Angola é independente há 40 anos. Tem petróleo, diamantes e muitas riquezas naturais. O presidente Eduardo dos Santos e o MPLA governam desde sempre com os mesmos resultados: um dos regimes mais corruptos do mundo, pobreza generalizada, economia inexistente, uma das maiores taxas de mortalidade infantil.
Paulo de Morais – Folha 8
Os dirigentes dos partidos portugueses presentes, por estes dias, no Congresso do MPLA (PS, PSD, PCP, CDS) são cúmplices do sofrimento do povo angolano. Envergonham Portugal.
Angola tem recursos humanos, dimensão geográfica, dispõe de múltiplas riquezas naturais, é um dos países mais ricos do mundo. Mas a sua população é das mais pobres, sofre com uma das maiores taxas de mortalidade infantil do mundo, a educação é inexistente, o desenvolvimento é uma miragem.
Este contra-senso tem um primeiro responsável, José Eduardo dos Santos. Em trinta e nove anos de presidência, JES não conseguiu – ou não quis! – melhor do que isto: Angola é um país riquíssimo, influente na política internacional, mas com gente pobre, a viver na miséria.
O presidente angolano instituiu um regime corrupto e cleptocrático. Distribuiu, ao longo de décadas, de forma feudal, privilégios pelos seus apoiantes. JES criou uma oligarquia que lhe é agradecida e subserviente, a quem permitiu um enriquecimento obsceno. A maioria dos altos dirigentes angolanos beneficia de luvas nas transacções em negócios de estado.
A família Dos Santos é hoje uma das mais ricas e extravagantes do mundo. A sua filha Isabel exibe os seus luxos nas redes sociais sem vergonha, esquecendo que a sua riqueza assenta na fome do povo do seu país. Dispõe hoje duma fortuna colossal, é das mulheres mais ricas do planeta. Usa Lisboa como porta de entrada privilegiada dos seus capitais na Europa. Domina a economia portuguesa: tem participações de relevo na energia, nas telecomunicações ou na Banca, os homens mais ricos do país são seus sócios.
Como ganhou peso económico, movimenta-se bem no campo da promiscuidade entre interesses privados e gestão pública, uma das marcas da política portuguesa. O poder político corrupto em Portugal submete-se-lhe, para o que conta com as ligações do “papá” Dos Santos. Com efeito, JES domina a política portuguesa. Começando pelo governo, este como os anteriores, passando pelo Partido Comunista, que trata o MPLA como “partido irmão”; mas também pelo PS, parceiro do MPLA na Internacional Socialista, PSD e CDS.
Só aliás esta cumplicidade, à qual não escapou o anterior presidente Cavaco Silva, permitiu que o estado angolano não tivesse sido minimamente beliscado com o mega escândalo “Espírito Santo”, em parte resultante dos empréstimos realizados no BES (Angola) e na transferência descontrolada de capitais de Portugal para Angola, para concessão de empréstimos sem contrapartidas.
Este enorme buraco resulta, em grande parte, de empréstimos concedidos a personalidades ligadas a JES. No topo da lista está a sua irmã, Marta dos Santos, que usufruiu dum crédito de 800 milhões de dólares. Estes serviram para financiar negócios imobiliários em Talatona, numa parceria com o construtor José Guilherme. O conjunto de bafejados pelo BES de Portugal e pelo BESA com muitos milhões é extenso, com destaque para membros da cúpula do MPLA, de Roberto Almeida a João Lourenço ou França Ndalu.
Os tentáculos de JES, com a sua sede de poder, não estão infelizmente confinados a Angola e a Portugal. Através da CPLP (Comunidade de Povos de Língua Portuguesa), que domina, JES controla uma parte significativa do petróleo mundial. São membros desta comunidade produtores como São Tomé, Timor, Guiné Equatorial, cujos dirigentes políticos JES controla; ou até o Brasil, cuja ex-presidente Dilma é também aliada de JES.
JES tem uma estratégia de poder mundial, baseada na corrupção. Os seus parceiros nos negócios não são nada recomendáveis. O chinês Sam Pa, de quem foi companheiro de bancos de escola, actual presidente da China Sonangol, é perseguido pelas autoridades americanas, por associação ao tráfico de diamantes; o empresário português Hélder Bataglia suja-se com múltiplos casos de corrupção em Portugal, desde as luvas pagas na compra de submarinos pelo Estado português aos alemães até aos que levaram à prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates, ou Ricardo Salgado.
JES poderá nunca vir a ser julgado em vida por corrupção e pelos danos que infligiu ao seu país. Mas o julgamento da História está feito: JES é um líder que destruiu o seu país, porque nunca gostou do seu povo.
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