sábado, 25 de junho de 2016

Portugal. CONVENÇÃO DO BLOCO: O SUCESSO E O ESPECTRO

Ana Sá Lopes – jornal i, opinião

As coisas mudaram, o Bloco faz parte de uma maioria parlamentar, teve resultados eleitorais extraordinários, mas tem um espectro em cima: a Europa. 

A maior parte dos comentadores políticos, eu incluída, levou um banho quando decretou a decadência do Bloco de Esquerda, emaranhado em contradições internas, com cisões estrondosas e divisões que pareciam irreconciliáveis.

Não eram só os comentadores: dentro do próprio partido, poucos apostavam no sucesso eleitoral de um partido que depois do afastamento de Francisco Louçã parecia ter perdido a capacidade de se impor na agenda política. Numa entrevista que deu ao i na véspera das eleições legislativas, um dos fundadores do partido, Fernando Rosas, admitia que na situação em que a coisa estava era muito bom que o Bloco viesse a ter 5%. Acreditava nas “meninas” para aguentarem o barco e não o deixarem naufragar. Milagre: as “meninas” conseguiram o melhor resultado de sempre do Bloco de Esquerda. Catarina Martins impôs-se como líder – o que nunca tinha acontecido na liderança bicéfala que partilhou com João Semedo – e é hoje protagonista da geringonça que quase todos os portugueses consideravam impossível de pôr em prática. Antes, Mariana Mortágua na comissão parlamentar do BES e como porta-voz para os assuntos de economia, e depois Marisa Matias como candidata presidencial, provaram que era possível solidificar o partido depois do afastamento dos fundadores. Tinha sido Miguel Portas, numa entrevista que deu ao i dois anos antes da sua morte, a dizer que a salvação do Bloco passava pelo afastamento dos fundadores. Estava certo. 

As coisas mudaram, o Bloco faz parte de uma maioria parlamentar, teve resultados eleitorais extraordinários, mas tem um espectro em cima: a Europa. 

Na entrevista que publicamos nesta edição, Mariana Mortágua admite que o Bloco se distanciou do Syriza, que já não sabe o que é o Syriza e que nem o próprio Syriza já saberá o que é. Mas se, hipoteticamente, o Bloco chegasse ao poder como partido mais votado o que restava? Para não se tornar no Syriza, apenas sair. Esse é o espectro de que o Bloco já começa a conseguir falar.

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