Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião
A Altice transborda de "vertente humana" mas só pelo nome da empresa de recursos humanos especialista em trabalho temporário com a qual contracena. Aberta a porta de saída para os despedimentos em massa, a Altice acena aos futuros despedidos da PT, enviando uma cenoura roída em forma de panfleto: "Se tem um amigo ou familiar (...) que está à procura de emprego, esta é a oportunidade de trabalhar ao lado da (...) MEO com contrato de trabalho temporário (...). Saiba tudo sobre este desafio". Não há muito mais para saber. O que a Altice pretende fazer é uma ilegalidade, promovendo descaradamente um dos maiores processos de despedimento e precarização do trabalho em Portugal, sem qualquer pejo em aliciar os mesmos trabalhadores que pretende despedir. Compete ao Governo decidir, de uma vez por todas, se o comando é mesmo da MEO.
A forma como comandamos as portas de saída diz bem sobre quem as atravessa mas também sobre quem as abre. Tanto na Europa, como nos EUA ou no Médio Oriente. No Reino Unido, a ideia fundamental que preside ao processo de negociação com a UE relativamente ao Brexit é a de que os conservadores britânicos não fazem a mais pequena ideia de como querem sair. Arrastados para um processo de dúvidas, os "tories" procuram pagar o menos possível sem saber como fazer contas, adiando as negociações que deveriam ter começado no pós-referendo. E esta parece ser a única certeza: a falta de preparação para a saída arrasta o Reino Unido para a divisão interna.
No Médio Oriente, Israel ameaça silenciar a Al-Jazeera após o primeiro-ministro Netanyahu acusar - sem prova aparente - o canal de notícias árabe de incitamento à violência. O que antes fora uma relação relativamente pacífica que permitia a Israel apresentar-se ao comando dos "trunfos democráticos", transformou-se agora numa arma de arremesso no isolamento que o mundo árabe começa a fazer ao Qatar, base da cadeia televisiva (Arábia Saudita, Egipto, Bahrain e os Emirados Árabes Unidos baniram recentemente a Al-Jazeera). Resta saber se Israel tem a pretensão de pensar que nem sequer precisa de comunicar com o mundo árabe ou se Netanyahu pretende passar mais facilmente entre a chuva corrosiva dos seus mais recentes escândalos de corrupção. Ou se a ocupação da Palestina será, longe das câmaras, convenientemente menos visível.
Nos EUA, enquanto cresce o grau de descontentamento com a sua governação, Trump recruta Kayleigh McEnamy à CNN para um autêntico canal de propaganda que faria corar o estimado líder norte-coreano. Racista, misógina, reconhecida apoiante de Trump, a comentadora abandona as "fake news" para a "twilight zone" da TRUMP TV. E da noite para o dia, entrega-nos agora as "notícias reais" ao som de uma marcha de propaganda, directamente da Trump Tower. Porque o comando também é dele.
*Músico e jurista
O autor escreve segundo a antiga ortografia
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