Chama-se André Mendonça e, como tantos
outros, foi mais uma vítima da homofobia. Tudo começou quando, por volta dos
doze anos, começou a perceber que não se sentia atraído por raparigas. Daí até
perceber que era homossexual foi só um passinho.
A sua homossexualidade moldou-lhe a
adolescência por, segundo os colegas, “ser diferente”. Na escola foi vítima de
bullying, chegando mesmo a ser ameaçado, humilhado e insultado nas aulas. Ao
não aguentar a pressão e os constantes insultos por parte dos colegas, André
decidiu abandonar a escola ficando, assim, apenas com o 11º ano concluído.
A verdade é que, se na escola as coisas
não estavam fáceis, em casa também não. Os pais não aceitaram a
homossexualidade do jovem afirmando “que pouca vergonha! És a vergonha da
família! Não tens vergonha de ser assim? Não me faças, nem eu nem o teu pai,
passar vergonhas!” Esta falta de apoio familiar fez com que André tomasse a
decisão de deixar a Madeira – local onde nasceu - e ir viver para Lisboa com o
seu atual companheiro.
Atualmente, o jovem não mantém qualquer
tipo de contacto com a família e está desempregado, sendo que é o seu
companheiro quem suporta todas as despesas de ambos.
Nesta entrevista, André fala-nos do
difícil e duro percurso que fez até aqui assim como da forma como a homofobia
está presente em toda a parte.
Com que idade e como começaste a
perceber que gostavas de pessoas do mesmo sexo que tu?
Desde cedo. Por volta dos seis anos
comecei a perceber que era diferente, simplesmente apercebia-me que não
conseguia fazer tudo como as outras pessoas. Foi algo que, mais tarde, vim a
saber tratar-se de ter nascido prematuro, com vinte e seis semanas, e ter tido
paralisia cerebral aos dois anos. Sempre tive a sensação de as pessoas me
tratarem de forma diferente. Entre os doze e catorze anos comecei a perceber
que algo em mim era diferente, que me sentia atraído por rapazes e as raparigas
não me diziam nada. Apenas aos dezasseis anos é que consegui encarar o facto de
gostar de alguém do mesmo sexo de forma positiva. Não foi um percurso nada
fácil dado que me foi ensinado, por provir de uma família cristã, que ser
homossexual era errado, doença, pecado.
A verdade é que a sociedade consegue ser
muito cruel com aquilo que considera “diferente”. Quando decidiste assumir a
tua homossexualidade perante os teus colegas e amigos sentiste que foste,
automaticamente, tratado de forma diferente?
No ambiente escolar as coisas não foram
nada fáceis. Desde a primária sempre fui discriminado por ser diferente, por
andar de forma diferente, por não fazer as coisas no mesmo timming do que os outros, por ter algumas
facilidades dado o problema de saúde aquando dos primeiros anos de vida. Quanto
à questão da homossexualidade propriamente dita, sempre fui alvo de polémica na
escola, fui vitíma de bullying desde o 5º ano até ao 12º ano. Os amigos, a
maioria deles, nunca esperavam que os ditos boatos da escola fossem verdade. Pensavam
tratar-se de uma “brincadeira de crianças infantis”. E sempre tive quase
nenhuns amigos, apenas pessoas oportunistas que queriam aproveitar-se de mim
como podiam.
E a tua família? Como lhes disseste e
como reagiram?
A primeira pessoa da família a quem
contei foi uma tia minha que me disse que isso seria um desastre, uma bomba e
que ninguém iria aceitar e respeitar-me. Que mal poderia querer que isso que
lhe dissera fosse verdade e como poderia ter eu tanta certeza por ser tão novo.
Infelizmente, não tive a hipótese de
contar aos meus pais, eles descobriram porque invadiram a minha privacidade:
não podia ter a porta do quarto trancada e um dia leram as minhas sms porque
esqueci-me do telemóvel e espiaram o que fazia no computador. Se por ventura
tivesse tido essa hipótese, a minha intenção seria guardar o segredo mais uns
anos porque desde cedo soube que não iriam saber respeitar-me e aceitar-me. Na
altura em que se debatia a legislação do casamento entre pessoas do mesmo sexo,
ouvia os meus familiares a tecerem comentários depreciativos e homofóbicos.
