Eis aqui algumas informações sumárias, para você que deseja fabricar a própria ração em sua propriedade rural. Não é um bicho de sete cabeças e nada impossível como crêem alguns.
É muito provável que produzir o alimento de seus animais, seja excelente alternativa para aumentar seus ganhos e torná-lo mais feliz em sua atividade. Afinal, nunca é ruim estufar a guaiaca, não é?
É importante salientar que dezenas de anos de muita pesquisa, por muitos cientistas em todo o mundo, permitem hoje a qualquer um que queira, conhecer as reais exigências dos animais domésticos, em termos nutricionais, em qualquer fase de sua vida.
Há mais de trinta e cinco anos trabalho com nutrição animal e sempre digo que conhecemos mais de nutrição dos animais que criamos, do que de nutrição humana.
Conhecemos muito bem as exigências dos animais e conhecemos muito bem os valores nutricionais de todos os alimentos importantes que usamos para compor as rações. De novo é informação valiosa e disponível a todos.
A questão básica com que nos deparamos, é encontrar a melhor composição da ração pronta, que nos forneça o melhor resultado de produção animal e o melhor resultado econômico. Produção de leite, ou produção de ovos, ou produção de carne com o maior lucro possível. É isso que interessa.
É necessário um programa computacional específico (fácil de adquirir) e um computador para rodar este programa.
A formulação depende das matérias primas disponíveis em sua região e em sua propriedade, mas a abundancia de milho e soja em todo o Brasil, faz com que estes dois ingredientes sejam os mais importantes na composição das rações de nossos animais domésticos.
Os principais ingredientes mais comumente usados em rações são:
*Milho em grão
*Subprodutos de milho: Refinasil e Protenose.
*Farelo de Soja
*Soja Extrusada
*Farinha de Carne e Ossos
*Farelo de Arroz
*Sorgo em grão
*Farinha de Peixe
*Farinha de Penas e Vísceras de aves.
*Farelo de algodão
*Farelo de Amendoim
*Óleo Vegetal
*Calcáreo calcítico
*Fosfato Bicálcico
*Sal
*Premix de Vitaminas e Minerais
A escolha dos ingredientes que comporão a ração, bem como seu percentual de participação na dieta, será determinada pela ferramenta computacional, em função do preço de cada matéria prima aliado a suas características nutricionais. Estas coisas estão amarradas.
O milho em grão precisa ser adequadamente seco (umidade de 12%) e ter qualidade adequada, isto é, grãos íntegros e sem fungos. O milho é a principal fonte de energia de rações animais no Brasil e nosso país é o maior produtor de carnes do mundo em função principalmente de nossa larga produção de milho e de soja. Sem este binômio, certamente não seriamos a potencia agropecuária que efetivamente somos.
Soja in natura, não pode ser usada em rações porque possui muitos fatores anti-nutricionais, os quais causarão prejuízos aos animais arraçoados. A eliminação destes fatores acontece no processamento do grão para extração do óleo, que origina dois produtos: o farelo de soja e o óleo vegetal de soja.
A extrusão do grão de soja é alternativa muito viável em propriedades rurais que pretendam produzir ração própria. A máquina extrusora depende de energia elétrica e produzirá o farelo extrusado ou cheio de gordura. (full fat) Este farelo é muito adequado para rações com alto teor de energia.
O farelo de soja tem 45% de proteína bruta e é adquirido em empresas que esmagam soja para produção de óleo.
A farinha de carne e ossos, com 45% de proteína bruta, é ingrediente muito viável em dietas de aves e suínos e além de aportar proteína animal, fornece os minerais cálcio e fósforo.
O farelo de trigo é ingrediente muito importante em dietas que você precisa energia baixa, como é o caso de ração para porcas em gestação. È facilmente adquirido em moinhos de trigo tem preço adequado e é um ingrediente muito usado como veículo em premixes de vitaminas e minerais.
Farelo de arroz é ingrediente importante para economizar milho, quando for o caso.
O sorgo em grão é alternativa interessante quando o preço do milho estiver alto. Nutricionalmente o milho e o sorgo são muito similares.
A farinha de peixe é alternativa interessante e vejo este ingrediente muito importante nas dietas iniciais de suínos. O preço às vezes é proibitivo, entretanto para o leitão, é um componente muito importante.
