O jornalista do Caso Spotlight acredita que o jornalismo de investigação "vai sobreviver". O Sindicato, a Casa de Imprensa e o Clube de Jornalistas alertam para o perigo da precariedade da profissão para a democracia.
Bruno Simão |
"A liberdade de imprensa é a força da democracia". O alerta foi deixado pelo Presidente da República, na sessão de abertura do 4.º Congresso dos Jornalistas na quinta-feira, no Cinema São Jorge.
Uma preocupação manifestada por vários intervenientes do sector durante o evento que ficou marcado pelas várias saudações a Mário Soares. O nome do antigo Presidente da República foi referido por diversas vezes e mereceu fortes aplausos da audiência, incluindo pelo jornalista lusodescendente Michael Rezendes, conhecido pelo "Caso Spotlight". O jornalista começou por admitir que nunca seguiu política portuguesa "como deveria". E confessou ser um admirador de Mário Soares pelo seu papel na democracia.
No entanto, foram vários os alertas, como o da presidente do Sindicato dos Jornalistas, para os perigos que a actual precariedade da profissão pode trazer à democracia. "Os salários são indignos para a responsabilidade social que a profissão tem. Não podemos exigir que quem tem de contar os tostões ao final do mês desafie poderes e hierarquias que lhe podem custar a carreira". "É a democracia que está em jogo", disse Sofia Branco.
Já Goulart Machado, presidente da Casa da Imprensa, afirmou que "estamos na mais grave crise das nossas vidas profissionais". E lembrou: "Estamos todos no mesmo barco. Somos todos necessários".
"As empresas estão em dificuldades financeiras e, cada vez mais, quem lucra são os agentes externos que não suportam os custos da produção. A tecnologia que nos dá extraordinárias ferramentas cria a ilusão disparatada de que somos em certa medida dispensáveis", acrescentou Goulart Machado.
Já o jornalista do Boston Globe, que ganhou o prémio Pulitzer de serviço público em 2013, tem uma visão mais optimista para o sector: "Acredito que o jornalismo de investigação vai sobreviver "e "compensa do ponto de vista económico. Há um apetite forte por este tipo de histórias".
"Há estudos que mostram que os leitores querem ler notícias curtas, mas também querem ler histórias mais aprofundadas", sustentou. Mas, para tal, "é preciso sair da redacção e falar com pessoas. O jornalismo 'old fashion' (tradicional) é muito, muito importante", alertou.
Questionado sobre as expectativas da futura relação entre os media e o novo presidente dos EUA, Rezendes respondeu que fazer a cobertura do mandato de Donald Trump "vai ser um grande desafio. Mas ainda é muito cedo para saber como vai ser".
Fonte: Jornal de Negócios
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