A reação dos meus pais quando
descobriram que eu era homossexual foi uma catástrofe: “Que pouca vergonha! És
a vergonha da família! Não tens vergonha de ser assim? Não me faças, nem eu,
nem o teu pai passar vergonhas! Pelo teu irmão não faças uma coisa
dessas!" (irmão este que não se encontra com vida, morreu à nascença e é
inadmissível os meus pais usarem o meu irmão para me demover de gostar de
rapazes). As coisas foram piorando: “Tu só gostas é de levar no cú! Devias é
levar com a comichão das urtigas! Tu não prestas, és tonto, és uma vergonha! E
quem foi que te meteu isso na cabeça?”. “Homens são homens, não são gatos!”;
“Uma pessoa por ter uma tatuagem, piercing, gostar de homens ou mulheres, não é
considerada sociedade nenhuma, é a coisa mais horrível que existe, é a podridão
do mundo”, “Isso não são pessoas, não são nada!”
Chegando ao extremo de dizer-me: “É
melhor pegares numa arma e matares os teus próprios pais, assim já ficas livre
de nós já que é isso que queres! É melhor isso do que dizeres que és paneleiro!
Só por uma gaja te ter dado com os pés, tu viraste!”.
Com o passar do tempo vieram outras
expressões: "Filho, eu quero que tu sejas como o pai diz!” ; "Esses
filhos da puta, esses paneleiros” ; “Esses amigos com quem tu andas, tens de
mudar o rumo da tua vida! Assim não vais chegar longe!” ; "Não sei o que
vês num homem, uma mulher tem tanto para dar a um homem, bem como um homem tem
tanto para dar a uma mulher! Experimenta e vais ver como é bom!” ; "Pensei
que tu eras meu amigo e gostavas de mim, não sei que tempestade vai na tua
cabeça, eu ao pé de ti até me sinto um cachorro por tu não gostares de
mulheres!” ; "Tu tens de pensar na tua vida e apenas um dia mais tarde
(aos trinta anos), quando já trabalhares e ganhares, é que podes estar com quem
quiseres e fazeres o que bem entenderes!” ; "Já é tempo de parares com
essas coisas, não tens vergonha!? Já te disse para estudares, não é para
andares a ver meninos!”; “As putas vão para a rotunda, tu não sei para onde
vais!”.
Primeiro foram as expressões, as
discussões constantes. Depois os rituais de bruxaria para me tornar hétero e me
demoverem da ideia de ser homossexual e o mais grave foi saber que me colocavam
drogas na comida para me pôr doente.
O facto de teres levado algum tempo para
contar aos teus pais e aos teus amigos fez com que tivesses de passar por muita
coisa sozinho. Como digeriste tudo isso?
Não foi mesmo nada fácil conseguir
assimilar estar coisas num curto espaço de tempo, completamente tudo fora dos
planos que eu tinha imaginado na minha mente, a vida trocou-me as voltas todas.
Tive de crescer em mentalidade, aprender a lidar com coisas que aos 15/16 anos
ninguém pensa ter de enfrentar. Cheguei até a ter uma depressão por causa da
situação toda. Não foi, de todo, fácil de aprender a aceitar-me, a ter respeito
por mim tal e qual como sou dado a educação que me foi dada na infância e dado
o facto de viver num meio em que ser gay implica viver dentro do armário.
O preconceito está em toda a parte e não
consegue não atuar. Há algum episódio em que tivesses sido vítima desse
preconceito que possas partilhar connosco?
Cheguei a ser ameaçado na escola com uma
navalha e um isqueiro. Os meus colegas de turma colocavam pioneses nas
cadeiras, vezes sem conta. Chegaram até a entornar-me uma garrafa de leite para
cima da roupa com o propósito de me humilhar e enxovalhar em plena sala de
aula.
