Publicado em Agosto 16, 2017 |
(Escrevi este texto no DN em Novembro de 2011. Volto a escrevê-lo hoje, que um faccioso, racista e candidato o ameaçou de porrada)
O João Quadros, escritor, humorista, guionista e twitterista é, provavelmente, o homem mais livre de Portugal. Não sei se haverá alguém tão livre como o João Quadros, mas mais livre não há de certeza. Há muita gente livre no café ou à boca pequena, há muita gente livre lá em casa e muita gente livre pensadora. O João Quadros é um livre pensador, sim, mas em voz alta, no Tubo de Ensaio da TSF e à boca grande, com a ajuda do Bruno Nogueira.
Todas as manhãs, numa espécie de Krave Maga criativo, o João Quadros ajuda-nos a libertar as nossas vidas do debilitante bom senso lusitano expondo, com toda a liberdade, o ridículo que viaja pelos media e pelas nossas vidas; o ridículo dos anunciantes, da publicidade, dos políticos, dos agentes culturais, das televisões, dos clubes, enfim, das nossas mais estúpidas convenções. E, aparentemente sem tabus, pois não há quem não seja escrutinado, analisado e ridicularizado quando é essa a pena.
O João Quadros é tão livre que se libertou da última grilheta da criação que é o bom senso. Não é fácil e não é para todos, num país que dá mais valor ao bom senso e à conformidade do que à diferença e à liberdade. Mas é necessário, uma vez que foi graças ao nosso proverbial bom senso que aqui chegámos, alegremente, e é graças a ele que estamos agora, tristemente, a ir ao fundo. Com o aperto, com a austeridade com a pobreza virá o medo; com ele vai a liberdade e com ela a criatividade, que é a liberdade de opinar, de criticar, de fazer diferente, de pensar diferente, de ser diferente. E o país está cheio de medo. Os media amplificam-no e, por entre previsões de catástrofe e de pobreza, somos ainda culpabilizados de tudo, por comentadores, políticos, empresários com culpas e sem escrúpulos e que pensam como o seu dono, o estrangeiro.
Um dia destes, vai a ver-se, e a liberdade é apenas mais um subsídio que se pode cortar aos bocadinhos, um luxo de ricos que nós, os pobres católicos da outra Europa, também temos que cortar. “Pobres diabos, têm liberdade a mais e, claro, tinha que dar nisto!” pensará o alemão e o anglo-saxão. E pensam, com eles, os que por cá se julgam de lá e sente, no íntimo, que só por estranho capricho divino foram postos nesta terra. Para muitos destes, a liberdade é algo que temos a mais e que usamos irresponsavelmente.
São tempos estranhos estes onde muitos, com medo de perder os seus clientes, os seus empregos, a suas empresas, os seus investimentos, forçam as colunas em vénias e sorrisos até ao chão. São inúmeras as histórias que vou ouvindo de pressões, ameaças e chantagens, de gente sem princípios nem educação, de empresários e funcionários que se dedicam a tentar vergar quem ainda está de pé.
O João Quadros é um exemplo para todos os que trabalham na criação e na comunicação, porque não verga, porque é livre. A liberdade é um valor central que não é só da ordem da abstracção. Não, a liberdade é um valor económico na ordem dos milhões, a liberdade faz dinheiro. Para se ser criativo e fazer diferente, para inventar e, assim, criar valor, é preciso ser-se livre e sentir-se livre. Como o João Quadros, o homem mais livre de Portugal.
Fonte: Escrever é Triste
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