“O renascimento”
Desde Setembro de 2017, a Associação Desportiva Ala Arriba é dirigida por João Manuel Roça que, com outros abnegados mirenses, fizeram questão de não deixar o clube cair num vazio em que nunca mereceu estar.
Após ter sido seduzido por alguns pais a ajudar a criar e alavancar um novo projeto noAla Arriba (já lá estivera há alguns anos), João Roça procurou encontrar um grupo de pessoas em que pudesse sentir-se apoiado e, com eles, preparar o regresso do clube aos palcos futebolísticos regionais. Mas, para que isto um dia pudesse acontecer, era preciso começar praticamente do zero, investindo tempo e dinheiro na formação que é, grosso modo, a base de sustentação para que um clube possa ter sobrevivência desportiva, pois longe vão os tempos em que estas associações podiam pagar salários a atletas (alguns, exorbitantes)...
Contando com cerca de 75 mini-atletas, atualmente, o Presidente do clube assume a necessidade de "irmos devagarinho, sem grandes pressas nem passos maiores que as pernas", mas isso não impede de lutar pelo objetivo de conseguir que o Ala Arribatenha uma equipa de seniores a curto prazo a competir na Associação de Futebol de Coimbra, juntando jogadores da terra que estão dispersos por outros clubes da região.
Não, não é um sonho, mas sim, um objetivo concreto pelo qual todos estão a lutar no momento. Só que, antes de pensar em construir uma equipa de seniores, a diretoria teve de se concentrar numa realidade marcada por um passado recente que fez muitosestragos no clube, a ponto deste, ter fechado a porta momentaneamente.
Hoje, organizando-se paulatinamente, o Ala Arriba tem algo por onde se pegue. Começa a colocar a cabeça fora d´água e respira! João Manuel Roça, porém, não deixa cair em saco roto, alguns dos problemas que aconteceram em pouco mais de uma década, sem que tivessem acontecido soluções necessárias.
“A marca Ala Arriba tem-se degradado”
O Presidente da direção não é homem para guardar para si e para os seus, as mágoas e as cicatrizes que todo o processo referente ao Estádio Municipal tem deixado.
“De algum tempo a esta parte a “marca” Ala Arriba tem vindo a ser degradada, muito em parte, pelo lado do Município. Desde 16 de Março de 2007, dia em que foi assinado o contrato que o clube fez com a Câmara, só a primeira fase do que estava programado foi objetivamente cumprida. Desde lá estamos a espera que as demais fases sejam realizadas”, conta João Roça que nomeia como exemplo flagrante o tristemente famoso caso dos balneários do Estádio Municipal.
“As fases seguintes do contrato estão em atraso há onze anos! Desde a fase inicial que se referia ao campo de jogo propriamente dito, estava programado a construção de balneários dignos e também, a construção da sede do clube. Todos nós sabemos de que, ao concluir-se a primeira fase, as outras devia ser executadas de imediato e jamais serem proteladas como ocorre há anos!”.
Mas, não é só a Câmara a receber reparos. O próprio clube, segundo ele, também tem culpas em todo este longo e penoso processo que arrasta-se e leva, atrás de si, a moral dos apaniguados desta Associação que já muito deu ao Concelho de Mira, em se tratando de notoriedade:
“O clube também é um pouco culpado por isso ter acontecido e ainda está a acontecer. Somos todos homens e, como tal, tínhamos e temos de procurar soluções que não permitam que isto se desenrole desta forma. Se, por algum motivo, chegar a um impasse tal que não se resolva como desejamos, é preciso que se saiba que aquele era um contrato que é válido para tudo… inclusive para ser levado até a justiça!”
Mas, João Roça não acredita nem quer acreditar que as coisas caminhem neste sentido. Reconhece no edil mirense e na sua equipa, pessoas capazes de cumprir com o combinado: “As negociações com o Presidente Raul Almeida estão bem encaminhadas, o que é muito bom, pois isto é uma matéria que dá aso à uma indenização ao Ala Arriba e não pretendemos chegar a este ponto. Confiamos na palavra do sr. Presidente da Câmara Municipal”.
Mas, então, o que tem o novo projeto que diferencie das outras situações que levaram a tantos recuos no passado? “Foi feito um projeto que está na especialidade, onde está definido que o Ala Arriba terá balneários, lavandaria, rouparia e posto médico, próprios, para além de uma sala de convívio com 180 m2… é claro que gostávamos que o projeto anterior estivesse pronto e acabado, mas, a atual diretoria também sabe que não podemos ser mais papistas que o Papa e, por isso achamos razoável o projeto que está delineado desta forma. É um novo alento para a família Ala Arriba”.
Acreditar, acredita sim, o Presidente do clube não deixa de colocar parâmetros na nova ambição, no novo projeto: “Esperamos mesmo que as obras tenham início ainda antes do início da próxima época em que o Ala Arriba estará a competir, pois só cresceremos novamente com condições que aliciem os jovens. É incomparável a estrutura que o Ala Arriba tem com a do Marialvas, do Tocha ou do Febres, por exemplo… para termos “massa humana” temos de ter algo de bom para dar em troca! A situação, por cá, é de tal forma degradante que, para se ter uma ideia, até chove no balneário dos árbitros! Como é que se trabalha em condições como estas? Isto que acabo de afirmar é algo que ilustra bem o porquê de termos de dar algo mais para que os atletas da terra queiram retornar e outros possam aparecer”.
