Entre as causas para esta diferença está o facto de os idosos a residir em lares serem mais velhos e mais dependentes
A prevalência de desnutrição ou em risco de desnutrição é o dobro nos idosos que estão em lares quando comparada com os que vivem em casa. Esta é uma das conclusões do estudo PEN-3S, que avaliou o estado nutricional dos idosos portugueses e deu pela primeira vez um retrato do que se passa em Portugal. Entre as causas para esta diferença estão o facto de os idosos nos lares serem mais velhos, mais dependentes e mostrarem mais sinais de depressão. Em 2015 viviam em Portugal 2,1 milhões de idosos, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
Estudos internacionais mostram que nos lares a percentagem de idosos desnutridos é de 21% e 52% estão em risco de desnutrição. Já os que vivem em casa, 4,2% estão desnutridos e 27% em risco de desnutrição. Os resultados portugueses, apresentados ontem, são semelhantes na tendência, mas com percentagens menores: 4,8% dos idosos em lares estão em situação de desnutrição e 38,7% em risco de desnutrição (43,5% no total), valores que descem para os 0,6% e 16,9%, respetivamente quando avaliados os idosos a viver em casa (17,5% somando as duas variáveis). As taxas de depressão também são mais elevadas nos idosos que estão em lares - 47% quando na comunidade são 25% -, tal como as situações de dependência, 87% versus 30% na comunidade.
"A prevalência de malnutrição aumenta com a idade e nos lares em média os idosos são mais velhos dos que estão na comunidade. Também nos lares a prevalência de depressão e dependência - os dois indicadores aumentam de forma significativa a malnutrição, influência válida para lares e para a comunidade - é superior. Isso pode explicar porque nos lares há mais casos de desnutrição e risco de desnutrição", explica ao DN Teresa Madeira, investigadora da Faculdade de Medicina de Lisboa, entidade que liderou o estudo financiado pelo fundo EEA Grants e que contou com uma amostra de 2296 idosos (com e mais de 65 anos), cerca de metade a residir em lares e os restantes em casa, representativa da população idosa em Portugal. Foram excluídos do inquérito idosos acamados e com demência grave.
A investigadora reforça que "não é por estar no lar que o idoso está pior". "Não sabemos como é que estas pessoas estariam se vivessem em casa, mas podemos colocar a hipótese de que estariam piores se não tivessem cuidadores para preparar as refeições, fazer as compras, cozinhar, suporte que o lar oferece".
O estudo testou também um sistema informático que permite detetar idosos em risco de malnutrição, de forma a serem encaminhados para consultas especializadas para avaliação das causas e evitar uma situação grave de doença, que vai ser aperfeiçoado.
A atual lei não prevê a existência de um nutricionista do quadro do pessoal dos lares. "Faz todo o sentido uma colaboração que pode ser uma consultadoria, em vez de ser um elemento nos quadros, para a elaboração de ementas dirigidas às necessidades de cada idoso, que podem ser muito diferentes", diz ao DN João Ferreira de Almeida, presidente da ALI - Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos, que refere que os idosos chegam hoje aos lares "com mais idade, com mais doenças e doenças mais graves, com maior dependência e demência" em comparação com o que acontecia há nove anos.
Fonte: DN
Foto: GLOBAL IMAGENS
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