Portugal não tem apenas um problema financeiro ou económico. Portugal tem, de há muito tempo a esta parte, um sério problema de valores. Um problema que é mais vasto do que se pensa, ou do que se assume, e um problema que está a corroer fatalmente a sobrevivência do que deve ser uma sociedade digna e de respeito. É um problema que afecta muitos dos dirigentes, nomeadamente políticos, mas que, desculpam que o diga, também não iliba muitos cidadãos. Quando há dirigentes que assumem o ilegítimo direito de alcançar a fortuna, apenas a partir da gestão de decisões que tomam, ou deixam tomar, ninguém pode surpreender-se com muito do que nos tem acontecido. Que não haja ilusões a este respeito!
E quando há cidadãos que votam em políticos apenas pela obra apresentada, sem se questionarem quanto à proveniência dos bens que de um momento para o outro apresentam, só a hipocrisia pode justificar que se lamentem. Se não temos honra no momento de votar e de escolher, não podemos reivindicar a honra no momento em que nos sentimos directamente lesados.
Esta é a grande questão nacional. Uma questão prévia a tudo o que vemos, uma questão prévia a tudo o que comentamos. E a razão é simples: nada do que está infelizmente a acontecer no nosso país seria possível se no Estado, de há muito tempo a esta parte, houvesse sentido de dever e verdadeira consciência do que é o serviço público. E enquanto disto não nos consciencializarmos, de nada servirá julgar apenas uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas, seja qual for o seu grau de responsabilidade nos graves danos causados.
A sua condenação, ou eventual condenação, por muito correcta que seja e por muito que contribua para satisfazer o nosso desejo de justiça, não resolverá por si só a profunda crise que atravessamos.
Jornal i
Por Manuel Monteiro
Professor da Universidade Lusíada
publicado em 6 Ago 2014 – 05:00
Por Manuel Monteiro
Professor da Universidade Lusíada
publicado em 6 Ago 2014 – 05:00
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