Foram
necessários 90 anos para que o sonho de construir uma ponte sobre o rio Tejo,
na região de Lisboa, se tornasse real. Aconteceu em 1966, comemorando-se este
ano meio século de união entre a capital e Almada.
Tudo
começou com a ideia do engenheiro português Miguel Pais, em 1876, para o
primeiro projeto de "construção de uma ponte, essencialmente de cariz
ferroviário, que se articulava com o novo porto de Lisboa" e previa a
ligação entre a capital e o Montijo, explicou à agência Lusa o arquiteto e
autor do recente livro "A Ponte Inevitável -- A História da Ponte 25 de
Abril", Luís F. Rodrigues.
De
acordo com o arquiteto, no século XIX, a idealização de uma rudimentar ponte de
ferro para atravessar as duas margens do Tejo era suportada por "uma visão
essencialmente nacional", com a estratégia de transformar Lisboa num
"grande cais da Europa" para escoar mercadorias no continente europeu
e para servir também de ligação para o oceano Atlântico.
Após
o projeto de Miguel Pais, "Lisboa foi inundada por propostas de
pontes", referiu Luís F. Rodrigues.
"Em
1888, um engenheiro americano de nome Lye pretendia ligar Almada ao Chiado, em
1889, os franceses Bartissol e Seyrig propunham uma ponte entre Almada e a
Rocha Conde de Óbidos, em 1890, uma empresa alemã de nome
Maschinenbau-Actien-Gesellschaft sugeria a ligação entre Montijo e a zona
oriental de Lisboa e, em 1890, o engenheiro português André de Proença Vieira
propunha conectar Alcântara a Almada", lê-se no livro "A Ponte
Inevitável".
Já
no século XX, no ano de 1921, o Governo português recebeu uma proposta do
engenheiro espanhol Alfonso Peña Boeuf, que recuperava a ideia de ligação entre
Almada e a Rocha Conde de Óbidos. O projeto ainda chegou a ser discutido no
parlamento, mas não se concretizou.
"Já
me ia fartando de Portugal e da ponte, [...] ia-me cansando de ter passado
vários anos seguidos naquela agitada República, chateando-me de morte em
Lisboa, que é a povoação mais chata do mundo; a lutar contra grandes comissões
parlamentares, gastando exageradamente dinheiro próprio [...], decidi
voluntariamente deixar o projeto que tanto trabalho me deu", desabafou
Peña Boeuf, em 1954, segundo a obra "A Ponte Inevitável".
A
demora na concretização do sonho português deveu-se, "essencialmente, a
questões de ordem técnica e política", afirmou à agência Lusa Luís F.
Rodrigues.
No
domínio político, contam-se "grandes turbulências a nível institucional,
uma Primeira Guerra Mundial e uma Segunda Guerra Mundial", explicou o
arquiteto, referindo que a nível técnico estava dependente do
"desenvolvimento da tecnologia das pontes suspensas", que só se
mostrou possível em 1937 com a inauguração da Ponte Golden Gate, nos Estados
Unidos.
"A
inauguração da Ponte Golden Gate é que permitiu equacionar uma travessia com
mais de dois quilómetros sem interrupção por vãos que pudessem perturbar a
fluidez no rio, que essa era uma das questões essenciais", reforçou.
Depois
da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), a construção da ponte sobre o Tejo
passou a ser desejada para responder à "grande explosão urbanística na
margem sul".
A
ponte teve "anos de estudo", mas só em 1953 é que foi criada uma
comissão com o objetivo de estudar e apresentar soluções para a construção de
uma ponte entre Lisboa e a margem sul do Tejo, coordenada pelo engenheiro
Barbosa Carmona.
Segundo
Luís F. Rodrigues, em 1959 foi aberto um concurso público internacional para
apresentação de projetos, que reuniu quatro propostas, tendo saído vitoriosa a
empresa norte-americana United States Steel Export Company, que ficou
responsável por ligar Lisboa a Almada.
O
sonho começou a ganhar forma a partir de 05 de novembro de 1962 e, passados
quase quatro anos - seis meses antes do prazo previsto -, a ponte sobre o Tejo
foi inaugurada a 06 de agosto de 1966.
Depois
de uma saga de 'para-arranca' desde 1876, o processo de construção da ponte
tornou-se "muito rápido, devido, essencialmente, à excelente coordenação
do Gabinete da Ponte sobre o Tejo, comandado pelo engenheiro Canto Moniz e pelo
próprio consórcio norte-americano, que era muito exigente", explicou o
autor do livro.
Fonte:Lusa
Foto:24.sapo.pt
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