15/08/2017
Ana Sá Lopes
Política |
O que levou Pedro Passos Coelho a ultrapassar a linha que separa um líder civilizado de um líder xenófobo? Descaiu-se? Não queria dizer aquilo mas disse (como nos falsos suicídios de Pedrógão)?
Foi uma manobra azarada do inconsciente? Nenhuma destas explicações mais ou menos bondosas é aceitável para o discurso xenófobo que o líder do PSD fez no Pontal. A questão é que podemos estar mesmo perante uma deriva de Pedro Passos Coelho, um líder naturalmente em estado de desespero político – afinal, a situação diabólica nas secções de economia e finanças do país, que anunciou repetidamente, não só não aconteceu como Portugal teve um crescimento de que não havia registos desde o ano 2000.
A xenofobia teve resultados eleitorais nos Estados Unidos, com a eleição de Trump, e no Reino Unido, com a vitória do Brexit. Nas duas situações, o ódio ao estrangeiro que vem roubar o emprego e praticar o crime dentro das “nossas” fronteiras foi um dos principais detonadores das vitórias. O medo é um grande combustível eleitoral mas, até aqui, o PSD tinha ficado de fora dos partidos que utilizam o medo como tema de campanha. Se o CDS de Portas várias vezes utilizou esse medo, o PSD dos vários líderes manteve uma saudável distância do discurso securitário. Todavia, pelos vistos, essa distância acabou.
A frase que Pedro Passos Coelho disse no Pontal – ainda por cima errada, ou seja, o que disse não corresponde à lei – podia naturalmente ter sido produzida pelo candidato xenófobo do PSD à Câmara de Loures que, aliás, vem agora bater palmas a Passos Coelho. Recorde-se que depois das declarações de Ventura sobre a comunidade cigana, o CDS distanciou-se do candidato, mas o PSD não. “O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se esta nova forma de ver a possibilidade de qualquer um residir em Portugal se mantiver?” Esta frase de Passos sobre o “qualquer um” é um corte epistemológico. O PSD venturizou-se?
Fonte: Jornal I
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