Rebeldes sírios apoiados por forças militares da Turquia conseguiram tomar a cidade de Dabiq, no norte do país, que estava sob domínio do Estado Islâmico.
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos humanos, os “militantes do Estado Islâmico retiraram” da pequena cidade, que era muito importante para o grupo.
O avanço em Dabiq faz parte de uma ofensiva maior dos grupos rebeldes sírios.
Ahmed Osman, comandante do grupo rebelde Sultão Murad, afirmou este domingo à agência Reuters que também a aldeia vizinha de Soran foi recapturada.
A batalha por Dabiq já era esperada, dado que os rebeldes recapturaram nas últimas semanas uma série de aldeias, com o apoio de ataques aéreos de militares da Turquia.
Dabiq parece ter sido retomada rapidamente, após o anúncio de um ataque final no sábado.
Apesar de toda a operação montada para retomar Dabiq, a cidade não tinha importância estratégica por causa do seu tamanho ou da sua população – pouco mais de 3 mil habitantes.
Mas o local tinha um grande valor simbólico para o Estado Islâmico.
Dabiq fica a cerca de 10 quilómetros da fronteira com a Turquia e é citada nas profecias apocalípticas islâmicas como o ponto onde ocorreria uma batalha do fim dos tempos entre os muçulmanos e os seus inimigos “romanos”.
O profeta Maomé teria afirmado que “a última hora não chegará” até que os muçulmanos derrotem os romanos em “Dabiq ou al-Amaq”, duas cidades na região da fronteira entre a Síria e a Turquia, a caminho da conquista de Constantinopla – agora Istambul.
E aparentemente, o Estado Islâmico estava a tentar atrair o confronto para a região.
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O jihadista Mohammed Emwazi, que as autoridades acreditam ser o militante britânico conhecido como “Jihadi John”, responsável por matar cinco reféns de países ocidentais em 2014, apareceu num dos vídeos do EI com a cidade de Dabiq ao fundo.
A seus pés, estava a cabeça de Abdul-Rahman Kassig, um ex-militar americano.
“Aqui estamos, a sepultar o primeiro cruzado americano em Dabiq, esperando ansiosamente pela chegada do resto dos seus Exércitos”, dizia Emwazi no vídeo.
O Estado Islâmico desafiou várias vezes os países ocidentais a enviar uma operação terrestre para a Síria. Ao divulgar o vídeo com a execução de Abdul-Rahman Kassig em Dabiq, o grupo terrorista parecia ansioso por cumprir a profecia e conquistar mais legitimidade junto de uma audiência maior.
O vídeo parece mostrar os militantes numa colina, a norte de Dabiq, perto do local onde numa outra gravação três membros do grupo falam sobre a importância da cidade.
“Estamos à vossa espera em Dabiq”, diz um deles, dirigindo-se às forças da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.
Referência antiga
Apesar de o Estado Islâmico usar estas referências e imagens apocalípticas desde 2014, altura em que capturou territórios na Síria e no Iraque, as menções à profecia de Dabiq foram citadas antes.
Depois de o grupo ter anunciado a sua expansão, saindo do Iraque e entrando na Síria, ainda em 2013 – antes de o EI ter tomado Dabiq dos rebeldes sírios em agosto de 2014, os vídeos do Estado Islâmico começaram a referir a profecia, sugerindo que a cidade já se encontrava entre os seus objectivos.
Muitos dos vídeos mostravam militantes do Estado Islâmico numa paisagem árida, ao som das palavras de Abu Musab al-Zarqawi, o militante jordano que fundou a Al-Qaeda no Iraque.
“A chama foi acesa aqui no Iraque e o seu calor vai continuar a aumentar… até queimar os Exércitos dos Cruzados em Dabiq”, dizia Zarqawi, que foi morto por um ataque aéreo americano no Iraque em 2006.
Depois da perda da cidade apocalíptica para os rebeldes sírios, a profecia de Maomé parece estar mais longe de se cumprir.
ZAP / BBC
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