quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Eu, Psicóloga | Coaching infantil: deixem nossas crianças serem crianças.



O coaching virou moda no Brasil. Demorou mas chegou. Em 2007 quando eu morava em Londres entrei em contato com O Coaching. Fiz um curso e no final dele tive a sensação de que estávamos tentando controlar situações e comportamentos sem entender o porque das pessoas agirem ou não agirem de determinada forma.

Não me entendam mal. Acredito que o Coaching funcione em algumas áreas da nossas vidas em em alguns momentos quando precisamos alcançar algum objetivo ou dar um rumo para a vida. Quer mudar a sua carreira? Decidir como irá fazer um projeto? Aprender a se disciplinar em algumas coisas? Perfeito. O Coaching funciona... mas para por aí.

Entendo que algumas pessoas tenham dificuldade em tomar decisões, mudarem de vida, aumentar o seu rendimento. Mas entendo que antes de tudo existe um ser, um indivíduo, com uma história de vida e com necessidades e desejos . Essas necessidades e desejos muitas vezes nos bloqueiam e adivinhem?  São inconscientes! Bem, a maior parte. Afinal, se você soubesse o que te bloqueia e como agir você iria pagar uma fortuna para alguém ? Não ! Claro que não!
E é por isso que o Coaching só funciona até certo ponto. 

Bom, mas então chegamos ao absurdo. Coaching para crianças ! Fico pensando que tipo de pais colocam os filhos para fazerem Coaching e que tipo de profissional faz isso com uma criança.

Lendo a respeito vi várias coisas e se surpreendam ao descobrirem que esses Coaching estão citando Piaget. Pegam partes da teoria, colocam no meio como base do que fazem e o resultado? Crianças deixando de ser crianças.

"A desculpa" para isso é ajudar as crianças. Veja só como relatam os objetivos :

-Geração de uma maior auto confiança, auto motivação e senso de conquista;
-Melhor relacionamento com pais, irmãos e amigos;
-Maior aceitação e tolerância no convívio com outros;
-Desenvolvimento da inteligência emocional com seus reflexos nas interações sociais;
-Desenvolvimento intelectual mais saudável;
-Senso de pertencimento e merecimento;
-Melhor entendimento sobre si mesmo e sobre seus sentimentos;
-Algumas técnicas simples, porém eficazes, para lidar com as próprias emoções.

Se você leu com calma cada objetivo acima, percebeu que algo está muito errado. Em primeiro lugar os objetivos citados acima são desenvolvidos em um ambiente familiar, saudável, onde crianças são crianças, os pais são pais e cuidam dos seus filhos e a família segue seu rumo normal.

Em segundo lugar isso é perigoso porque mais uma vez estamos transferindo a responsabilidade que é dos pais e da família para "coaches". Primeiro foram os professores, depois as babás, e agora chegamos nos coaches. 

E por ultimo não consigo deixar de pensar na pressão colocada em cima dessas crianças.  As crianças de hoje fazem tudo e mais um pouco. Atendo crianças que têm a agenda mais cheia que a minha e não têm tempo para brincarem, ficarem com os pais, muitas vezes nem para descansarem. O resultado? Posso citar um : crianças com excesso de estímulos , com ansiedade. 

É preciso repensarmos como estamos lidando com as crianças e o que queremos delas. Autoconfiança, respeito, senso de pertencimento e merecimento valor próprio, melhor relacionamento com os pais, irmãos, escola, e saber lidar com emoções, são coisas que aprendemos em casa, com nossos pais, em nossos relacionamentos com colegas, amigos. Trabalho nenhum de coaching irá prover isso para uma criança, porque isso está relacionado com o desenvolvimento infantil e familiar. Está relacionado com relacionamentos e não técnicas. 

Nossas crianças não precisam de coaching, nossas crianças precisam serem crianças, serem amadas e cuidadas. Se você ama o seu filho e ele tem alguma dificuldade ajude-o a lidar, ame-o, entenda-o e caso seja necessário, procure ajuda de um psicólogo, e não de um “profissional” que irá ensinar “técnicas” e dar “ferramentas para o seu filho. 

Debora Oliveira
Psicóloga Clínica - CRP: 06/123460

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