segunda-feira, 8 de agosto de 2016

"A paz em Moçambique não pode ser exclusiva do Governo e da RENAMO!"

O presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, reforçou a sua exigência de uma maior participação da sociedade civil nas negociações de paz em Moçambique. As delegações do governo e da RENAMO já aceitaram.
As delegações do Governo moçambicano e da RENAMO aceitaram a participação de personalidades da sociedade civil nas negociações de paz em Moçambique, informaram, nesta quinta-feira (04.08.2016) membros de organizações não-governamentais reunidas no Painel de Monitoria do Diálogo Político.

Uma das organizações envolvida nesta plataforma civil que exige a participação nas conversações é o denominado "Parlamento Juvenil", presidido por Salomão Muchanga, e que foi entrevistado pela DW África.

DW África: O que levou a sua e outras organizações a exigirem uma maior intervenção da sociedade civil no processo de pacificação do país?


Salomão Muchanga (SM): Esta ideia é uma decisão da conferência nacional Pensar Moçambique, organizada pelo Parlamento Junvenil, que teve lugar de julho, em que exigimos a presença da sociedade civil como observadora na mesa do diálogo para a paz. Estamos perante o ideal da paz, que para nós representa o sonho mais íntimo, a aspiração mais ardente dos moçambicanos. E se nós queremos uma paz sustentável e duradoira temos que envolver os moçambicanos. A paz não pode ser objeto exclusivo de dois atores, nomeadamente o governo e a RENAMO, mesmo que tenha a mediação da comunidade internacional!

DW África: Quer isso dizer que os partidos envolvidos no conflito têm-se mostrado incapazes de resolver esse mesmo conflito?

SM: Não se trata de constatar a incapacidade. Estamos, sim, a dizer que não é bastante! Precisamos de envolver todos os quadrantes da sociedade, porque a paz é a coisa mais preciosa da humanidade e de todos os moçambicanos. E a paz não é apenas de um ou dois atores. Tem que ser uma paz dos moçambicanos. E é aqui onde nós queremos entrar: precisamente fazer uma distribuição criativa dessa situação, uma partilha de poderes e responsabilidades, para que não sejam apenas dois atores a fazer a paz. Nós somos todos moçambicanos e todos nós queremos participar no processo: estudantes, mulheres, trabalhadores, religiosos! Juntos iremos encontrar um paradigma social, um paradigma político, que possa aproximar as partes e colocar o estandarte do progresso da nação com o objetivo de uma paz duradoira.

DW África: As delegações do Governo moçambicano e da RENAMO aceitaram nesta quinta-feira precisamente a participação de personalidades da sociedade civil nas negociações de paz em Moçambique, exigidas pela sua organização. Trata-se, pois, de uma vitória para a sociedade civil moçambicana?

SM: Sim. É uma grande vitória. E por isso saudamos a aceitação por parte de ambas as partes. A nossa preocupação é agora de que possamos trabalhar para que as nossas propostas, as nossas ideias, a nossa energia, sejam encaminhadas para a resolução definitiva deste diferendo.

DW África: E quais são as suas propostas, as suas ideias concretas para fortalecer o diálogo?

SM: A proposta e a ideia imediata que o Painel de Monitoria do Diálogo Político para paz emite é que se chegue rapidamente à trégua e que se volte à mesa de negociações num ambiente suadável e numa base ética favorável ao processo. Esperemos que todas as ideias que temos sejam sistematizadas, para que no decurso deste processo de diálogo possam ser apresentadas às duas delegações e aos mediadores internacionais.

DW África: Quais serão os passos seguintes preconizados pela sociedade civil moçambicana?

SM: Vamos continuar com a pressão. Vamos aumentar a pressão a nível nacional. Há um movimento nacional de pressão! Já no dia 27 de agosto vamos realizar na capital do país (Maputo) uma “marcha popular pela paz”. Trata-se de um aumento de exaltação do estímulo de cidadania, para que se compreenda o valor da cultura de paz! Será o momento certo em que todos os moçambicanos poderão gritar em uníssono: basta!

António Cascais – Deutsche Welle

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