terça-feira, 15 de agosto de 2017

Jornalismo puro ou irreal

Neste mundo globalizado tudo virou negócio, e contrariar interesses é extremamente preocupante para aqueles que pensam e manifestam, por isso quando vemos um texto expresso nos meios de comunicação temos a difícil missão de saber se um pensamento é puro


                                                 Por: WILSON FUÁ


Certo dia presenciei um diálogo entre um avô e uma neta sobre o exercício da profissão de jornalista, sendo que das experiências do avô o relato virou uma lição da profissão e recomendações sobre as ações jornalísticas.
A neta, jornalista cuiabana, após as festas de formatura passou a desenvolver suas atividades em várias empresas de comunicação, com pautas diversificadas: política, cidades; polícia; social e esporte, e, de repente, parou para pensar.
No início estava empolgada com a profissão e pensou que podia a ser uma espécie de defensora da humanidade calcada na livre manifestação garantida pela Constituição. Mas não tinha a visão e o entendimento dos problemas das pessoas, sem saber que as próprias pessoas detêm um viés no entendimento, pois essas pessoas normalmente defendem mais os seus interesses do que as suas virtudes.
Certo dia, ela recorreu ao seu avô, que é uma espécie de defensor do livre pensar, e este lhe passou algumas lições que traduzem a real angústia dos profissionais do jornalismo.
O avô pensador disse: vamos começar pelo exercício da profissão, se omitir diante de uma injustiça, sem querer ou sem saber e tornar parte dessa injustiça, e hoje, mesmo aqueles que manifestam suas opiniões livremente, são muitas vezes censuradores dos pensamentos contrários aos seus, pois com certeza o livre pensar leva ao livre contestar.
Na faculdade faz-se a leitura do que é ser ético, e pensam que para ser “ético” basta fazer aquilo que é correto, e justamente por ser correto é ético. Mas a medida que um jornalista defende uma causa correta e passa esperar algo em troca do bem que se fez, ele pode ser qualquer coisa, menos um jornalista ético, pois deixa de lutar pela causa nobre e passa a buscar algo para si.
O jornalista quando emite um pensamento ou uma postura a favor de um partido político, essa tendência de lado partidário passa a ser uma análise ou uma interpretação do estatuto ou linha programática do partido, e deixa de ser o pensamento puro do jornalista.
Hoje os jornalistas são naturalmente contaminados pelos meios sociais e logo os seus pensamentos deixam de ser individualizados e passar a ser de um seguimento do ente social.
Quando o jornalista trabalha em uma empresa e tem a garantia do seu livre pensar, fica caracterizado a forma individualizada que é o sentimento mais puro do ser humano, nós conhecemos um jornalista pelo que ele se manifesta, de forma verbal ou escrita e a livre manifestação deve ser aceita em toda sua magnitude.
O jornalista, ao expor seus pensamentos, será sempre aplaudido ou incriminado por tudo que se posicionar em sua tese, mesmo que seja contrário a tudo que ele pensa, senão o seu texto passa a ser qualificado de obra censurada.
Acredito que o “medo” é natural em todas as pessoas, portanto, todos nós temos medo sim. Quantos jornalistas não usam o medo como um mecanismo de defesa ou um estado de alerta, em nome da sua sobrevivência no seu trabalho ou em nome do seu salário. Agora quando o medo passa a ser usado como desculpa para omissão ou submissão, é o fim da essência do profissional investigativo.
Quando alguém se achar superior em uma redação jornalística, e por se entender superior e mudar uma frase, mudar uma vírgula de um texto:
1 - Esse texto deixa de ser um livre pensar;
2 - Deixa de ser pensamento de um jornalista;
3 - Passa a ser a linha de pensamento do seguimento do censor, qualquer mudança deixa de ser um juízo crítico do autor, passando a ser o pensamento repugnante de um regime ditatorial ou da força ditatorial de uma empresa jornalística ou uma empresa dominadora e impostora de mercado consumidor”.
Quantos jornalistas, em nome do seu salário, são forçados a produzir textos em nome de uma força castradora e direcional, e ver que seus textos serão publicados para implantar uma dominação, para ferir sentimentos, para contrapor em forma de bloqueio o senso crítico individualizado.
Ao lermos um texto, temos que acima de tudo visualizar o que vem nas entrelinhas:
1 - A imposições religiosas;
2 - Linha programática de um partido político;
3 - Ou segue o editorial dos meios de comunicação em busca de faturamento.
Esses seguimentos são grandes defensores da livre manifestação ou expressão, desde que essa liberdade não ultrapasse os limites do retorno do empreendimento, do ganho político ou religioso.
Hoje, diferente dos anos duros da ditadura militar, existe outros tipos de censura, e a principal delas é a do poder económico que é invisível e covarde. Quantos jornalistas, ao produzir um texto no seu livre pensar, justo e ético, corajoso e responsável, correm o risco de pagar pesadas indemnizações ou mesmo irem para a cadeia, ou no mínimo ficar sujeito ao trabalho comunitário, ou passar a vergonha de pedir desculpa humilhante ao sensor repugnante chamado poder económico.
Neste mundo globalizado tudo virou negócio, e contrariar interesses é extremamente preocupante para aqueles que pensam e manifestam, por isso quando vemos um texto expresso nos meios de comunicação temos a difícil missão de saber se aquele pensamento é puro ou é contaminado.
Esta lição sobre a profissão de jornalista é apenas um direcionamento e idealismo de um pensador que um dia sonhou ser jornalista, mas que está realizando seus sonhos de maneira indireta na profissão de sua neta. Cada matéria e cada texto que ela produz, ele lê com a mesma emoção como se fosse dele. Jornalismo é a profissão mais humana e mais emocionante que existe.

(*) WILSON CARLOS FUÁ é economista, Especialista em Administração Financeira e Recursos Humanos e colaborador de HiperNoticias.

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