Hong Kong, China, 26 jul (Lusa) -- Dois
jornalistas de Hong Kong ligados a revistas sobre política foram condenados a
prisão na China, sob a acusação de gerirem um negócio ilegal, a mesma aplicada
a cinco livreiros da cidade que estiveram desaparecidos durante meses.
Os dois jornalistas, ambos detidos em
2014, são o editor Wang Jianmin, 62 anos, condenado a cinco anos e três meses
de prisão, e o diretor Guo Zhongxiao, 40 anos, condenado a dois anos e três
meses. Ambos se declaram culpados num tribunal em Shenzhen no ano passado,
escreve hoje o jornal de Hong Kong South China Morning Post.
O advogado de Guo Zhongxiao disse que o
seu cliente será libertado no próximo mês, após cumprir a pena.
Wang e Guo têm bilhetes de identidade de
Hong Kong, mas viviam em Shenzhen quando foram presos.
A acusação disse que a sua empresa de
ambos, a National Affairs Limited, registada em Hong Kong, ganhou sete milhões
de dólares de Hong Kong (cerca de sete milhões de euros) com a publicação de
duas revistas -- a New-Way Monthly e a Multiple Face -- e que as receitas provenientes
dos leitores chineses ascendiam a 66.000 yuan (8.983 euros) da receita total.
A defesa alegou que as publicações eram
impressas em Hong Kong e as cópias enviadas apenas para oito pessoas na China,
todos amigos do editor.
A mulher de Wang, Xu Zhongyuan, que
ajudou a enviar cópias das revistas por correio, e um 'freelance' que
colaborava com a revista, Liu Haitao, declararam-se culpados de operarem um
negócio ilegal perante o mesmo tribunal.
Xu foi sentenciada a um ano de prisão,
suspensa por dois anos, e Liu condenado a dois anos de cadeia, suspensa por
três anos.
O advogado de Xu disse hoje que os
quatro afirmaram que "iriam aceitar o veredito do tribunal e que não iriam
recorrer".
A presidente da Associação de
Jornalistas de Hong Kong, Sham Yee-lan, considerou a sentença um ataque à
liberdade de expressão, publicação e imprensa em Hong Kong porque as duas
revistas eram impressas na cidade.
"As penas de prisão são muito
pesadas. As publicações eram, de facto, impressas em Hong Kong por empresas
registadas aqui", afirmou. "Parece que o Governo chinês intensificou
a repressão contra estas publicações", disse.
Sham disse ainda que o Governo de Hong
Kong tem a responsabilidade de oferecer apoios aos dois jornalistas, cidadãos
de Hong Kong.
Gui Minhai, um dos cinco livreiros que
desapareceu no passado e reapareceu meses mais tarde detido na China, era
coproprietário da editora Mightt Current, ligada à Causeway Bay Books, e foi
acusado de gerir um negócio ilegal no interior da China, por ordenar aos seus
sócios a entrega de cerca de 4.000 livros proibidos no país desde outubro de
2014.
Gui e todos os seus quatro sócios
reconheceram o seu papel no negócio ilegal em confissões divulgadas pelos meios
de comunicação social estatais chineses, mas que familiares e diversas
organizações consideram serem confissões forçadas.
No entanto, um deles, Lam Wing-kee,
aproveitou uma autorização recente para ir a Hong Kong para declarar
publicamente que foi raptado ao passar a fronteira e submetido a tortura mental
pelas autoridades chinesas durante oito meses, sem direito a contactar um
advogado ou a família, confirmando que as suas confissões foram forçadas.
O caso dos cinco livreiros desencadeou
preocupação de ameaça ao princípio 'Um país, dois sistemas', ao abrigo do qual
Hong Kong e Macau são regiões da China com administração especial, gozando de
autonomia e liberdades que não existem no resto do país.
Um dos livreiros, Lee Bo, desapareceu
quando estava em Hong Kong sem que haja registos de ter passado a fronteira,
gerando especulação sobre a alegada atividade de agentes do interior da China
na cidade.
A editora Mighty Current e a respetiva
livraria Causeway Bay Books especializaram-se em publicações críticas de
líderes do Partido Comunista Chinês.
FV // VM
Publicada por TIMOR AGORA
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