terça-feira, 2 de agosto de 2016

O CONSELHO PARA OS NADADORES DOS JO: NÃO PONHAM A CABEÇA DEBAIXO DA ÁGUA


 
Com a abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro à porta, os níveis de poluição das águas da cidade brasileira continuam a causar preocupação. Uma especialista recomenda mesmo aos nadadores em competição para não porem a cabeça debaixo de água para não ficarem doentes.
Os resultados de um estudo feito ao longo de 18 meses, encomendado pela Associated Press, revela que foram encontrados nas águas “níveis virais de até 1,7 milhões de vezes mais do que seria considerado preocupante nos Estados Unidos ou na Europa”.
Com concentrações tão elevadas, “nadadores e atletas que ingerem apenas três colheres de chá de água quase certamente ficam infectados com vírus que podem causar doenças do estômago e respiratórias e, mais raramente, inflamações do cérebro e do coração”, destaca a ABC News.
A investigação comissionada pela Associated Press registou a presença de adenovírus infecciosos em cerca de 90% dos locais analisados, ao longo dos 16 meses de testes.
“É uma percentagem muito, muito, muito alta. Ver este nível de vírus patogénico humano é praticamente inédito em águas superficiais nos EUA. Nunca, nunca, veríamos esses níveis porque tratamos as nossas águas residuais”, salienta a investigadora Valerie Harwood, do Departamento de Biologia Integradora da Universidade do Sul da Flórida, em declarações à ABC News.
Números tão assustadores que levam Harwood a deixar um conselho aos atletas que vão entrar nas provas em águas livres: “Não ponham a cabeça debaixo da água”.
Valerie Harwood nota ainda que quem não conseguir seguir este conselho pode ingerir água através da boca ou do nariz e arriscar “ficar violentamente doente”.

Super-bactéria em cinco praias do Rio

Em Junho deste ano, uma investigação do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) detectou a presença de uma “super-bactéria” nas praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, Botafogo e Flamengo, na zona sul da cidade.
De acordo com O Globo, trata-se de uma bactéria multi-resistente a antibióticos que pode provocar infecções “oportunistas”, conforme explica a coordenadora do estudo, Renata Picão.
A investigadora refere ao jornal que esta bactéria pode actuar no trato urinário, a nível pulmonar, na corrente sanguínea, no sistema nervoso central, “causando meningites, e infecções gastrointestinais”.
A Lagoa de Rodrigo de Freitas, onde vão decorrer as provas de remo, e a Marina Glória, de onde arrancarão as provas de vela, são alguns dos pontos mais contaminados.
Amostras de 2015 recolhidas na Lagoa, para o estudo da Associated Press, revelaram “uns espantosos 1.730 milhões de adenovírus por litro“, frisa a ABC. Em Junho passado, os registos estavam mais baixos, “mas ainda assim de arrepiar os cabelos com 248 milhões de adenovírus por litro”, destaca o mesmo canal.
Na Marina, as amostras de 2015 apontavam para 26 milhões de adenovírus por litro, enquanto em Junho os registos contavam mais de 37 milhões de adenovírus por litro – isto apesar de ter sido implantado um sistema de drenagem fluvial que pretendia evitar que os esgotos fossem directamente despejados na marina.
As águas de Copacabana, onde vão decorrer as provas de natação da maratona e do triatlo, e de Ipanema também apresentam níveis de coliformes fecais muito acima daquilo que é considerado seguro e a presença de rotavírus, o principal causador da gastroenterite.
Em Copacabana foram detectados 7,22 milhões de rotavírus por litro e em Ipanema 32,7 milhões de rotavírus por litro. São duas das praias mais conhecidas e mais procuradas do Rio de Janeiro, pelo que os milhares de turistas que as visitam também estão em risco.
São de resto, os visitantes de fora que mais fragilizados ficam, perante o problema, porque os locais já desenvolveram imunidades porque convivem desde pequenos com os níveis de poluição elevados provocados pelos esgotos.

Níveis tão preocupantes que levaria a interditar águas

Os números do estudo da Associated Press não cumprem sequer as normas estabelecidas no Rio de Janeiro, menos restritivas do que noutros locais do mundo, e noutros países poderiam levar a interditar essas praias ao público.
Alguns atletas que vão competir nos JO estão já a tomar antibióticos a título de prevenção, conforme avança a ABC News, notando ainda que muitos estão também a usar “remos branqueadores” e a vestir fatos de plástico e luvas para minimizarem as hipóteses de contacto com a água.
Já a organização dos JO continua a garantir que as águas serão seguras para os atletas.
O biólogo Mario Moscatelli, que se dedica há cerca de 20 anos à luta pela limpeza das águas do Rio de Janeiro, diz à ABC News que não vê melhorias há décadas, apesar de na candidatura à organização dos JO estar explícito o objectivo de resolver o problema.
“A Baía de Guanabara foi transformada numa latrina… e infelizmente, o Rio de Janeiro perdeu a oportunidade, talvez a última grande oportunidade” de se limpar, considera Moscatelli.
SV, ZAP

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