David Dinis |
Hoje lá passou mais um drama. Costa tem
a sorte ao seu lado. Mas uma coisa temos, nesta altura, que reconhecer: a forma
como reage a cada dificuldade é digna de uma vénia. E obriga-nos a pensar
nisto.
Mês após mês, obstáculo após obstáculo,
continuamos a reagir como nos habituámos durante os anos da troika. Sentimos
que vem aí mais um drama, que é agora que a corda rebenta. Foi assim, mas
depois de tudo o que vimos e ouvimos chegou a altura de (pelo menos) nos
questionarmos? E se as coisas realmente mudaram? E se António Costa tiver
razão?
Hoje lá passou mais um drama. Havia
fundados indícios de que Portugal poderia sofrer sanções da Comissão Europeia.
Mas depois da reunião dos comissários, o que saiu foi bem diferente: a Comissão
fixou um novo prazo, mas deu um bónus inesperado: O Governo já não precisa de
chegar a um défice de 2,2%, mas de 2,3%; e já não precisa de corrigir o défice
estrutural em 0,5 pontos, mas apenas em metade disso. Moscovici disfarçou, como
sabe bem fazer: Portugal tem mais um ano, mas só um. Pois claro, mais um (até
ao próximo?)
Costa tem a sorte consigo: as eleições
em Espanha deram um bom pretexto para que Bruxelas fosse benevolente. Mas o
primeiro-ministro português beneficia também de uma Comissão mais política, com
Juncker à sua frente e um bom apoio socialista em terMoscovici; também ajuda
uma Europa a crescer, mesmo que pouco, como não cresceu nos piores anos do
nosso ajustamento. Passos que o diga: em 2015, não precisou de fazer nada para
que o défice se reduzisse dos 4% para os 3%, até com um ligeiro desagravamento
da austeridade (as eleições estavam mesmo ali). Se funcionou com ele, porque
não haverá de funcionar com Costa?
Pode acontecer, a verdade é essa, que o
primeiro-ministro tenha essa sorte. Na verdade, tudo o que precisa é que o
défice desça um pouco. Há enormes riscos nesta estratégia, claro. Basta que a
economia não arranque (e tão mau foi o primeiro trimestre), que Centeno não
consiga controlar o Orçamento ou os outros ministros. Que a própria Europa
desacelere mais ainda - ou que o BCE se farte de apoiar governos sem que estes
correspondam em políticas que empurrem as economias.
Mas uma coisa temos nesta altura que
reconhecer: António Costa é digno de respeito, pela capacidade de estancar na
hora a qualquer pressão adicional, pela forma como reage sempre da mesma forma,
dando a noção de perfeito controlo da situação e de domínio dos meandros
europeus.
A coisa pode funcionar ou não, mas eu
garanto-vos isto: em julho não vamos ter sanções; e até setembro o Governo não
muda uma linha da sua política. Às tantas ainda somos forçados a mudar o chip.
Será?
Fonte: TSF
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