Paulo Vieira da Silva diz adeus ao PSD ao fim de 25 anos na militância do partido. A presença de Passos Coelho na apresentação do livro de António Saraiva foi a “gota de água”.
Depois de 25 anos como militante do PSD, Paulo Vieira da Silva, antigo conselheiro nacional dos sociais-democratas, decidiu dar um murro na mesa.
Num artigo publicado esta segunda-feira, intitulado “Como não sai Passos Coelho, saio eu do PSD”, o ex-conselheiro comunicou a sua decisão de sair do partido.
O social-democrata arrasa a liderança do ex-primeiro-ministro, que acusa de ter estado nos últimos tempos numa “deriva neo-liberal”.
“Passamos a assistir à defesa de um regime assistencialista em que o Estado apenas pagaria aos ‘coitadinhos dos pobrezinhos’. Esta é para mim uma visão inaceitável e redutora do papel do Estado”, escreve no seu blogue Insónias.
Além disso, o antigo dirigente da distrital do PSD-Porto, que denunciou a atuação de Marco António Costa na Câmara de Gaia, critica o facto do partido não ter qualquer cuidado com a escolha dos seus dirigentes.
“Em 2010, com ascensão de Pedro Passos Coelho à liderança do PSD, ascenderam também a lugares cimeiros do partido dirigentes políticos do tipo ‘trepa-trepa’, em que o mérito foi medido em função do número de votos dos ‘exércitos’ que comandavam e que valiam exclusivamente para a eleição do presidente do partido. A mediocridade passou a ser premiada. Quanto pior melhor que assim não incomodavam. E esta, paulatinamente, passou a ser regra”, continua.
Mas as críticas a Passos não ficam por aqui. Vieira da Silva considera mesmo que o ex-governante “parou no dia 4 de outubro de 2015″.
“De primeiro-ministro passou a profeta da desgraça. No último ano o PSD entrou em ‘estado de coma’, por isso, sempre que acorda está desfasado da atual realidade política e social”.
“Eu que até, no passado, apoiei Pedro Passos Coelho é desiludido e com muita tristeza que vejo hoje o PSD, sem liderança, sem estratégia, sem rumo, sem propostas para o país, navegando à espera ‘da desgraça alheia’ para que um dia o poder lhe caia novamente nas mãos”.
Livro de António Saraiva foi a “gota de água”
Mas a “gota de água”, como o próprio descreve, foi a confirmação de que Passos iria apresentar o novo livro de José António Saraiva.
A obra do antigo diretor do Expresso, que está a ser alvo de muita polémica, é, nas palavras de Vieira da Silva, “talvez o mais abjeto dos livros da história da democracia portuguesa”.
“Apesar de deplorável e nojento entendo que isto fica com o senhor arquiteto. Porém, outra coisa bem diferente é ver Pedro Passos Coelho, o Presidente do PSD, o meu Partido há mais de 25 anos,‘patrocinar’ esta pouca vergonha“, lamenta.
“Este é um livro que viola claramente a privacidade das pessoas citadas. É completamente inadmissível que o Presidente do PSD e ex-Primeiro-Ministro de Portugal faça a apresentação deste inqualificável livro que ultrapassa todos os limites da razoabilidade. Há princípios e valores com os quais sou intransigente. E o direito à privacidade é algo de inabalável enquanto valor de uma sociedade moderna”.
“Para mim não existe alternativa. Como não sai Passos Coelho do Partido, saio eu do PSD”, conclui o militante, não sabendo se é um “até sempre”, mas com a certeza de que vai continuar afastado enquanto for o ex-primeiro-ministro a segurar as rédeas do partido.
ZAP
Comentário: em politica é assim mesmo: as fidelidades valem o que valem, é uma questão de oportunidade.
J. Carlos
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