Homem de fala calma, porém bastante explícita, ele não deixa de colocar o dedo na ferida, uma vez que o seu Ala Arriba também é, muitas vezes, criticado por vozesvindas de outros cantos concelhios:“Se as pessoas pararem para pensar um pouco, sem clubismos nem rivalidades estéreis, verão que o Ala Arriba está a fazer este forcing não somente para ele, mas para todos, uma vez que o Estádio é Municipal e todos acabarão por ganhar com isto!”
O Passado, o Presente e o Futuro
Falar do clube desde o início deste século é, seguramente, causador de um certoincómodo para qualquer pessoa que tenha, minimamente, um pouco de afeição para um dos símbolos mais marcantes de Mira. Certo é, que um dia ele foi-se abaixo e, sem querer-se apontar culpas a ninguém… alguém teve de pegar nas chaves e dizer:“vamos ver o que se consegue fazer para que isto não seja o fim”. Naquela altura, o mesmo homem que está ao leme neste momento, também disse “presente” em conjunto com outras personalidades. Não foi fácil, nem podia ter sido, o caminho: “Em 2002 o Ala Arriba tinha o Campo das Pedrigueiras hipotecado em 130.000 € para contratos de jogadores e demais integrantes daquela altura… resolvemos tudo em 2004, pagando devagarinho, mas foi necessário que os credores tivessem paciência e confiassem que éramos capazes de o fazer. Infelizmente, depois da minha saída ninguém assumiu. Saí porque estava cansado e sabia que não tinha mais nada para dar naquele momento”.
Homens da velha guarda retornaram. Outros, mais jovens mas igualmente apaixonados pelo clube e dispostos a dar algo por ele, estão – agora – numa ação de reerguimento que acontece a cada dia. Todos unidos pelo mesmo ideal.
Estão, como é óbvio, satisfeito com o trabalho que está a ser desenvolvido, mas a palavra ambição está no pensamento de todos e de cada um. É com ela que eles pretendem atingir os objetivos a que se propuseram: “Não podemos nos guiar pelas duas equipas que temos atualmente. Precisamos e QUEREMOS MAIS. Temos pessoas que querem levar o clube para a frente e é isto que irá acontecer”, diz.
Mas, a ambição não pode nem deve ser confundida com a palavra presunção. Sabem onde querem chegar, mas sabem também que não conhecem tudo e não se coíbem de pedir conselhos a quem tem, na prática, conhecimentos da atualidade. João Roça e seus pares sabem bem – e, voltamos ao mesmo ponto – que há quem critique a postura do clube em todo este processo. Não ficam sem resposta: “As Associações podem falar… é um direito que lhes assiste, mas não é só falar, criticar, também é preciso ter ação e há Associações que possuem um grande mérito porque trabalham muito para chegar a algum lugar. Vou dar um exemplo: a Associação de Futebol de Coimbra tem, atualmente, uma nova plataforma para inscrição de jogadores e o Domus Nostra, através de algumas pessoas da sua organização que nos apoiaram, prontamente. Isto não é nenhum demérito da nossa parte… é, antes, uma prova de que todos podemos viver em harmonia, em conjunto, em prol de objetivos individuais, mas também de benefícios para a colectividade mirense, num todo!”.
Juntar esforços e acabar de vez com divisões que não favorecem a ninguém num Concelho tão pequeno como Mira, é um dever antes de tudo! “Vamos contatar com 2 ou 3 elementos da Praia de Mira para fazer parte da direção do Ala Arriba. Acreditamos mesmo que é salutar haver esta interligação, pois de nada adiantou haver a velha rivalidade Ala Arriba/Touring… todos viram no que deu: ambos acabaram! Podem estar certos de que estamos abertos ao diálogo com todas as Associações”
“O futuro a Deus pertence” diz o povo, mas certo mesmo é que as pessoas que estão engajadas no Associativismo e, neste caso em particular, no Ala Arriba, sabem bem que longe vão os tempos em que bastava ter amor à camisola. Vivemos dias de mudanças em todas as áreas e a indústria do futebol não é exceção: “Todos os elementos que tenho na direção possuem capacidade para fazerem os seus trabalhos, sozinhos. Todos são formados, todos sabem bem que aqui o que se pretende é formar homens, e sabem também, que não é fácil”, diz orgulhoso.“Atualmente, temos 3 treinadores licenciados e teremos mais, brevemente. Cada vez mais o amadorismo deixa de existir”
Por fim, e como nem só de bolas, sapatilhas e balizas vive o futebol, João Manuel Roça e sua equipa não descuram da vertente social, do engajamento entre clube e localidade, pais e filhos, amor à camisola e o clube. Vai daí, novidades aparecerão em breve, ajudando a fazer crescer novamente a massa associativa. Uma delas já está na rua: “Estivemos a fazer uma revisão de sócios e neste momento, sabemos que podemos contar com 410 sócios efetivos, daqueles que nunca dizem “não” ao Ala Arriba… e vão ser mais, pois cada atleta, cada menino do clube receberá um cartão de sócio do Ala Arriba. Chegou a hora de irmos de encontro aos sócios, pois o clube esteve afastado deles durante algum tempo e eles merecem o nosso carinho”
A história recente cá está. A parte orgânica do clube está aqui exposta.
Falta tocar na parte prática. Esta, está reservada para a segunda e última parte da entrevista. Ficará a cargo de José Santo: prata da casa, jovem e sempre cheio de novas ideias, será ele quem falará um pouco sobre as suas ambições para o clube que aprendeu a amar e respeitar ao longo da vida…
Mira Online
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