Lúcia Mourinho é uma jovem apaixonada por música e por Fado, em particular. Não esconde que vê na Amália Rodrigues e na Carminho as suas principais referências musicais.
A jovem do Montijo orgulha-se de poder conciliar duas coisas que ama: fado e dança, afirmando que “tanto o fado como o flamenco ocupam um espaço muito importante na minha vida”. Em 2014, Lúcia decide arriscar e partilhar o seu talento com o mundo ao participar no programa “Factor X”, na SIC. E apesar de ter sido a primeira concorrente da categoria “Adultos” a abandonar a competição, não desistiu e continuo a lutar pelo seu sonho.
Nesta entrevista, Lúcia Mourinho fala-nos do seu gosto pela música e pela dança assim como dos seus projetos futuros.
Quando te começaste a perceber que tinhas um gosto particular pela música?
Desde tenra idade que percebi que era muito musical e vocacionada para as artes. Mas nunca me possibilitei experimentar-me, conhecer-me artisticamente. Sempre vivi na «minha casinha», no meu mundo, aprisionada pela minha timidez. Só mais tarde, por iniciativa própria, em 2009, aos 17 anos, comecei a ter aulas de Sevilhanas e só aos 25 anos, comecei a cantar Fado em público.
E o Fado? Lembraste de como ele entrou na tua vida?
Nem eu nem o Fado nos lembramos do momento preciso em que nos cruzámos e nos rendemos um ao outro. Sei que não foi amor à primeira vista. Foi acontecendo naturalmente, como em quase tudo na minha vida. Ao contrário daquilo que muitos supõem, não existe tradição fadista na minha família, nem a mesma foi de alguma forma responsável por este meu caminho musical. Portanto, a descoberta do fado foi ainda mais interessante. Foi autêntica! Embora tenha descoberto o Fado tão tardiamente, considero eu, creio que ele sempre morou dentro de mim.
Quer o Fado quer a dança são duas coisas bastante importantes na tua vida. Se tivesses de optar por uma delas, de qual não conseguias mesmo abdicar?
Tanto o Fado como o Flamenco ocupam um espaço muito importante na minha vida. Nenhum é mais importante que o outro. Portanto, tornar-se-ia impossível ter que abdicar de qualquer que seja. O Fado representa a minha história, a minha nação, o meu berço e a minha música. Por outro lado, o Flamenco possibilita expressar-me emocionalmente de uma forma tão intensa e veemente que ninguém imagina. É incrível! Portanto, a menos que a vida tome esta decisão por si mesma, tanto o Fado como o Flamenco acompanhar-me-ão sempre, lado a lado, ao longo da minha vida.
Sendo tu uma amante de Fado, quem viste sempre como uma referência para o teu percurso enquanto artista?
O meu percurso no Fado não é muito grande. Como tal, ainda existe muito caminho por trilhar e muito Fado por descobrir. Mas daquilo que já conheço, existem naturalmente vários artistas que são e serão sempre uma referência para mim. Todas as pessoas conhecem a grandiosidade da D. Amália Rodrigues como artista e como pessoa. E todos sabemos que foi uma das principais responsáveis pelo Fado se ter tornado, em 2011, Património Imaterial da Humanidade. No entanto, a meu ver, a Amália não é o Fado por si só. Existem outros nomes (Fernanda Maria, Beatriz da Conceição, Lucília do Carmo, Fernando Farinha, Max, Alfredo Marceneiro e tantos outros) que possibilitaram ao Fado ser aquilo que é hoje. As variadíssimas interpretações dadas por todos esses fadistas são a fonte onde eu mais vou beber e procurar inspiração. Não quero dizer com isto que não consuma o ”Fado de hoje”, antes pelo contrário. Aliás, um dos meus sonhos é um dia pisar o mesmo palco que a Carminho.
Entrar no Factor X, certamente, abriu-te muitas portas. Quais são as diferenças que notas no pós-programa?
Adoro televisão. Gosto de toda a magia que lhe é inerente. A magnitude do palco televisivo só a sente quem o pisa. Mas o seu piso é escorregadio. É preciso ser-se prudente. Até porque, todo aquele mediatismo patrocinado pela televisão é efémero. Tudo acaba. Mas claro, a televisão abre algumas portas. A televisão, principalmente para quem já trabalha no meio artístico, oferece-nos gratuitamente alguma visibilidade. Mas, ainda que a televisão dê uma ajudinha, as portas devo ser eu a abri-las, com prudência, muito trabalho e com o brio que coloco em que tudo o que faço, tanto no Fado como no Flamenco.
