quinta-feira, 5 de maio de 2016

Artista de ascendência timorense recebe prestigioso Doris Duke Award 2016

 
Díli, 05 mai (Lusa) - A compositora e cantora norte-americana de ascendência timorense Jen Shyu é uma das vencedoras da edição deste ano dos Prémios Doris Duke, um programa que reconhece o potencial de artistas e garante a sua futura viabilidade.

Iniciativa da Duke Charitable Foundation em parceria com a Creative Capital os Prémios Doris Duke Performing Artist pretende "capacitar, investir e celebrar" os artistas, oferecendo-lhes financiamento num mercado onde conseguir apoios é difícil.

Lançado em 2011 o programa apoia artistas nas áreas de dança contemporânea, teatro, jazz e outros trabalhos interdisciplinares relacionados, concedendo a cada um 250 mil dólares.

"Os apoios não estão condicionados a nenhum projeto especifico mas pretende aprofundar investimentos no desenvolvimento pessoal e profissional e no futuro trabalho dos artistas", explica a Duke Foundation.

Jen Shyu já no passado tinha recebido um prémio da fundação, o Doris Duke Impact Awards (no valor de 80 mil dólares).

Filha de pai taiwanês e mãe timorense, Shyu é uma vocalista de jazz experimental e uma multi-instrumentista que canta em inglês, coreano, indonésio e tétum - é fluente em mandarim, português e espanhol.

No ano passado lançou "Sounds and Cries of the World", que como explicou à Lusa foi influenciado por sonhos de Timor-Leste, um cabaz de experiências musicais do continente asiático e uma viagem às raízes da sua família timorense.

Já no passado Shyu tinha mergulhado no mundo lusófono, com a poesia da brasileira Patricia Magalhães a marcar o álbum "Inner Chapters", maioritariamente cantado em português.

Em entrevista à Lusa no ano passado, Jen Shyu recordou a sua primeira visita a Timor-Leste, em 2010, os sonhos que a marcaram durante essa estadia de três meses - "escrevia-os de manhã, ao acordar" - e a influência das viagens musicais que tem feito.

"Tornou-se um aspeto central do meu processo criativo. Estudo música tradicional e tradição como compositora que respeita e honra essa linguagem. Cada vez mais músicos de jazz mergulham nesta linguagem tradicional, que incorporam na sua sonorização", explicou.

Praticamente todos os temas do álbum são diretamente influenciados pela sua visita a Timor-Leste, ecoando os seus sonhos e os de uma artista timorense, a Kiki Zelara, que integra o coletivo artístico timorense Arte Moris.

A influência timorense no álbum estende-se à capa que é uma pintura de Maria Madeira, uma artista timorense residente na Austrália e reflete até passagens do extenso relatório da Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação (CAVR) timorense.

"Song for Naldo" é um dos exemplos mais poderosos, recordando na letra a tortura a que os timorenses foram sujeitos e retratando os sonhos que Jen Shyu construiu, de forma quase orgânica, compondo letra e música ao mesmo tempo, ao som do Gatkim, uma "Guitarra da Lua" taiwanesa.

Nessa fusão, inclui uma canção tradicional que aprendeu a "cantar em tétum com o mestre Marçal" nos arredores de Aileu, a sul de Díli.

A sua música é experimental e eclética, vertendo as múltiplas influências que têm marcado a sua vida e os efeitos das investigações e pesquisas que realizou durante viagens a vários países.

O componente lírico mistura-se entre o surreal e o imaginário, com a música a soar a improviso e a beneficiar de músicos que se adaptam a esse estilo: Ambrose Akinmusire na trompeta, Mat Maneri no violino, Thomas Morgan no baixo e Dan Weiss na bateria.

Aplaudida pela crítica - o The Guardian descreve-a como um "fenómeno notável", Jen Shyu tem já um extenso trabalho de estúdio, com vários álbuns de lançamento digital, a que se somam vários projetos especiais.

ASP // APN

Publicada por TIMOR AGORA

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