Com o relógio a esgotar o prazo dado ao Kremlin pela primeira-ministra britânica para fornecer explicações sobre o envenenamento do espião russo Sergei Skripal e da sua filha, os aliados de Londres começam a chegar-se à frente para fechar o cerco à Rússia. União Europeia, Alemanha e Estados Unidos condenaram a ação contra o antigo agente e exigem respostas, com os russos a avisarem que a tentativa de aproveitamento do caso para ensombrar a realização do Mundial de Futebol do próximo Verão, organizado no país, não é um fator positivo no relacionamento entre os dois países.
Depois de levar o caso ao Parlamento britânico, considerando que a tentativa de homicídio de Sergei Skripal, a 4 de março, constitui um ataque "indiscriminado e imprudente" contra o Reino Unido, a primeira-ministra Theresa May deixou claro que é convicção do governo britânico que Moscovo está ligado a este episódio.
Foi nesse sentido que estabeleceu o final desta terça-feira como prazo final para que o Kremlin forneça explicações sobre o caso, deixando antever a possibilidade de um agravamento de sanções anteriormente impostas contra cidadãos russos após o homicídio de Alexander Litvinenko. O embaixador russo em Londres, Alexander Yakovenko, foi convocado para fornecer essas explicações, mas Moscovo mantém a ideia do Presidente Vladimir Putin: não temos nada a ver com o assunto, investiguem e depois falamos sobre isso.
“Na quarta-feira vamos analisar ao detalhe a resposta dada pelo Estado russo”, sublinhou a chefe do Governo britânico, acenando com a possibilidade de avançar com “medidas mais amplas” do que aquelas que foram tomadas no passado.
Aliados de Londres fazem-se ouvir
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, tem sido uma das vozes mais críticas dentro do Governo britânico. Foi do chefe da diplomacia que ouvimos pela primeira vez a possibilidade de Londres condicionar a participação de Inglaterra no Mundial de Futebol marcado para este ano na Rússia.
Boris Johnson faz agora saber que Londres não está isolado na posição contra a Rússia, tendo desenvolvido contactos com aliados de quem recebeu o apoio no âmbito desse dossier: “Fui incentivado pela vontade dos nossos amigos de nos manifestarem o seu apoio e solidariedade”.
E esta terça-feira começaram, de facto, a chegar as manifestações dos Estados Unidos, da Alemanha, da Nato e da União Europeia, bloco de quem Londres deverá desligar-se em 2019, mas com o qual pretende manter laços a nível da cooperação e segurança.
“O Reino Unido é um aliado altamente valorizado e este incidente levanta forte preocupação”, referiu o secretário-geral da Aliança Atlântica.
O secretário de Estado Rex Tillerson foi a voz dos norte-americanos – eles próprios a braços com o seu dossier russo – nesta matéria: trata-se de um “acto flagrante... claramente veio da Rússia” e tem de haver aqui “consequências graves”.
“Concordamos que os responsáveis – tanto os que cometeram o crime como os que o ordenaram – devem enfrentar as consequências”, declarou Tillerson.
Também a União Europeia veio já cerrar fileiras, com uma declaração do vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, a deixar claro que a tese do envolvimento russo colheu em Bruxelas: “Estamos muito preocupados com esta situação e também com os resultados da investigação britânica até ao momento”.
Questionado sobre o apoio da União a novas sanções contra Moscovo, Dombrovskis foi claro: “O Reino Unido pode contar com o nosso apoio em relação a isso”.
Resposta conjunta do Ocidente
Um aliado próximo da chanceler Angela Merkel sublinhou entretanto que o assunto exige uma resposta colectiva do Ocidente, caso a Rússia decline essas justificações para o que foi uma tentativa de assassinato com o uso de um agente químico criado pelos russos.
“O comportamento do governo britânico é racional [e] a descoberta de uma substância militar russa significa que a Rússia não pode recusar a cooperação no esclarecimento desta questão”, apontou Norbert Roettgen, presidente da comissão parlamentar de assuntos externos da Alemanha, em declarações registadas pela Reuters.
“Se a Rússia não cooperar, deve haver uma resposta conjunta do Ocidente”, concluiu Roettgen.
Com os ponteiros a avançar no relógio, não há até ao momento qualquer indício de que Moscovo venha a aceder a essa convocatória para ajudar a explicar o envenenamento de Skripal e da sua filha.
O Kremlin mantém-se para já acantonado no papel de vítima, denunciando as ameaças britânicas de boicote do Mundial de futebol: ”Queremos sublinhar uma vez mais: estas declarações provocadoras, que alimentam a histeria anti-Rússia, apenas vêm complicar as relações entre os dois países. E são um ataque ao desporto”, verberou o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov.
Fonte: RTP Noticias
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