Numa aula de Educação Física estávamos a
lecionar a modalidade de basebol e a professora mandou-me fazer de catcher, e certos colegas disseram-me: “ah, vai
lá apanhar as bolas, tu só gostas é disso, seu vadio! Não fazes nada nas aulas!
Só gostas de estar sentado e só gostas é de levar no rabo e de leitinho, não é
seu cabrão?” Fiquei com um trauma no desporto devido ao bullying passado desde
há alguns anos, relembro-me de tudo o que eu passei em pequenino e entro em
modo depressivo. Depois, as pessoas não me sabem integrar. Põem-me sempre de
parte, colocado a um canto. Sempre foi assim. E depois começam a gritar comigo,
dizendo que eu não sei jogar e que não jogo direito, e gozam comigo. Tudo
aliado ao facto de não me sentir bem nos balneários com os rapazes. No 11º e
12º tive atestado médico a Educação Física (dado os problemas de saúde que tive
à nascença). Fazer aquelas aulas para mim era uma tremenda tortura psicológica!
Foi horrível todo este processo. Acabei por abandonar a escola em Janeiro de
2014, ficando apenas com o 11º ano completo para todos os efeitos. Isto, devido
ao facto de a situação ter chegado ao limite do que aguentava e não suportar
mais a pressão psicológica tanto em casa como na escola. Estava na altura de
pôr o meu ponto final, quando para mais, eu sabia que a escola não estava
minimamente interessada em defender os meus direitos.
O que é que pesou na tua decisão de te
mudares para Lisboa?
Estava sem saber o que iria fazer,
apenas queria sair dali, daquele casulo, daquele sitio onde nada fazia sentido
e recomeçar de novo noutro local. Pesou tudo um pouco. Se me iria ambientar à
nova cidade, se ia conseguir socializar e fazer amigos, o medo de andar sozinho
principalmente à noite mas, por outro lado, sabia que iria ter liberdade para
ser eu mesmo.
Numa entrevista disseste que o teu atual
companheiro é o teu primeiro relacionamento sério. Como percebeste que era
amor?
No início, o que ambos apenas queríamos
era uma “amizade colorida” mas com o evoluir do tempo o cupido fez das suas. É
absolutamente incrível e impensável encontrar alguém com a cabeça no lugar num
site de engate muito popular, “Manhunt”. Este é daqueles sítios onde jamais se
pensa que se encontra alguém para algo sério, verdadeiro e duradouro.
É tão incrível como um "não queres
companhia para dormir?" fez o encanto daquela noite. Parece um filme, foi
no momento certo, à hora certa - Destino. Desde que o vi, senti o “clique”,
algo me disse que ali à minha frente estaria uma pessoa muito especial, com
muito para me dar: amor, carinho, amizade, etc. Pelo evoluir das coisas semana
após semana, a vontade, a necessidade de estar a falar horas e horas, o
convívio, estar frente a frente, era cada vez maior. O desejo de ter a pessoa
só para nós era notório. Desde o início, percebi que estava perante uma pessoa
com a cabeça no lugar, tendo alguma vivência similar à minha, sempre abordamos
todos os temas com maturidade, partilhando a visão, vivência e experiência de
vida de cada um de nós. São tudo coisas que nos fazem crescer, mudar e evoluir.
Estou orgulhoso de cada passo, cada conquista e cada vitória de ambos.
O que a maior parte das pessoas não
consegue entender nos casais homossexuais é o facto de se amarem porque “vai
contra a natureza humana”. Alguma vez sentiste que a sociedade olhava para ti e
para o teu namorado na rua como não sendo um “casal saudável” só por serem do
mesmo sexo?
