diria “Não existe nada que me permita editar contra” e “deixou de haver lugar para o meu antigo papel”.

E é daí, além da pertinência de alguns dos livros (onde se incluem autores maiores e ilustradores, tradutores, artistas e designers tão grandes ou maiores) que publicou, que releva toda a importância de Ribeiro de Mello, homenageado em belos textos de Silva Tavares e Aníbal Tavares, com direito a ajustes de contas. Deixou, com todas as letras, uma ideia de desejo e de liberdade, ou de desejo de liberdade, que hoje faz cada vez mais falta.

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