Caminhar ou pedalar uma hora por dia anula os riscos para a saúde de estar oito horas sentado, revela uma série de estudos que estima em 67,5 mil milhões de dólares o custo global da inatividade física.
Divulgada pela revista científica The Lancet nas vésperas dos Jogos Olímpicos, que decorrem em agosto no Rio de Janeiro, a série de quatro estudos científicos conclui que foi parco o progresso no combate à inatividade física desde as últimas olimpíadas, há quatro anos, e hoje um quarto dos adultos e 80% dos adolescentes não cumpre as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
No primeiro estudo a calcular o peso económico global da inatividade física, os investigadores estimam em que os custos desta epidemia – em cuidados de saúde e em perda de produtividade – sejam pelo menos de 67,5 mil milhões de dólares (cerca de 60,8 mil euros), o equivalente ao Produto Interno Bruto da Costa Rica em 2013.
A inatividade física está ligada a um risco aumentado de doença cardíaca, diabetes e alguns cancrose está associada a mais de cinco milhões de mortes por ano.
Numa análise de 16 estudos científicos que acompanharam mais de um milhão de pessoas ao longo de períodos entre dois e 18 anos, os investigadores concluíram que fazer pelo menos uma hora de atividade física por dia – como caminhar depressa ou andar de bicicleta por prazer – pode eliminar o risco acrescido de morte associado a estar sentado durante oito horas diárias.
“Tem havido muita preocupação com os riscos para a saúde associados aos atuais estilos de vida mais sedentários. A nossa mensagem é positiva: é possível reduzir – ou até eliminar – estes riscos se formos suficientemente ativos, mesmo sem ter de fazer desporto ou ir ao ginásio”, disse o principal autor do estudo, Ulf Ekelund, da Escola Norueguesa das Ciências do Desporto e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Citado num comunicado da revista The Lancet, o investigador lembra que para muitas pessoas, que vão de transportes para o trabalho e têm empregos de escritório, “não há como escapar a estar sentado por longos períodos”.
“Para essas pessoas em particular, não podemos sublinhar demasiado a importância de fazer exercício, seja fazendo uma caminhada à hora do almoço, seja correndo de manhã, seja indo de bicicleta para o trabalho. Uma hora de atividade física por dia é o ideal, mas se isso for impossível, pelo menos fazer algum exercício todos os dias ajuda a reduzir o risco”, afirmou.
No estudo, os investigadores classificaram as pessoas em quatro grupos de dimensões iguais, de acordo com o seu nível de atividade – menos de cinco minutos por dia para os menos ativos e até 60 ou 75 minutos diários para os mais ativos.
As pessoas que estavam sentadas oito horas por dia mas eram fisicamente ativas tinham muito menos risco de morte do que as pessoas que passavam menos horas sentadas mas eram menos ativas.
O estudo sugere que a atividade física é particularmente importante, independentemente do número de horas que passamos sentados.
De facto, o risco acrescido de morte associado a estar sentado oito horas por dia foi eliminado nas pessoas que fizeram um mínimo de uma hora de atividade física por dia e o maior risco registou-se nas pessoas que ficam sentadas por maiores períodos e são mais inativas.
As recomendações da OMS apontam para um mínimo de 150 minutos de atividade física por semana para os adultos, o que fica muito abaixo dos 60 a 75 minutos diários identificados neste estudo.
O estudo também analisa o tempo passado em frente à televisão, num subgrupo de cerca de 500 mil pessoas e conclui que ver televisão por três horas diárias ou mais está associado a um aumento da mortalidade, independentemente da atividade física, exceto no grupo dos mais ativos, onde o risco de morte está significativamente aumentado apenas naqueles que vêm cinco ou mais horas de televisão por dia.
“A atividade física atenua, mas não elimina o risco associado a um tempo elevado a ver televisão“, escrevem os autores do estudo, que explicam que esta forma específica de sedentarismo pode estar associada a um estilo de vida menos saudável.
O risco acrescido pode também dever-se ao facto de as pessoas normalmente verem televisão à noite, o que pode afetar o seu metabolismo, ou ao hábito de comer enquanto se vê televisão.
Os investigadores alertam que o estudo inclui sobretudo pessoas com mais de 45 anos dos EUA, Europa ocidental e Austrália, pelo que poderá não representar outras populações.
/Lusa
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