Sim, já duas vezes. Uma quando
passávamos o fim-de-semana do dia dos namorados no Porto. Uma senhora
apontou-nos o dedo, perseguiu-nos e queria tirar-nos os sacos das compras do
supermercado. Se não fosse um grupo de idosos do outro lado da rua a mandarem embora,
não sei o que teria sido. A outra, em Portimão, na Páscoa. Um rapaz mais ou
menos da nossa idade pediu isqueiro para o cigarro, dissemos que não e seguimos
em frente. Como ele viu que estávamos de mão dada começou a seguir-nos e a
insultar-nos. Nós seguimos caminho sem olhar para trás, até ao momento em que
ele nos atira uma pedra da calçada que quase atinge a cabeça do meu namorado.
Aí aceleramos o passo mas ele continua a perseguir-nos durante mais uns quantos
metros, até que decide ir-se embora.
Achas que isso tem contribuído para o
facto de teres dificuldade em arranjar emprego?
O mercado de trabalho encontra-se muito
complicado e precário. Em parte, noto que a dificuldade se deve a não haver
quem se digne a dar oportunidades para a pessoa mostrar aquilo que vale, o seu
potencial, poder começar e evoluir para poder finalmente ter experiência
(requisito fulcral na maioria dos anúncios de emprego).
E depois ninguém está para perder tempo a ensinar alguém, querem é máquinas e autênticos robots que não falem, não reclamem e aceitem ser escravizados. É quase impossível não ter um trauma com isto. Eu acredito e sei ver que sou capaz de fazer coisas interessantes. A questão aqui é que as empresas não vêem isso e estão a borrifar-se para o resto. Não acreditam no valor das pessoas. Tenho, desde que cá estou, experimentado diversas coisas, no entanto, não houve sequer nenhuma dessas que vingasse e perdurasse. O facto de ter a condição de saúde que tenho também acaba por limitar-me e não há quem seja capaz de respeitar as limitações e incluir-me dando uma oportunidade.
E depois ninguém está para perder tempo a ensinar alguém, querem é máquinas e autênticos robots que não falem, não reclamem e aceitem ser escravizados. É quase impossível não ter um trauma com isto. Eu acredito e sei ver que sou capaz de fazer coisas interessantes. A questão aqui é que as empresas não vêem isso e estão a borrifar-se para o resto. Não acreditam no valor das pessoas. Tenho, desde que cá estou, experimentado diversas coisas, no entanto, não houve sequer nenhuma dessas que vingasse e perdurasse. O facto de ter a condição de saúde que tenho também acaba por limitar-me e não há quem seja capaz de respeitar as limitações e incluir-me dando uma oportunidade.
E por outro lado, tudo se rege em
padrões e costumes impostos, a sociedade acaba por impor “modelos” para as
profissões. Por exemplo, não podes ter maneirismos, ter um lado artístico, ter
o cabelo pintado, usar makeup ou usar roupa de um estilo diferente. É bizarro
porque penso “desde quando é que se julga o livro pela própria capa?” e “como é
que isso influência a minha prestação enquanto profissional?”. Acho que deveria
haver liberdade para podermos ser nós mesmos. Quem o faz acaba por ser logo
discriminado e posto de parte por decidir ser genuíno. Por, no fundo, teres a
coragem para seres “tu próprio” tal e qual como és, te sentes e identificas.
O que dirias às pessoas que te julgam a
ti e a tantas outras pessoas com orientações sexuais “diferentes”, afirmando
que a homossexualidade é uma doença?
A homossexualidade não é uma doença,
doença é, sim, a pequenez da mente das pessoas em quererem ser retrogradas e
massacrar os outros com idealismos e convicções baseadas em “ques”. O amor
vence tudo. Se incomoda assim tanto alguém ser homossexual e demonstrar afeto,
está mais do que na hora de abrir os olhos e ver o mundo lá fora. É desolante
ser tratado, rotulado e julgado como se fosse um produto de supermercado com um
código de barras. Doí, magoa e fere. Devemos simplesmente não impor barreiras
ao amor. Estamos em 2016, vamos andar para a frente! Trata só os outros com o
respeito que gostarias que tivessem por ti. Para amarmos alguém não interessa o
sexo, raça, religião. O que interessa mesmo é o significado do sentimento
“amor” para nós e para esse alguém. Ser homossexual não faz alguém pior ou
melhor mas sim alguém mais forte, com a vivência na primeira pessoa para o
mundo cruel que te rodeia. Quem é homossexual é uma pessoa como as outras,
também têm um projeto de vida, casar, constituir família, ser bem sucedido.
