Os eucaliptos já começaram a despontar na área afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande e um investigador sublinha que, sem gestão do espaço, a zona pode-se transformar num autêntico barril de pólvora.
Junto ao Itinerário Complementar 8 ou pelas estradas municipais que ligam as diferentes aldeias afetadas pelas chamas que consumiram 53 mil hectares de floresta, a agência Lusa constatou o crescimento de eucaliptos próximo das árvores queimadas ou junto aos troncos cortados.
O investigador Ernesto de Deus, que estuda a regeneração natural do eucalipto, explica que o que se vê agora no território é o eucalipto a regenerar - o resultado da evolução da espécie que se adaptou aos fogos na zona de onde era natural (sudeste da Austrália e Tasmânia).
"Muito dificilmente estas árvores morrem com o fogo e, quanto maior a árvore, mais difícil é de morrer", disse à agência Lusa o especialista que realiza um doutoramento sobre esta espécie no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.
Segundo Ernesto de Deus, a árvore rebenta, "quer através da base do tronco, quer ao longo do tronco", realçando que o eucalipto queimado, apesar de parecer morto, tem uma grande probabilidade de sobreviver e de se recompor no espaço de alguns meses.
Para além disso, depois de o fogo passar por um eucaliptal, as cápsulas que estão na copa da árvore abrem-se uns dias após a passagem das chamas e largam todas as sementes (há milhares em cada indivíduo), que normalmente germinam assim que surgem "as primeiras chuvas e um pouco de humidade".
"O eucalipto reproduz-se com bastante facilidade. É bastante sensível à competição de outras espécies e, com o despir da vegetação, encontra condições favoráveis porque não tem competição", realça Ernesto de Deus, explanando que esta espécie exótica é das primeiras árvores a colonizar uma zona queimada.
Face a essa característica, se os terrenos não forem tratados e limpos, o eucaliptal ganha uma maior densidade e fica "uma autêntica selva", com "árvores de diferentes tamanhos a começar a aparecer".
"Os povoamentos ficam com muito mais material combustível e com muito mais risco de incêndio, se não forem tratados. Sem gestão, vão ser barris de pólvora", alerta o investigador.
Para Ernesto de Deus, o eucaliptal é "relativamente fácil de tratar", visto que a semente não tem dormência e, no espaço de um ano, "quase todas germinam".
"É preciso ir para o terreno e arrancá-los", disse o investigador, explicando que é necessário arrancar as árvores junto à raiz e não apenas cortar na base do tronco, para impedir novos rebentos.
Nos terrenos queimados que já sofreram intervenção após o incêndio, verifica-se, na maioria dos casos, um simples corte na base do tronco das árvores, constatou a agência Lusa no terreno.
O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande no dia 17 de junho, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foi dado como extinto uma semana depois.
Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.
O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e Penela.
Fonte: Lusa
Foto: Mick Tsikas -Reuters
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