A farinha de penas e vísceras é largamente usada pelas indústrias avícolas e é importante na redução de custo das dietas. Seu uso precisa ser restrito a no máximo três por cento da ração. Porque a questão aqui é palatabilidade.
A farinha de sangue é outro produto importante, embora difícil de conseguir fora dos grandes frigoríficos.Mas não impossível.
O calcáreo calcítico precisa ser usado sempre que necessitamos aportar cálcio nas dietas.
O fosfato bicálcico precisa ser incluído nas dietas quando necessitamos aportar cálcio e fósforo.
Sal é indispensável em todas as dietas animais e irá aportar sódio e cloro.
O premix de vitaminas e minerais também pode ser produzido na propriedade rural e será o ingrediente responsável por agregar todas as vitaminas e todos os minerais necessários ao adequado desenvolvimento animal. Este premix deverá conter ainda alguns produtos para manter a qualidade da ração e a saúde dos animais.
Os principais componentes dos premixes vitamínico-minerálicos são:
Vitamina A
Vitamina D-3
Vitamina E 50%
Vitamina K-3
Vitamina B1 ou Tiamina
Vitamina B2 ou Riboflavina
Vitamina B6 ou Piridoxina
Vitamina B12 ou Cianocobalamina
Ácido Pantotênico
Ácido Fólico
Vitamina H ou Biotina
Sulfato de Ferro
Sulfato de Zinco
Sulfato de Manganês
Iodato de Cálcio
Sulfato de Cobalto
Os produtos incluídos para manter a qualidade da ração e a saúde dos animais, são basicamente os seguintes:
Antioxidantes
Ácidos orgânicos ou acidificantes
Antifúngicos
Antihelminticos
Enzimas
Aromatizantes e Flavorizantes
Promotores de Crescimento
Antibacterianos
São em média vinte a vinte e cinco produtos que compõe o premix de vitaminas e minerais e eles precisam estar muito bem misturados, usando-se um veículo adequado. Este veículo pode ser farelo de trigo ou um mix de farelo de trigo e farelo de soja moído.
Um premix de vitaminas terá de 3 a 5 Kg (em média), para usar em uma tonelada de ração pronta.
O processo de fabricação da ração é em síntese:
Acondicionar todos os seus ingredientes macro, já moídos e padronizados em silos específicos que alimentarão uma balança de produção, na fábrica de ração.
Pesar cada ingrediente de acordo com a formulação. Completar a batida e encaminhar esta batida (normalmente de 500 kg ou 1000Kg), para o misturador. O misturador deve ser de duplo helicóide com tempo de mistura de 4 a 5 minutos.
Após a mistura a ração é encaminhada para silos de expedição (se farelada) ou seguirá para as máquinas peletizadoras (se granulada) e daí para resfriamento e em seguida para os silos de expedição.
Considero importante salientar que as situações sempre são muito específicas e o ideal é o produtor ter uma pessoa técnica para lhe assessorar nas dúvidas e impasses. Entendo muito pouco viável aconselhar produto a ou b para determinada doença ou possibilidade de doença no plantel, se o técnico não conhecer o histórico da propriedade e não conhecer o conjunto de situações.
Mas reitero a viabilidade dos produtores fabricarem a sua própria ração e entendo que isso poderá ajudar a ganhar mais dinheiro em sua atividade rural.
Propriedades rurais normalmente possuem muitos alimentos volumosos que podem ser aproveitados pelos animais que criamos. É o caso da mandioca, da abóbora, capins, e tanta coisa que ás vezes podemos usar para economizar no consumo de ração. Aconselho que estes alimentos sejam fornecidos a parte, apenas como “distração” de seus animais, mas não tenha dúvidas que dará para economizar uns trocados, além de quebrar a rotina da sua bicharada.
Um cordial abraço,
João Antonio Pagliosa
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural do rio de Janeiro, em 1972.
Especialista em Nutrição Animal e no fabrico de rações.
fone 55 41 9 9623 6298
É muito importante a qualidade e a padronização de todos os ingredientes da dieta. A ração será tão boa quanto à qualidade dos ingredientes que a comporão.
O aspecto físico da ração é definição do proprietário rural e eu sempre defendo o uso de rações peletizadas (granuladas) porque este processo agrega muitos benefícios. Entretanto, a nível de propriedade rural, é mais comum o uso de rações fareladas, pela sua praticidade.
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