Isto é um pequeno detalhe que faz parte de nós desde a nossa existência, é uma
forma de amar tal como a heterossexualidade, é bonita, verdadeira, real,
sincera.
Consideras que teres dado a cara num
programa de televisão te permitiu abrires mentalidades e afirmares o teu
direito de seres feliz?
Sem dúvida que sim. Foi das melhores
coisas que fiz. Decidi, finalmente, que já estava mais do que na hora de
partilhar a minha história de vida, a minha vivência, por forma a inspirar
outros e a demonstrar a força e a coragem e orgulho que tenho em ser quem sou.
E também para poder contribuir para uma diminuição do preconceito e homofobia
existentes! O feedback que obtive aquando da emissão do programa foi bastante
positivo. Quem viu ficou comovido com o meu testemunho e felicitou a minha
coragem para ser quem sou sem medos.
Numa entrevista, referiste que a tua
família se esqueceu da tua existência. Até à data, nunca mais te tentaram
procurar ou estabelecer algum tipo de contacto?
Embora o tempo passasse, os meus pais
continuaram os iguais de sempre: a renegar-me, maltratar-me e criticar-me por
tudo e mais alguma coisa. Continuaram as chantagens e manipulações emocionais,
o quererem saber tudo da minha vida pessoal e íntima, sem olhar a meios. Até
que chegou o ponto de rutura, sendo que foram eles próprios que decidiram
abandonar-me e deixar-me sem chão, no natal de 2015. Quase seis meses se
passaram desde que eles me deixaram de apoiar financeiramente. Não me falam,
nem me retribuem as chamadas que lhes faço. Ignoram-me, não só eles mas todos
os familiares, como se eu alguma vez existisse. É triste, mesmo muito, mas a
vida é para a frente. Se não querem saber de mim para nada, manifesto o mesmo
sentimento para com eles e faço de tudo para seguir com a minha vida em frente.
Até à data, quer depois da ida ao programa bem como da referida entrevista, não
tive qualquer contacto por parte de algum familiar sejam os pais, bem como
tios/tias, primos/primas. Simplesmente ninguém se lembra de mim nunca, desde
que vim para cá e não vou ser eu a preocupar-me que eles existam pois só me
falam quando necessitam de algo. Família se fosse de verdade deveria de ter o
dever e preocupação de quinze em quinze dias ou de mês a mês perguntar se estou
bem, se preciso de alguma coisa, como corre a minha vida. Mas não, não querem
saber. Assim sendo, não preciso de pessoas assim na minha vida. Mais vale
esquecer, nem os consigo considerar como pais mas sim progenitores.
O que dirias aos teus pais se eles
estivessem a ler esta entrevista?
Família é todos os dias. É para sempre.
É dar apoio não importando a causa. É estar lá para o que os outros necessitam.
Sinto pena por estes seres serem incapazes de ver o que há de belo em mim. Não
há ganhos na vida sem sofrimento, aprendemos a nos tornar-nos mais fortes e
mais maduros. Quanto à família, a única que tenho tido mais perto de mim tem
sido o meu namorado, tendo este feito mais por mim do que eles a vida inteira.
A família de sangue, que esperava dignamente que me respeitasse, não o faz.
Continuam sempre a culpar os outros por aquilo que acontece, dizerem mal de
tudo e todos. Um dia vão acordar para a realidade mas aí será bastante tarde demais.
Cada um vê o que quer ver e como quer ver.
