Os preconceitos dos professores em relação à nacionalidade e estatuto socioeconómico dos alunos podem estar a prejudicar os portugueses no Grão-Ducado, contribuindo para a sua sobre-representação nos cursos técnico-profissionais, segundo um estudo da Universidade do Luxemburgo.
Os investigadores apresentaram boletins fictícios de luxemburgueses e portugueses a 38 professores do ensino primário no Luxemburgo, com os resultados escolares dos alunos, a nacionalidade e a profissão dos pais.
Com base nestes perfis, os professores decidiram se os alunos deviam continuar os estudos no ensino técnico ou no “clássico”, considerado o ramo mais elitista do secundário, uma decisão que no Luxemburgo é tomada no final do ensino primário.
O estudo da Universidade do Luxemburgo concluiu que os professores tomaram a decisão correta em relação aos alunos luxemburgueses em 90% dos casos, contra apenas 67% no caso dos portugueses.
As conclusões da Universidade do Luxemburgo vão no mesmo sentido de outros estudos internacionais que mostram que “os alunos de minorias étnicas e de famílias com baixo estatuto socioeconómico são particularmente prejudicados” pelos preconceitos dos professores, levando-os “a encaminhar estes alunos para ramos mais baixos” do ensino, apontam as investigadoras Ineke Pitten Cate, Sabine Krolak e Sabine Glock.
O estudo sublinha que os portugueses, que representam “o maior grupo étnico” no país, têm “níveis de sucesso académico abaixo da média”, com apenas 11% dos imigrantes a chegarem ao chamado ensino secundário clássico.
As investigadoras estudaram ainda mecanismos para reduzir o impacto dos preconceitos na avaliação, tendo questionado os professores sobre o seu grau de segurança em relação à decisão tomada e pedindo-lhes a seguir para avaliar novos alunos.
Aqui, as decisões “foram corretas, independentemente da origem étnica dos alunos”.
O estudo conclui que “pedir aos professores para avaliarem a sua responsabilidade” contribuiu para diminuir a influência dos preconceitos.
O processo de seleção vai ser alterado já neste ano letivo, e o Ministério da Educação disse em comunicado que “as conclusões destes estudos foram tidas em conta”.
A decisão sobre a via de ensino cabia até aqui a um conselho de orientação, que decidia com base no parecer do professor e dos pais, mas vai passar a ser feita de comum acordo pelo docente e os encarregados de educação.
Só em caso de discordância é que os pais vão poder recorrer a uma comissão de orientação, de que não há recurso.
Se a comissão decidir contra a via de ensino escolhida pelos pais, o aluno deixa de poder fazer testes para tentar entrar no liceu que escolheu, como acontecia até aqui.
O Ministério da Educação defende que a decisão tomada em conjunto pelo docente e os encarregados de educação reforça “o papel dos pais na decisão” e “a responsabilização do professor”, já que “uma decisão tomada em grupo” no conselho de orientação, como até aqui, “pode levar à difusão da responsabilidade entre os seus membros”.
O processo vai começar a ser aplicado neste ano letivo, mas já foi alvo de críticas.
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