quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O impacto da visita do Papa Francisco à Colômbia

Eugenio Trujillo Villegas (*)
Colombia
O Papa Francisco terminou sua visita de 5 dias à Colômbia e o impacto de tão magno evento no país foi muito importante. Suas amplas repercussões se farão certamente notar no futuro imediato. Nos próximos dias serão feitas análises e considerações de toda ordem sobre cada um dos discursos pronunciados, dos eventos organizados, bem como da recepção dada por esta nação profundamente católica ao Romano Pontífice.

Entre as diversas considerações que poderiam ser feitas, duas me parecem da maior importância. Uma é o muito complicado tema do “Acordo de Paz” assinado entre o governo do presidente Juan Manuel Santos [na foto, à direita do Papa Francisco] e as FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia), ao qual o Papa não fez a menor referência de forma direta. E a outra é a impressionante manifestação de catolicidade do povo colombiano.
Quanto à primeira, relativa aos “Acordos com as FARC”, é bom recordar que o motivo inicial da visita de Francisco era abençoar ditos acordos, pois o governo necessitava do apoio e do auxílio de uma pessoa com o poder e a influência do Papa para induzir o público a aceitá-los. Desde que começou o processo de paz, um setor muito importante da opinião pública se negou a aceitar as bondades da suposta pacificação, mantendo-se numa atitude de resistência e recusa ante as capitulações do Estado às exigências da guerrilha marxista.
Juan Manuel Santos com o ditador cubano Raul Castro e o chefe da narco-guerrilha, Timochenko
Juan Manuel Santos com o ditador cubano Raul Castro e o chefe da narco-guerrilha, Timochenko
Quando se anunciou há um ano a visita do Papa à Colômbia, o objetivo evidente de seus organizadores era de aproveitar sua presença para que abençoasse os Acordos, desfizesse as dúvidas que muitos nutriam em relação a ele, e convencesse assim a maioria católica do País a aceitar o processo de paz. E foi sob esta ótica que se trabalhou durante um ano inteiro, tanto a partir do governo como da diplomacia vaticana, para que a visita papal fosse o broche de ouro desse processo.
Contudo, durante todo o tempo em que duraram os preparativos, algo de fundamental foi se verificando lentamente em todos os quadrantes da nação colombiana: o surgimento de uma profunda e categórica atitude de recusa da maioria da população aos “Acordos de Paz”, a qual se evidenciou com o resultado a favor do NÃO no plebiscito de 2 de outubro de 2016, e que desde então não fez senão aumentar. A esse descontentamento se somou a desastrosa gestão do presidente Juan Manuel Santos.
Pretender nessas circunstâncias que o Papa Francisco mencionasse os referidos Acordos em seus discursos e convidasse os fiéis católicos a aceitá-los seria mais ou menos como fazer uma incursão em um campo minado exatamente igual aos semeados pelas FARC em todo o território colombiano. Esse perigo poderia converter a augusta visita em autêntica explosão de indignação popular, pois com certeza a maioria dos milhões de fiéis devotos que acompanharam o Papa em seus discursos e deslocamentos não queria ouvir de Sua Santidade qualquer palavra de claudicação ante as FARC [foto abaixo].
A prova disso está em que, toda vez que o presidente Juan Manuel Santos aparecia durante a visita papal, era vaiado e insultado pela multidão na presença do Pontífice. Foi para evitar essas situações desagradáveis que ele se absteve de assistir às missas e aos eventos massivos. Mas não conseguiu evitá-las nas ocasiões em que se apresentou ao lado do Papa em eventos menos concorridos.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, obtém do Papa Francisco a "benção" ao pseudo "Acordo de Paz" com os narco-guerrilheiros das FARC.
Este termômetro da opinião colombiana foi evidentemente percebido com antecipação pela hábil diplomacia vaticana, de longe a mais sutil e eficiente do mundo, de tal forma que o tema dos “Acordos de Paz” esteve ausente em todos os pronunciamentos papais. Absolutamente nada se disse sobre eles, e as referências indiretas ao tema se centraram exclusivamente no perdão e na reconciliação em face do novo cenário em que se encontra o País.

Outra consideração que nos deixa a visita é o reconhecimento de que, em meio à grande crise de valores que vive o Ocidente, e à qual a Colômbia não está em absoluto alheia, nosso país conserva ainda uma maravilhosa e vital fibra católica. Apesar da autodemolição promovida por alguns dentro da própria Igreja Católica e da decadência dos valores morais e religiosos de todas as nações do Ocidente, no mais profundo do povo colombiano continua vigente uma grande devoção repassada de respeito pela Santíssima Virgem, pela Igreja, pelo Papado e pelos valores católicos.
Paradoxalmente, nosso desastroso governo, que pisoteia todos os dias os valores católicos, foi o grande artífice da vinda do Papa. Mas que ninguém creia que ele o fez para que a presença do Pontífice restaure nossos valores religiosos, pois o grande propagador do aborto, da eutanásia e das políticas de esterilização e anticoncepção é precisamente o Ministério da Saúde. Do mesmo modo como o grande propagador da Ideologia de Gênero e da causa homossexual é o Ministério da Educação. O atual governo colombiano está longe, muito longe de colocar em prática políticas públicas de inspiração católica.
No entanto — oh surpresa! —, foi de tal magnitude a manifestação católica da população colombiana, que aqueles que julgavam estar a Fé em vias de desaparecimento se defrontaram com uma realidade totalmente oposta.  Em todos os eventos e deslocamentos do Papa Francisco o que se viu foi uma fé vigorosa, uma enorme devoção ao Papado e um profundo respeito pela Igreja.
O próprio Papa Francisco expressou tal realidade do modo mais adequado e preciso na entrevista que concedeu no avião de regresso a Roma. Eis suas palavras: “Um povo que não teme expressar como se sente, nem de sentir ou de mostrar o que sente. Esta é a terceira ou quarta vez que visito a Colômbia, não me recordo bem, mas eu não conhecia a Colômbia profunda, a Colômbia que se vê nas ruas. E agradeço o testemunho de alegria, de esperança e de paciência no sofrimento deste povo que tanto me ajudou” (“El Tiempo”, 11 de setembro de 2017).
Colombia
Ou seja, a Colômbia é uma nação que se mantém católica e mariana, apesar de todas as decadências, das crises demolidoras e das más influências transmitidas pela maioria de seus líderes políticos e religiosos. E em meio à crise mundial que vivemos, nela poderiam ainda ser restaurados os valores mais profundos, analogamente como se restaurou o quadro da Virgem de Chiquinquirá, Padroeira da Colômbia [foto ao lado], cuja efígie, após ter sido apagada quase por completo da tela onde havia sido pintada, recuperou milagrosamente o esplendor perdido e voltou a ficar reluzente graças às orações e súplicas de uma devota mulher. Possa esse milagre acontecido com seu quadro repetir-se em toda a nação.

Fonte: ABIM

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(*) Diretor da Sociedad Colombiana Tradición y Acción.

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