Eu, desde pequeno, sempre dei todos os
sinais que seria homossexual. Nunca ninguém quis saber disso. Ninguém foi capaz
de olhar com olhos de ver, de apoiar e tornar as coisas mais fáceis e
descomplicadas, afinal, é apenas gostar de alguém que é do mesmo sexo, não se
trata de um bicho-de-sete-cabeças tal como o encararam, o que importa é ser
feliz.
Voltando à questão do trabalho, estás
desempregado e tem sido o teu companheiro a suportar todas as despesas. Como é
que têm conseguido lidar com esta dificuldade?
A situação tem sido complicada. Não tem
sido nada fácil para mim ver o meu namorado a ter de suportar todas as despesas
e não poder contribuir em praticamente nada. O facto de estar desempregado
desde Agosto de 2015 e de ter trabalhado apenas três meses num local onde fui
explorado não ajuda em nada também. Custa entregar currículos, tentar e tentar,
bater no ceguinho e no final nada. Custa-me não ter uma solução imediata para o
problema porque seria isso que necessitava. E já cheguei à conclusão que ou
consigo um fator “cunha” ou então será complicado entrar no mercado de
trabalho.
Por fim, o que dirias às pessoas que
estão a conhecer esta tua história e de que forma gostarias que o teu futuro
melhorasse a nível profissional?
Sei que um dia vou mostrar a todos que
me tornei alguém com família, filhos, trabalho e realização. Aquilo que me
fizeram foi tão mau, mas tão mau, que me deixou marcas irreversíveis. Por outro
lado, ajudou-me a crescer em pessoa, aprendi a ser mais forte, a perceber que o
mais importante não é ter o armário cheio de roupa cara e bens materiais, mas
sim amor, carinho, amizade, e coisas que às vezes nos parecem fúteis, aqueles
pequenos detalhes mas que fazem a diferença no dia-a-dia de alguém.
Desde pequeno que fui obrigado a
cozinhar para poder alimentar-me porque os meus progenitores passavam o tempo
quase todo a trabalhar. A paixão foi crescendo e, com o passar do tempo, após
muito pensar e da insistência do meu namorado e alguns amigos, decidi criar uma
página de facebook - https://www.facebook.com/culimendarte/.
No entanto, até hoje, não tive sucesso algum e aquilo que idealizava ser para ganhar uns trocos de venda de comida não se concretizou. Em parte, dado a viver numa grande cidade e da invasão robótica nas cozinhas. Hoje em dia as pessoas já fazem de tudo em casa. Quero ter algo meu, o meu ganha pão, uma espécie de salão de chá irreverente onde possa vender os meus produtos caseiros e artesanais mas dado não ter capital próprio torna-se mais complicado conseguir seguir em frente e delinear o projeto. Acho que essa solução, se fosse possível, neste momento seria a mais viável. Caso contrário. resta-me esperar que alguma alma bondosa me consiga integrar em alguma coisa ou ajudar-me no que for possível para poder sentir-me útil, realizado e feliz.
No entanto, até hoje, não tive sucesso algum e aquilo que idealizava ser para ganhar uns trocos de venda de comida não se concretizou. Em parte, dado a viver numa grande cidade e da invasão robótica nas cozinhas. Hoje em dia as pessoas já fazem de tudo em casa. Quero ter algo meu, o meu ganha pão, uma espécie de salão de chá irreverente onde possa vender os meus produtos caseiros e artesanais mas dado não ter capital próprio torna-se mais complicado conseguir seguir em frente e delinear o projeto. Acho que essa solução, se fosse possível, neste momento seria a mais viável. Caso contrário. resta-me esperar que alguma alma bondosa me consiga integrar em alguma coisa ou ajudar-me no que for possível para poder sentir-me útil, realizado e feliz.
Terminada esta entrevista, resta-me
agradecer ao André pelo contacto e por ter partilhado connosco toda a sua
história.
Por Cátia Sofia Barbosa, aluna de
Jornalismo na UC
Mira Online | Agosto 13, 2016 às 9:58 am |
Categorias: Repórter Online
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