terça-feira, 29 de maio de 2018

Eu, Psicóloga | Síndrome do ninho vazio: o impacto da saída dos filhos de casa na vida dos pais



Apesar de sentir-se realizada ao ver a única filha casar e estruturar uma nova vida, Hebe desmoronou quando se viu sozinha em casa, em 2017.

"Quando eu falava dela, sentia uma vontade incontrolável de chorar. A razão dizia que eu precisava construir novos laços, mas o sentimento era de não querer conversar com outras pessoas", conta Hebe, hoje com 52 anos e viúva há 13.

Formada em Economia, ela trabalha como bancária há 29 anos em Jundiaí (SP). Apesar de gostar do trabalho, não conseguia lidar com a solidão e sentiu dificuldades para recriar a rotina, agora voltada para si e não mais para a filha Ana Carolina.

"É difícil não ter mais uma pessoa para cuidar e conversar. Eu não fazia muita coisa sozinha, a maioria do meu tempo era para ela, com ela e por ela", diz Hebe. "Ela tinha atividades durante o dia, mas a gente sempre conversava quando ela chegava em casa, mesmo que fosse tarde da noite. Eu não ficava totalmente sozinha."

Após a saída da filha, Hebe começou a apresentar sintomas depressivos: só saía de casa para trabalhar e visitar os pais, sentia dores intensas no corpo e vontade constante de chorar.

Em abril de 2018, após 11 meses, Hebe decidiu buscar uma psicóloga e foi diagnosticada com a síndrome do ninho vazio (SNV), caracterizada pelo sofrimento dos pais após o esvaziamento da casa pela saída dos filhos.

"Abri mão das minhas coisas pensando apenas nela. A gente se apega e acaba se esquecendo um pouco da gente", afirma.

Apesar de não se arrepender da dedicação à filha, Hebe hoje reconhece a importância de buscar outras atividades de seu interesse e de construir si mesma em outros papéis além da maternidade. Se antes esperava convites para sair de casa, agora Hebe busca viver de outra maneira. "Chorava a ausência dela e pensava que alguém poderia me convidar para sair. Agora não fico mais lamentando e tento convidar as pessoas", conta.

Hoje, Hebe acompanha Ana Carolina por telefone e nos almoços de fins de semana. Apesar de ainda sentir falta da filha, ela considera que o contato não se perde: apenas se transforma. "Os filhos precisam seguir o caminho deles e nós que temos que buscar o nosso, sem a presença deles tão constante."

Síndrome do Ninho Vazio

A Síndrome do Ninho Vazio é caracterizada por um sentimento de tristeza e desânimo que acomete os pais quando os filhos se tornam independentes e saem de casa. A maioria das pessoas educa seus filhos e os prepara para buscar seus próprios caminhos, mas alguns pais (principalmente as mães) que dedicaram suas vidas exclusivamente aos filhos começam a perceber que não descobriram outros papéis enquanto indivíduos a não ser o de pai/mãe e, assim, começam a se sentir desconfortáveis.

Principais sintomas

Depressão;
Distúrbios do sono;
Melancolia;
Raiva;
Distúrbios alimentares;
Diminuição da libido.

Além disso, é comum que os casais que estão passando por esta fase acabem tendo conflitos. Isso porque, quando os filhos já estão criados e a vida financeira é estável, existe um reencontro entre o casal que, às vezes, pode perceber que não há mais nenhum projeto comum. Inconscientemente, marido e mulher estabelecem um compromisso de vínculo para educar os filhos e, quando eles amadurecem, os pais sentem que sua função foi cumprida.

Dicas para lidar com a partida dos filhos

Entenda a nova fase

Reconheça que é natural que os filhos saiam de casa para buscar sua própria independência é natural. Neste momento, é importante refletir e aceitar que a fase de mãe protetora passou e perceber que outras possibilidades podem se abrir e a descoberta de novos papéis é essencial. Encare essa nova fase como uma oportunidade de cuidar de você e realizar novas tarefas.
Encerre o ciclo

Faça um exercício: inspire e segure a respiração. Repare como o “ar antigo” nos sufoca, não deixando novos ciclos de oxigênio acontecerem. A mesma coisa ocorre quando nos apegamos a ciclos que já se encerram e quando temos medo da perda e não conseguimos focar nos ganhos que ela nos traz. Permita-se abrir espaço para o novo.
Tire seus sonhos da gaveta

Orgulhe-se de ter completado sua missão: você criou seus filhos para serem independes e cumpriu sua tarefa. Agora é o momento de tirar seus sonhos da gaveta. Encontre novos hobbies, pratique exercícios, comece um novo curso e aprenda coisas novas. Reflita honestamente sobre as ações que te dão prazer. Ao longo da vida, as pessoas acabam adiando uma lista de atividades prazerosas por conta da correria diária. Faça uma lista com tudo que deseja realizar e coloque-se no centro da sua vida.

Pense nos lados positivos

Além de ter mais tempo para você, muitas vezes o relacionamento com os filhos melhora quando eles mudam de casa. Aproveite a nova fase para dar mais atenção ao seu relacionamento e sair mais à dois.

Preparar a saída

O sofrimento causado pela SNV não se relaciona somente à saudade e a solidão dos filhos, mas também à falta de preparação prévia dos pais para essa fase da vida.

A prevenção é sempre o melhor remédio. As pessoas precisam começar a se preparar para essa fase e buscar outras vivências além dos filhos: sair com amigos, praticar atividades físicas, estudar, viajar. Falta de saúde social também faz adoecer.

O esvaziamento da casa pode ter impactos diferentes sobre o casamento dos pais dependendo da maneira como eles construíram a relação.

Não é difícil haver divórcios nessa fase porque muitos não suportam a pressão de se ver frente a frente com o parceiro. Perderam a intimidade, não sabem o que o outro gosta e só se enxergam como pai e mãe. Tudo isso faz o casamento perder sentido.

Porém, há também casais que se fortalecem e usam o tempo antes dedicado ao filhos para buscar novas atividades juntos.


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