quinta-feira, 20 de julho de 2017

Solteiro, Desempregado, Perturbado e Iletrado: O Perfil do Incendiário Florestal

Na era da lei da rolha, a Autoridade de Proteção Civil, a única voz autorizada a falar de incêndios, anunciou esta quarta-feira ao meio dia que já foram detidos este ano 60 incendiários florestais, identificados e apanhados fora de flagrante delito pela Polícia Judiciária e GNR.

Ainda longe do fim da época alta dos incêndios, que decorre de 1 de julho a 30 de setembro, e quando estão ainda por apurar as causas da tragédia de Pedrógão Grande, o número de incendiários detidos é cinco vezes superior ao do período homólogo de 2016: este ano a PJ já deteve 37 (foram 89 detidos em todo o ano de 2016) e a GNR 23 (mais dois do que o total dos detidos no ano passado).
O último dos autores de fogo posto florestal foi detido esta quarta-feira no centro do país, suspeito de ter ateado cinco focos de incêndio no concelho de Santa Comba Dão nos dias 8,9 e 11 de julho, que consumiram terrenos povoados com mato, acácias e lenha.
Tal como a maioria dos protagonistas deste tipo de incêndios, o suspeito, de 51 anos, é de sexo masculino, solteiro e agiu, não por razões económicas, mas por motivos fúteis que indiciam uma mente transtornada. “O suspeito ateou os incêndios por gostar de ver os bombeiros a combater as chamas”, referiu esta quarta-feira a diretoria da PJ do Centro, responsável pela investigação e detenção do homem de 51, em colaboração com a GNR de Santa Comba Dão.
Padeiro de profissão, o desvio à regra é ter ocupação laboral e mais de 50 anos, quando a faixa etária mais comum aos agressores florestais é a dos 25 aos 49 anos.
Foto de António Pedro Ferreira
Embora não haja um retrato único de incendiário, um estudo coordenado por Cristina Soeiro, responsável pelo Gabinete de Psicologia e Seleção da Escola de Polícia Judiciária, aponta para um perfil-padrão dos agressores florestais: são do sexo masculino (92%), solteiros (68%), com baixos níveis de escolaridade – em 41% dos casos têm o ensino básico, 19% são analfabetos – e, na maior parte das vezes, são desempregados ou possuem ocupações laborais indiferenciadas (37%).
A amostra do criminoso florestal teve por base entrevistas e investigação de 425 arguidos detidos pela PJ entre 1995 e 2013, ano da publicação do estudo, que teve por meta a “prevenção” e “uma mais rápida identificação e sinalização” dos incendiários nas zonas de maior incidência de fogos florestais, localizadas no centro e norte do país.

MAIORIA ABANDONA O LOCAL DO CRIME

Segundo o estudo publicado em 2013, da autoria de Cristina Soeiro e Raquel Guerra, 10% dos incendiários são pastores ou mesmo bombeiros. “Na maior parte das situações, o incendiário abandona rapidamente a cena do crime, mas há casos em fica a observar de perto o deflagrar e o avanço do fogo, chegando em alguns casos a ajudar no combate às chamas”, refere a psicóloga, que ressalva, contudo, que em geral não se enquadram num contexto de piromania, uma patologia rara.
Défices cognitivos, problemas psicológicos e um historial de demência associada ao alcoolismo são outros traços comuns aos incendiários florestais, que agem quase sempre de forma muito pouco sofisticados. “Revelam formas de atuação muito pouco complexas, mesmo rudimentares, socorrendo-se quase sempre à chama direta, como fósforos ou isqueiros, o que leva a que deixem pistas e sejam detidos com alguma celeridade”, sublinha Cristina Soeiro.
Foto de Rui Duarte Silva

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