Já tinhas tido algum contacto com programas televisivos anteriormente?
Já tinha tentado participado no Factor X do ano anterior (2013) mas sem ter obtido os mesmos resultados. Fiz apenas o Pré-casting. Um ano depois voltei, mais segura de mim, mais mulher e mais fadista.
Foste a primeira concorrente da categoria “Adultos” a abandonar as galas. O que é que sentiste quando percebeste que não irias continuar no programa?
Senti que ficou muita coisa por dizer e por cantar. Senti-me triste, naturalmente. Pior que isso, senti-me também bastante derrotada. Mas mais uma vez, o Fado esteve lá para mim e ajudou-me a perceber que aquilo seria só o início de muita coisa que estaria para vir. Comecei a olhar de novo para dentro de mim, fiz uma grande introspeção e percebi que estava a ser ingrata com a vida que me ofereceu de forma gratuita este dom de me expressar através do Fado.
Achas que as pessoas que vêem este tipo de programas desvalorizam o Fado em virtude de outros estilos musicais?
Hoje em dia, em Portugal, já se ouve mais Fado. Pelo menos esta é a minha ideia. Principalmente com a nova vaga de Fadistas que, na maioria das vezes vão dando uma nova roupagem ao Fado, tentando como dizem muitos, moderniza-lo. Este «Fado de Hoje», muitas vezes mais comercial, é mais fácil de ser consumido, mesmo por públicos cujo Fado não lhes apraz. Mas deve ter-se em atenção que o Fado, no seu estado mais puro, existe na panóplia discográfica deixada pelos Grandes Interpretes do passado. Não me querendo alongar, o que acontece, isto na minha opinião, é que o comércio musical está muito americanizado. E isto significa que, em palcos televisivos, neste tipo de programas, uma fadista entre em campo claramente em desvantagem.
Mais tarde, regressaste aos ecrãs portugueses no programa The Voice Portugal.O que guardas dessa experiência?
Como já disse e repito, adoro televisão. E, ainda que a minha participação não se tenha alongado tanto como desejaria, guardo desta experiência tudo, tudo de bom e tudo de menos bom que vivi. Porque como devem imaginar, nem tudo é um mar de rosas. Apesar de tudo, seria uma experiência a repetir. Um dos momentos que mais me marcou foi ter cantado pela primeira vez na minha vida Soul Music com uma banda ao vivo (Batalhas The Voice). E, em jeito de conclusão, devo dizer que, pesando os pós e os contras, independentemente do desfecho, é uma experiência que merece sempre ser vivida.
Infelizmente, também aqui o teu percurso terminou mais cedo do que desejavas. O que é que disseste a ti mesma quando tiveste de abandonar o programa?
Disse: “Para a frente é que é caminho!»
Ao contrário do que aconteceu no Factor X, desta vez soube viver a minha saída com outra maturidade. No entanto, maturidades à parte, sofre-se e chora-se sempre. Pelo menos comigo é assim. Há sempre o sabor amargo da perda com o qual temos que aprender a lidar. Neste caso, além de tudo isto, senti ainda que não aconteceu justiça. Até porque na minha última atuação mostrei ser intérprete, despi-me de Fado, agarrei o Soul e mostrei ser capaz de sair da minha zona de conforto. Acho que respondi bem ao desafio. Portanto, saí de bem comigo mesma. Missão cumprida!
E daqui para a frente, onde é que as pessoas que gostam de ti te podem encontrar?
Antes de mais, já que estamos no séc. XXI, devo dizer que me podem encontrar nas redes sociais, onde poderão acompanhar todo o meu percurso artístico, bem como os meus novos projetos em desenvolvimento. Novidades? Algumas, mas não posso desvendar. Estão no segredo dos deuses. Fisicamente poder-me-ão encontrar nos principais bairros lisboetas, onde canto com bastante assiduidade, principalmente em Alfama. No entendo, sendo que gosto de ser livre a interpretar, gosto de também de sê-lo nos espaços onde canto. Já fiz algumas residências e contínuo a fazê-lo. Mas o Fado possibilita-me mais. Já fui até a Suíça várias vezes e outras oportunidades estão a surgir. Portanto, através do meu Facebook (Lúcia Mourinho) ficarão a par de tudo e saberão sempre onde é que eu e o Fado andamos. Ate já!
Terminada esta entrevista, resta-me agradecer à Lúcia por ter aceite o meu convite e, acima de tudo, por toda a sua disponibilidade e atenção!
Página Oficial: https://www.facebook.com/mourinholucia/?fref=ts
Por Cátia Sofia Barbosa, aluna de Jornalismo na UC
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